Nenhuma surpresa no noticiário dos jornais impressos e digitais: a derrocada da indústria paulista no ranking brasileiro nos últimos 12 anos, igualmente nada esmiuçada pelo IBGE (Instituto Nacional de Geografia e Estatística), segue ritual fúnebre do jornalismo de mesmices. A queda relativa de 20% da indústria de transformação no período foi engolfada pela estabilidade geral do macroindicador nos últimos três anos.
As redações, e até mesmo as melhores redações, cumpriram burocraticamente a missão de informar. Isso significa que serviram prato feito, apenas. Feito pelo IBGE, evidentemente.
Enfoques variados mas sempre da espessura analítica de um aparelho de televisão de tela plana saltam dos computadores, reproduzindo enfoques dos jornais impressos em todo o Brasil. Não se vai além da reprodução pouco didática dos números do IBGE. E quando se vai, muitas vezes se escorrega no tapete vermelho da acomodação e do repasse impassível de informações.
Para onde se direcione a busca do noticiário na mídia de todos os Estados brasileiros, o enfoque não supera os limites do relatório do IBGE, disponível no site da instituição. A estadualização do noticiário não corresponde a aprofundamento histórico.
As redações gozam de todas as facilidades tecnológicas para agregar valor às informações, mas o compromisso com o horário de fechamento editorial, quadros enxutos, inquietos e inconscientemente doutrinados à operação padrão típica de tecnocratas, não de jornalistas, empurram a qualidade com a barriga.
Não pretendia individualizar o tratamento jornalístico dado ao noticiário do IBGE, mas não resisto ao ler a manchete de página interna do Estadão: “São Paulo mantém fatia no PIB do País”. O infográfico não deixa o jornal mentir, porque nos três últimos anos os 33,9% de participação paulista estão lá mais que assegurados.
A estrutura de formação setorial do PIB, grande nó em qualquer tipo de análise que pretenda sair do lugar comum, são outros quinhentos. E nesse ponto ninguém se dá conta de que de fato são disputados três torneios em paralelo, nos setores de agropecuária, indústria de transformação e serviços, até que se conheçam os números finais.
O PIB paulista tem se sustentado desde 1995, vistos os números do IBGE, graças ao setor de serviços, principalmente de concessionárias de serviços públicos, e nas atividades financeiras. A indústria de transformação, como mostrei no texto “Paulistas na rabeira” está mais que claudicante. Nem mesmo a recuperação dos últimos anos, quando o governo brasileiro fez o PIB bombar num cenário de tranquilidade macroeconômica, atenuou a queda no curto prazo. É isso que o Estadão e tantos outros jornais não enxergam.
A discussão do PIB nacional e suas variáveis não deveria ser observada como pauta que foge da regionalidade do Grande ABC. Tivéssemos o mínimo de organização estratégica, um grupo de representantes das prefeituras locais se debruçaria sobre números e peculiaridades de cada unidade da Federação para aprofundar estudos na definição do ponto de equilíbrio de inspiração para remover os obstáculos que sistematicamente impedem o soerguimento da indústria de transformação local.
É claro que é mais fácil acreditar no Papai Noel do trecho sul do Rodoanel como resposta às demandas. Tem-se a impressão que, mais que Papai Noel, o trecho sul do Rodoanel é pó-de-pirlimpimpim que transformará os gargalos de produção e de produtividade do Grande ABC em oásis de fertilidade industrial. Quem sentar nessa caranga de ilusionismo vai perceber que os motores já não respondem às necessidades de velocidade de crescimento — com todas as consequências que isso implica.
Seria demais mesmo esperar que administrações públicas do Grande ABC dotassem as respectivas secretarias de desenvolvimento econômico de ferramentas prospectivas à captação detalhada do cenário nacional se no campo municipal e principalmente regional o mapeamento dos negócios é um imenso ponto de interrogação.
O Poder Público do Grande ABC não tem tradição de dar às secretarias de desenvolvimento econômico a mesma ênfase, a mesma dedicação e a mesma prioridade de outras pastas. A situação difere completamente de endereços do Interior do Estado que fazem reluzir a pasta nos respectivos organogramas.
Por isso, missões lideradas por executivos públicos continuam a frequentar instalações industriais da Região Metropolitana de São Paulo, com agendamento prévio. Eles chegam extremamente escorados em discurso, em dados estatísticos e em técnicas de sedução para transferirem empresas determinadas a rebaixar custos e a contar com colaboradores menos estressados pelo cotidiano massacrante da paulicéia desvairada e seus satélites gataborralheirescos.
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12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES