Na próxima segunda-feira vou voltar a escrever sobre a política editorial do Diário do Grande ABC durante (e sobre) o regime militar. Há novas informações a repassar e eventuais incursões analíticas a expor. Os desdobramentos são naturais. Nem poderia ser diferente. O título que formulei à matéria publicada nesta semana (“Ditadura militar” não existiu no Diário. Até prova em contrário) significa um portal à democratização de posicionamentos e ideias, não o encarceramento arbitrário de interpretações.
O jornalista Milton Saldanha atuou no Diário do Grande ABC nos dois períodos mais abrasivos do regime militar. Ou seja: quando da implantação das medidas contrapostas ao governo de Jango Goulart e, no extremo oposto, de movimentação em torno da abertura política, nos anos 1980. Milton Saldanha é experiente, militou nos movimentos de resistência e reúne informações importantíssimas sobre a atuação editorial do Diário do Grande ABC como veículo de menor importância estadual e nacional nos tempos de News Seller e de relevância metropolitana incontestável na reta de esgotamento dos militares.
As manifestações de Milton Saldanha são oportunas e elucidativas. Reservo tudo para segunda-feira. Na matéria que assinei na última segunda-feira não chego a afirmar peremptoriamente que o Diário do Grande ABC dos tempos do regime militar não foi o que a matéria publicada na edição de domingo do jornal sugeria, ou seja, uma fortaleza de resistência. Mais que isso: sugiro de forma discreta, com base no livro “Editorais”, do jornalista Fausto Polesi, fundador e diretor de Redação daquele jornal, a existência de um fosso de sustentabilidade à atuação expressa pela edição de domingo do jornal.
Leituras apropriadas
Para tanto, recorri à leitura de todos os artigos daquele livro que faziam referência ao regime militar, tratado por Fausto Polesi como “governo revolucionário” ou “Revolução”, jamais como “ditadura militar”. Não é minha intenção, nesse caso, estabelecer juízo de valor desabonador sobre as linhas traçadas pelo diretor de Redação. Ante aquela situação político-constitucional, revelava-se espinhosa a duplicidade de função, de empresário e jornalista. Fausto Polesi atuou dentro dos limites de razoabilidade, dos quais, provavelmente, também este jornalista não abriria mão. Até porque, Fausto Polesi representava apenas um naco das ações da empresa que ajudou a criar, certamente com liberdade vigiada no comando da redação, assim como os demais nas respectivas searas de distribuição de funções.
Mas não é especificamente sobre novos lances da conduta editorial de Fausto Polesi que pretendo escrever na próxima segunda-feira. Vou me fixar nas duas mensagens eletrônicas enviadas pelo jornalista Milton Saldanha, autorizadas à reprodução neste espaço.
É claro que também gostaria de receber mensagens senão explicativas, porque isso pareceria coercitivo, mas colaborativas, dos autores dos textos de domingo do Diário do Grande ABC. Ademir Medici, um irmão camarada, e Evaldo Novelini, poderiam se juntar ao adensamento do temário. Como memorialista respeitável, desses que conferem ampla credibilidade a cada parágrafo, Ademir Medici saberá contextualizar aquele material jornalístico aos entrechoques de debates que poderiam ser estimulados porque representariam o aprofundamento investigativo da linha editorial da publicação mais tradicional da região.
O surgimento de Milton Saldanha fortalece o diálogo social que indelevelmente os jornalistas precisam manter com a sociedade consumidora de informações.
Para completar, uma provocação: notaram os leitores que sempre me refiro ao intervalo de arbitrariedades no País como “regime militar”? Não pretendo esmiuçar agora subjetividades e objetividades da expressão, mas não está fora do horizonte o salto do muro da conveniência estratégica.
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11/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (32)