Leitores querem que querem que volte a escrever sobre a situação dos shoppings instalados recentemente na Província do Grande ABC e também querem que querem que esmiúce dados históricos sobre o comportamento industrial de Santo André. Há quem satirize as duas situações. Acham que os novos shoppings são uma furada e que Santo André há muito deixou de ser um “viveiro industrial”, como diz a letra do hino do Município, para se transformar em “viveiro de vivaldinos”. Como se percebe, há senso crítico além do que imaginam autossuficientes podres poderes da região.
Prometo que voltarei a frequentar os novos shoppings da Província, mais especificamente o Atrium em Santo André, o Golden e o Plaza em São Bernardo e o Parkshopping em São Caetano. Os já consolidados ABC, ABC Plaza, Metrópole e Mauá Plaza, além do Shopping Praça da Moça, em Diadema, não requerem tanta atenção, embora tenham sido afetados pelos novatos e também pelo esvaziamento econômico da região. Os shoppings novatos canibalizam os mais antigos sem que isso represente, pela ordem, destruição e autossuficiência.
As dificuldades que os antigos shoppings encontram, segundo informações de gente do riscado, estão dentro dos riscos naturais do setor. Menos, é importante que se ressalve, no caso do Shopping Metrópole. Confiante no espalhamento de ilusões de que o empreendimento Domo, na antiga área da Tecelagem Tognato, seria um aglomerado de escritórios, salas comerciais e apartamentos residências de causar inveja, o Shopping Metrópole construiu a toque de caixa uma nova ala de lojas. O vizinho supostamente agregador de valor não se mostrou tão poderoso assim.
Bobagens históricas
O Shopping Metrópole deu com os burros nágua porque o Domo é uma furada imobiliária de dimensão estratosférica. O adicional de 50 mil pessoas que circulariam diariamente naquela área é uma das maiores barbeiragens de marketing na história econômica da região. Algo que concorre diretamente com o anúncio, nos anos 1990, de que o Espaço Cerâmica, onde está o Parkshopping, abrigaria 60 mil novos empregos nos setores de comércio e serviços. Tudo isso está em notícias de jornais que constam de meu arquivo profissional. Alguns dos veículos de comunicação que omitem informações relevantes sobre a economia da região são porta-vozes daquelas barbaridades impressas.
Só a mídia regional, omissa no acompanhamento do andar da carruagem do mercado imobiliário porque altos interesses estão em jogo, ignora esse que é um assunto de elevadíssima importância, porque mostra um pedacinho apenas da crise do desenvolvimento econômico da região.
Há outros micos menos gigantescos que o Domo espalhados por toda a Província. Sem contar que vários lançamentos, alguns dos quais ganharam espaço de ouro na TV comercial, com gente famosa no chamamento de vendas, não saíram do chão. E a tendência, se os empreendedores tiverem juízo, é que não saiam. Principalmente de salas comerciais, impetuosamente lançadas sem base estatística que conciliasse nível de confiança entre oferta e demanda.
Quanto ao comportamento da indústria de transformação de Santo André, detenho números novos e alguns metabolizados, utilizados em várias análises. São insumos suficientes a uma nova incursão nos próximos dias. A iniciativa da Administração Carlos Grana de liberar geral quase três milhões de metros quadrados de uso misto na Avenida dos Estados, soterrando o Eixo Tamanduatehy deixado por Celso Daniel, é apenas um sopro de esperteza para ludibriar a boa-fé da sociedade de Santo André que clama por completa reformulação do tecido econômico regional na tentativa de minimizar os estragos provocados por uma série de mudanças.
Entre essas mudanças está uma que cantei e fui rotulado de maluco pelos triunfalistas de sempre: o trecho sul do Rodoanel nos retirou mais riquezas produtivas do que nos favoreceu. Algo nada diferente deverá ocorrer com o trecho leste em fase final de construção. Tudo porque o Custo ABC só precisava de um empurrãozinho logístico para aumentar o potencial destrutivo.
A logística do Rodoanel é uma logística reversa, sem qualquer parentesco com o discurso do governo do Estado de que somos a esquina mais competitiva do País. A dura realidade é que quem tem interesse em sair da região e para tanto se debruça na planilha de ônus e bônus, reúne cada vez mais indicadores favoráveis à debandada. As exceções confirmam a regra. O ambiente econômico da região está contaminadíssimo por agentes hostis. Entre os quais, a logística interna entre os municípios. O Rodoanel não tem inserção intestinal com a região.
Desafio à secretária
Faço um desafio à secretária de Desenvolvimento Econômico de Santo André, vice-prefeita Oswana Fameli, cujo endereço eletrônico receberá este texto: espero até às 10h desta segunda-feira uma resposta sobre o comportamento do setor industrial de Santo André nos últimos 12 anos, tendo 1999 como ano-base. Uma resposta aparentemente fácil de remeter. Basta que pesquise. Já tenho os números, sobre os quais vou escrever na próxima semana, integrando-os a um contexto analítico que vai muito além da indagação à secretária.
É lógico que não forçaria a barra a ponto de solicitar a Oswana Fameli algo mais que aqueles números. Seria ostensivamente agressivo se lhe pedisse uma análise que contextualizasse o resultado de sua pesquisa ao comportamento da indústria da Província no mesmo período. Seria ainda pior, desumano, se inquirisse a secretária sobre o desempenho industrial de Santo André frente às demais 19 cidades que integram o G-20 criado por CapitalSocial. G-20 é o grupo dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo, um de nossos referenciais de acompanhamento de várias atividades econômicas e sociais.
Talvez se se socorresse de um economista, Oswaldo Fameli poderia encaixar um suposto contragolpe neste jornalista. Corro o risco, agradavelmente, porque sei que economista conhecedor da realidade histórica do setor industrial da região é economista fruto da imaginação.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)