Iniciamos em 10 de agosto esta microssérie com a advertência de que há gente espertalhona metida no Pólo Tecnológico acionando trombetas como se o assunto fosse novidade. Recorremos a uma matéria produzida há quase 13 anos, quando entrevistei Maria do Carmo Romeiro, então coordenadora do Inpes, braço de estudos do Instituto Municipal de Ensino de São Caetano, o Imes que virou USCS. Vamos avançar agora no tempo e chegar a 1998.
Não sei quem escreveu a matéria para a revista LivreMercado (LivreMercado é dos tempos de comando deste jornalista, não essa coisa provinciana e bajulativa que, desde março deste ano, virou Livre Mercado), mas o conteúdo ilumina a visão regional neste momento sobre os caminhos que devem ser percorridos quando o Pólo de Tecnologia for debatido para valer.
Naquela edição de agosto de 1998, portanto há exatamente 11 anos, a entrevista com Armando Laganá foi providencial. Vivia o Grande ABC momento aparentemente mágico de integração regional. Armando Laganá representava a Secretaria da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo na Câmara Regional e advertia sobre o seguinte:
“No curto prazo, é indispensável resolver a questão da infra-estrutura do Grande ABC, com ênfase para o barateamento da água industrial e melhoria do sistema viário, mas o corte de modernidade que a região persegue para médio e longo prazo será dado pela tecnologia. Sem fazer da competência tecnológica um grande diferencial, será difícil ao Grande ABC ganhar altura e competitividade” — disse.
Pensando bem, se me permitem um parêntese os leitores, percebo o texto que acabo de reler e de adaptar a este espaço é de Malu Marcoccia, uma das mais brilhantes profissionais que passaram por LivreMercado, depois de, experiente, atuar também no jornal O Globo, entre outros títulos importantes.
Voltando ao Pólo Tecnológico, uma lição que o Grande ABC desprezou e que agora tenta recuperar com novos agentes, vários dos quais com credibilidade técnica e intelectual mas alguns outros que não passam de fazedores de onda política, eleitoral ou mesmo corporativa, porque são velhos conhecidos do pedaço regional.
Armando Laganá disse naquela entrevista o que o tempo tratou de comprovar como frustração: na disputa aberta desencadeada pela globalização, o parque econômico regional só encontraria saídas em Centros de Pesquisa e Desenvolvimento de novos produtos ou, no caso de pequenas empresas, em Centros Setoriais de Apoio e Difusão Tecnológica. Disse mais: as novas Empresas de Base Tecnológica (EBTs) seriam abraçadas por incubadoras, conforme proposta do grupo temático que discutia o Pólo Tecnológico dentro da Câmara Regional.
Como se sabe, a Câmara Regional, confluência institucional de Executivos, Legislativos, Sociedade e Governo Estadual, foi há muito tempo para a cucuia, embora não faltem cenaristas que procurem retirá-la das catacumbas do descaso histórico para recuperá-la na mídia por conta da eventual participação errática de um ou outro membro do governo estadual e federal.
Disse Laganá 11 anos atrás que se competitividade não fosse levada a sério, os altos salários não se sustentariam no Grande ABC. E foi o que aconteceu, como registramos na série “Metamorfose econômica”. Laganá tinha lastro para merecer uma entrevista na LivreMercado dos bons tempos: atuara como presidente da Sociedade Brasileira de Microeletrônica e fora professor da FEI (Faculdade de Engenharia Industrial) e da ETI Lauro Gomes (Escola Técnica Industrial), em São Bernardo.
Acompanhem declarações de Armando Laganá, sempre é bom repetir proferidas há 11 anos. Primeiro sobre a nota que daria ao Grande ABC no quesito tecnologia:
O que mais impressiona é que as declarações de Armando Laganá retiradas de um baú que poderia ser apenas objeto de arqueologia econômica se encaixam como luva na situação atual, excluindo-se um ou outro ponto.
Acompanhem a pergunta formulada por Malu Marcoccia naquela entrevista e, em seguida, a resposta de Laganá:
“Quais são os pontos falhos, economicamente comprometedores e socialmente complicados que os investidores encontrariam no Grande ABC e que, por isso, exigem de autoridades e comunidade o máximo de atenção?
Passado tanto tempo e com Armando Laganá dando sopa por aí, o Clube dos Prefeitos envolve-se numa disputa provinciana por questões definidoras dos buracos tecnológicos do Grande ABC, os quais com um acerto aqui, outro ali, estão nos próprios anais da falida Câmara Regional. E também, em forma de informação qualificada, nos arquivos da LivreMercado que comandei e cujo acervo jornalístico não foi transferido para o contador Walter Santos simplesmente porque seria dar pérolas aos porcos.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?