Imprensa

Diário faz aniversário domingo.
E a barrigada da “ditadura”?

DANIEL LIMA - 07/05/2014

O Diário do Grande ABC completa 56 anos de circulação neste domingo, 11 de maio. Contabilizam-se os 10 anos de News Seller. Os fundadores da publicação, todos fora da administração há pelo menos 10 anos, merecem respeito pelo arrojo, dedicação e empenho em construir a publicação mais tradicional da região.


 


Nada, entretanto, mais apropriado que comemorar 56 anos de forma ética. A fantasia de que o jornal teria desafiado o regime militar não pode passar em branco na edição de domingo, porque é recente, de 20 de abril, retirado de intempestiva conclusão dos jornalistas Ademir Medici e Evaldo Novelini. O que fazer ante a situação?


 


Para não dizerem que não sou colaborativo, justamente eu que naquela casa estive durante 16 anos e na qual ocupei todos os cargos possíveis de redação, apresento as seguintes alternativas no sentido de que o bom senso permeie a edição de 56 anos com a escolha da mais óbvia, lúcida e sensata, a qual mostraria componente de responsabilidade social que se espera a cada nova manhã que o jornal chega aos leitores:


 


1. Que o jornal assuma publicamente ter se precipitado ao se autoproclamar desafiador do regime militar, ou da “ditadura militar”, como apontou aquela reportagem de 20 de abril. Nada melhor que declarar, com todas as letras que, levando-se em conta pré-requisitos definidores de política editorial, jamais e em tempo algum sustentou escaramuças contínuas e marcantes com os governos autoritários.


 


2. Que o jornal, constrangido por ter sido colhido em delito informativo, ou em descuido informativo, simplesmente se omita no esclarecimento exigido pelos leitores mais críticos, esquecendo o que publicou em 20 de abril e jamais, jamais mesmo, tocará no assunto incômodo.


 


3. Que o jornal, desprezando aqueles que não são ingênuos nem burros, muito menos idiotas e covardes, ou descuidados e descerebrados, volte à carga e procure intensificar manipulação de informações com semânticas e seletividades a provar histórico de resistência ao regime militar, ou à “ditadura militar”.


 


Façam suas escolhas


 


Qual dessas alternativas será escolhida pela direção editorial do Diário do Grande ABC na edição especial de aniversário deste domingo? Façam suas apostas, leitores.


 


Quem quiser saber deste jornalista uma opinião sincera sobre o desenlace não necessariamente final, diria que, pela conotação de trocas de e-mails recentes, o Diário do Grande ABC seguirá com mistificação suicida.


 


Acreditar que o Diário do Grande ABC pautou a política editorial pela resistência durante o período de caça às liberdades democráticas tendo tido como teve um comando empresarial e, sobretudo, um diretor de Redação, Fausto Polesi, alinhado à centro-direita, tem sentido semelhante a sugerir que o gorducho Leandro Hassum, humorista global, vai disputar para valer, com aquela pança toda, a Maratona de Boston.


 


Tenho cá comigo que o Diário estaria reservando para a edição de aniversário deste domingo uma reportagem em que vai pinçar notícias publicadas durante determinados períodos, as quais dariam conta da pluralidade ideológica, tentando nos fazer crer que uma coisa e outra coisa são as mesmas coisas.


 


O que quero dizer é que pluralidade nas páginas do jornal não tem nada a ver com uma cruzada contra determinado regime político. Um artigo qualquer de um sindicalista ou uma notícia relatando uma greve não configura e jamais configurará alinhamento a determinada causa. Muitas vezes não passam de insumos à desqualificação nos editoriais. O que pesa na definição de uma linha de desempenho informativo de jornal é o posicionamento editorial clássico.


 


Editoriais confessionais


 


Como já escrevemos aqui, Fausto Polesi, jornalista sério que combateu a corrupção principalmente no setor público durante toda a carreira, e retratou essa preocupação no livro “Editoriais”, lançado em 1982, jamais e em momento algum dedicou ao regime militar a acidez e o inconformismo destinados, por exemplo, à Administração Lincoln Grillo, em Santo André. Tanto que se referiu ao movimento que em 31 de março despojou João Goulart dos poderes presidentes como “governo revolucionário” ou “Revolução”. Jamais se utilizou de “ditadura militar” ou expressões equivalentes.


 


A reportagem que o Diário do Grande ABC publicou em 20 de abril colide com os princípios de clareza, objetividade, isenção e correção. Está completamente fora da órbita de esclarecimento. Foram pinçados alguns parágrafos sobre a suposta resistência do Diário do Grande ABC ao regime militar, mas uma leitura atenta dinamita os pressupostos dos autores.


 


A transcrição entre aspas de alguns trechos do material exposto como prova de bravura do jornal não ultrapassa o corredor da objetividade. Selecionar trechos em detrimento do contexto da íntegra do material e do contexto que o envolve é uma maneira de corromper a legitimidade da informação. É algo como supor que o queixoso detentor de um dedão ferido num jogo de futebol seja o proprietário de um corpo a ser exumado.


 


Esperar é melhor


 


Muito teria a escrever hoje nesse novo capítulo sobre a pretensa resistência do Diário do Grande ABC ao regime militar, principalmente após a Entrevista Especial publicada ontem neste espaço com o jornalista Milton Saldanha. Entretanto, vou aguardar a edição de domingo do jornal para voltar ao assunto. Estou apostando na alternativa da mistificação, mas ganha corpo também a possibilidade de o jornal esquecer um assunto tão desastradamente colocado à mesa. Reconhecer o erro informativo é a última possibilidade na escala de projeções.


 


Só faltava o Diário do Grande ABC informar aos leitores que atuou duramente também contra o esvaziamento econômico da Província do Grande ABC quando, de fato, se aliou aos mistificadores públicos e privados para tentar encobrir o persistente esgotamento industrial denunciado e analisado pela revista LivreMercado, então sob meu comando, e também por esta revista digital.


 


A “barrigada” da “ditadura militar” do Diário do Grande ABC não é algo que ocupe as últimas posições na escala de valores informativos do jornalismo regional porque, não fosse contestada, poderia soar como verdade absoluta e, pior que isso, histórica. O furo nágua apontado por CapitalSocial se reveste de obrigação funcional, mesmo que isso custe estremecimento nas relações com um profissional respeitado como Ademir Medici, a quem a Província do Grande BC deve muito, muitíssimo, pela prospecção do passado. 


 


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