Ainda estou dando tratos à bola para produzir material mais denso. Tivesse o dia todo livre para escrever, garanto que o texto já estaria pronto. Mas os contratempos acabaram por adiar a análise, embora não a abortasse inteiramente. Tanto que não tem sentido o foguetório sobre os números do PIB (Produto Interno Bruto) do Grande ABC no contexto nacional, após o anúncio oficial do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O principal foco escolhido para este artigo é a contínua queda da principal economia local no ranking nacional, um retrato sem retoque da situação regional. No Campeonato Brasileiro de Geração de Riqueza. São Bernardo caiu para o 12° lugar. Os demais municípios da região seguiram a mesma rota de declínio, sempre que se compara a economia do Grande ABC de 2007, que reúne os últimos dados do IBGE, com a de 1970. São Bernardo era a quinta colocada quando o Brasil ganhou o título de tricampeão mundial de futebol.
Não esperem maiores informações numéricas neste texto porque não costumo escrever sem fechar todas as possibilidades de escorregões. Certo mesmo e que dispensa maiores investigações, até porque já tenho em mãos calhamaço de matérias que produzi ao longo dos anos para a revista LivreMercado (não confundir com a pobre “Deus me livre” que, dizem, ainda circula no Grande ABC) que me assegura confortável posicionamento crítico.
O que estamos observando nos últimos anos sob o comando federal de Luiz Inácio Lula da Silva e incentivos à produção automobilística é que o Grande ABC vem conseguindo segurar níveis de participação relativa no bolo nacional de geração de renda e riqueza.
Manter o nível de participação relativa não é tudo que possa ser cantarolado em verso e prosa como redenção do período mais complicado de nossa história, que, todos sabem ou deveriam saber, registrou-se no governo dinamitador de Fernando Henrique Cardoso. Sem contar que há número cada vez mais volumoso e importante de contestadores internacionais do conceito de PIB, que poderia ser simplificado para efeito de entendimento como a contabilização da indústria de quentinhas para presidiários como alguma forma influente nos resultados finais. Supostamente, uma cidade que dependesse em larga parcela de produção de alimentos para presidiários registraria PIB muito maior que uma cidade vizinha dedicada à cultura.
Mas, voltemos ao foco da questão: sustentar o nível de participação não quer dizer muita coisa além de sorriso conformista. Fomos ao fundo do poço da desindustrialização no período pós Plano Real, embora os ataques ao nosso vigor industrial, centro nervoso da estabilidade econômica do Grande ABC, tenham-se iniciado um pouco antes, no governo Fernando Collor de Mello e também durante a gestão de governadores do Estado que, sob o pretexto caolho de desincentivar a ocupação industrial da Grande São Paulo, esqueceram o outro lado da moeda de sustentabilidade social.
Querem pior resolução para um problema de ocupação de espaço em apartamento apertado que atirar janela abaixo o televisor de LCD, a mobília recentemente adquirida, a geladeira novinha em folha, em vez de redefinir os espaços internos com planejamento? Pois foi o que fizeram os governos paulistas nas últimas três décadas; deixaram a Região Metropolitana de São Paulo ao deus-dará ao mesmo tempo em que incentivaram a evasão industrial sem o menor critério de contrapartidas.
Já coloquei na agenda do final de semana uma vasculhada nas informações sobre os novos números do PIB brasileiro. Vou rastrear também tudo o que já escrevi ao longo dos últimos 20 anos. Antecipo com a segurança de quem não despreza a memória intangível mas prefere mesmo as provas documentais que o foguetório que soltaram não se justifica. Exceto se o conceito de manutenção do posto de quarto colocado no ranking nacional, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, for colocado no altar da satisfação absoluta.
Até mesmo essa quarta posição (e não terceira como deu em manchete na edição desta quinta-feira o Diário do Grande ABC), contrariando o próprio texto, não é a verdadeira e insofismável colocação do PIB do Grande ABC. Afinal, se consideramos para análises gerais os sete municípios como endereço único (e concordo plenamente com isso para efeitos econômicos, não institucionais), não é sensato utilizar dois pesos e duas medidas porque a Grande Porto Alegre, a Grande Belo Horizonte, a Grande Coritiba e a Grande Salvador, por exemplo, também deveriam ser interpretadas como megacidades.
Para completar parcialmente minha investida neste assunto, lembro que, quando o Brasil ganhou a Copa do Mundo em 1970, a participação relativa do Grande ABC no Campeonato Brasileiro de Geração de Riqueza alcançava 4,57%, contra 2,45% de 2007. Números expostos desta forma parecem frios demais. Por isso recorreremos a alguns exemplos do que ficamos para trás. Como se a queda de São Bernardo do quinto para o 12° posto não fosse já suficientemente preocupante.
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12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES