A entidade cerebral que se pretende constituir na Província do Grande ABC, e cuja primeira reunião à formulação de eventuais estudos está programa para 15 de abril, não pode errar. Não é jogo de palavras dizer que se trata de uma bala de prata. Os formadores de opinião chamados a responder sobre a atuação de entidades empresariais, sindicais e sociais há três anos, numa consulta que fizemos com os então conselheiros editoriais desta revista digital, reprovaram largamente a ação daquelas instituições. Não tem sentido, portanto, mimetiza-las.
Há três anos perguntamos aos conselheiros editoriais de CapitalSocial, instância que está em banho-maria há bom tempo (porque a Província não sai da pasmaceira de sempre) sobre a avaliação que teriam das atividades de entidades empresariais, sociais e sindicais. Mais de 100 formadores de opinião participaram do trabalho – mais precisamente, 123 – e os resultados coincidiram fortemente com a linha editorial que adotamos há muito tempo: para 68% dos consultados, as entidades de classe empresarial “são apenas corporativas, olham para o próprio umbigo”; para outros 65%, as entidades sindicais “estão muito aquém do que a sociedade regional necessita”; e para 45% dos consultados, as entidades sociais “não saem dos próprios casulos, sem se incomodar com a sociedade”.
Esses foram os maiores índices de preferência dos formadores de opinião que responderam ao questionário formulado por este jornalista. Cada enunciado oferecia três respostas alternativas, a primeira de cenário cor de rosa, a segunda de estado de alerta e a terceira completamente desabonadora. Em todas as questões as respostas mais escolhidas foram de cenários de alerta, que também podem ser entendidos de desconsolo. Creio que as entidades sociais só alcançaram aprovação de 35% dos consultados porque há alguns nichos importantes para a sociedade, embora de forma menos contundente do que poderiam ser, no caso os clubes de serviços.
Acisa em falta
Ora, bolas, diante de um quadro como o que estamos reproduzindo, e que deve ser mais grave atualmente porque os últimos três anos não foram senão de rastejamento institucional declarado, com entidades de classe como a Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André) partilhando de uma gestão medíocre como a de Carlos Grana, em Santo André, diante desse quadro é natural que o grau de inconformismo seja elevado.
Vou tentar contribuir dentro das possibilidades típicas de individualidade a serviço do coletivismo para que a entidade cerebral saia do projeto e entre em campo de jogo para valer. Serei hipócrita se disser que estou plenamente confiante numa reviravolta institucional. Não é fácil organizar e administrar uma entidade numa área tão conflagrada por interesses mesquinhos como a Província do Grande ABC, na qual as pressões de forças políticas, administrativas e econômicas se agigantam ante qualquer tentativa de reduzir a carga de mandonismos e de cartas marcadas.
Já tenho, inclusive, informações de que essas forças da vanguarda do atraso e da malandragem já estão agindo para impedir que o encontro programado para 15 de abril tenha número substantivo de voluntários.
Mal sabem esses prevaricadores éticos que, diferentemente dos tempos de glória e fracasso do Fórum da Cidadania, última e frustrada experiência social de vulto na região, quantidade é o que menos interessa, sob o meu ponto de vista, à entidade cerebral. Meia dúzia, literalmente, de agentes sociais decididos a enfrentar os desafios que estão mais que sedimentados na região, seria suficiente para dar pontapé inicial a uma empreitada que haveria de seduzir novos missionários.
Instâncias incorrigíveis
Sou completamente descrente sobre as possibilidades de uma parcela sequer das atuais instâncias da região organizar e desencadear uma jornada de transformações sociais e econômicas. O modelo corporativo que as caracteriza inibe medidas restauradoras de cidadania regional porque há interesses em conflito e uma amarração estatutária propositadamente castradora de iniciativas que fujam à mesmice de décadas. Nada mais mentiroso e enganador, porque não faltam bastidores para articulações pecaminosas.
Preferirei mil vezes engolir a seco a possibilidade de uma deserção coercitiva ou não de eventuais integrantes da entidade cerebral de que tanto necessitamos a fazer um jogo de cena em que um suposto sucesso de público e de bilheteria tenha como contraponto pagar o preço de adoção de conservadorismo covarde que se juntaria à inapetência corporativa da maioria das entidades de classe empresarial e sindical.
Se é para ficar na mesma, dando a impressão de que há algo de novo na praça democrática de manifestações organizadas, o melhor é cortar o mal pela raiz. A entidade cerebral com que sonho e da qual, insisto, não serei mais que um participante ativo, não pode fraquejar em instante algum na formulação das diretrizes que darão o tom nos tempos seguintes. A bala de prata está posta, para horror dos bandoleiros de plantão.
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11/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (32)