Vamos publicar amanhã nesta revista digital uma Entrevista Especial sobre um ponto editorial que decidimos tornar o mais transparente e elucidativo possível: afinal, qual foi o comportamento-padrão do Diário do Grande ABC durante o regime militar? O jornalista Milton Saldanha, 68 anos, trabalhou durante três períodos distintos no jornal fundado por Fausto Polesi, Edson Danillo Dotto, Maury de Campos Dotto e Ângelo Puga. Tudo isso o credencia, muito mais que eventuais pesquisadores apressados e doutrinados a dourar a pílula, a falar sobre o assunto. Mas Milton Saldanha tem outros atributos.
O jornalista também foi chefe da Sucursal do ABC da Agência Estado, uma máquina de produção e distribuição de noticia para a mídia nacional. Também atuou na TV Globo, entre outros veículos de comunicação. Aos 18 anos, Milton Saldanha era estudante e iniciava no jornalismo em Santa Maria, Rio Grande do Sul, trabalhando num jornal que apoiava João Goulart e Leonel Brizola. O jornal foi invadido pelos militares, fechou por um tempo e Milton Saldanha teve que se esconder. Foi o começo de uma vida e de uma carreira ligadas o tempo todo à luta contra o regime militar.
Pois é esse o jornalista que ouvimos. O que ele dirá sobre o comportamento editorial do Diário do Grande ABC durante os períodos em que trabalhou na publicação, um dos quais nos momentos que marcaram o movimento das Diretas Já? Tudo vai ficar para amanhã, terça-feira. Valerá a pena esperar.
CapitalSocial entende que o Diário do Grande ABC dispensa suposta resistência ao regime militar para enriquecer uma história de desbravamento editorial que vai completar 56 anos nestes 11 de maio. Dizer como foi dito, ou melhor, escrito, em matéria publicada na edição de 20 de abril, que o Diário do Grande ABC desafiou o regime militar não é só um exagero, é uma fantasia, uma proposta para conduzir o temário às páginas de literatura ficcional.
Será que Milton Saldanha, o jornalista perseguido pelos militares, tem interpretação diferente da de CapitalSocial? Ele, um resistente ao regime militar, colocaria o Diário no mesmo patamar de desafios? Sim, porque a matéria do Diário insinua esse paralelismo de forma redentora.
Assumir o erro
A Entrevista Especial com Milton Saldanha, encaminhada no final de semana em forma de e-mail, não terá qualquer inferência semântica de CapitalSocial no espaço de abertura, de apresentação, chamado tecnicamente de “lide”. Em oposição a tantos outros trabalhos editoriais semelhantes, e refugando circunstancialmente o conceito de jornalismo com personalidade editorial, CapitalSocial se limitará a apresentar a Entrevista Especial de forma suficientemente distante para que não se tente lhe imputar algum vício de origem avaliativa. Deixaremos para o dia seguinte, em texto específico, uma análise sobre as declarações de Milton Saldanha.
O Diário que festeja aniversário nesse dia 11 não pode repetir um enunciado flagrantemente em desacordo com sua própria história. Negar a história com fantasia atinge diretamente a credibilidade de uma publicação. Pior que corrigir uma falha, normal na atividade de comunicação, é utilizar-se de marotagens semânticas para ludibriar os leitores. Tomara que o Diário do Grande ABC não chegue a tanto, embora não tenham faltado insinuações nesse sentido em mensagens trocadas informalmente entre este jornalista e um dos autores da matéria mais que polêmica, insustentável.
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11/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (32)