Uma bateria de perguntas será preparada e encaminhada ao prefeito Luiz Marinho nos próximos dias. Já que o titular do Paço de São Bernardo não está nem aí com a imprensa independente e jamais em mais de cinco anos de mandato promoveu uma entrevista coletiva sequer, nada melhor que a volta de Entrevista Indesejada, uma entre as muitas inovações desta revista digital.
Concordo com aqueles que tratam Entrevista Indesejada como forma de abrir a porta de um quarto escuro a um convidado desconfiado de que, quando se acenderem as luzes, em vez de instalações convidativas a uma noite de núpcias, tenha diante de si um buraco imenso. Concordo com a imagem, mas nem isso me faz mudar de ideia de que nada é mais apropriado à transparência que Entrevista Indesejada, desde que respondida sem sofismas, e nada mais autocondenatório que a negativa do entrevistado. O suposto buraco profundo poderá ser contornado com responsabilidade e transparência.
A maioria dos potenciais protagonistas de Entrevista Indesejada fugiu da raia da responsabilidade social que se exige de quem tem participação pública. Adivinhe o leitor quem é o recordista de fugas? Pense num nome que frequenta não com a assiduidade merecida (porque tem um poder de sedução fantástico quando esfrega os dedos) o noticiário policial-econômico? Claro, Milton Bigucci. Pois o presidente do Clube dos Construtores e Incorporadores do Grande ABC e também presidente do conglomerado MBigucci, campeão regional de abusos contra adquirentes de imóveis, é líder absoluto de negativas. Ele prefere, como se sabe, manipulações subjetivas para ludibriar o Judiciário e transformar este jornalista em vilão. Como superestimou a esperteza e subestimou as lambanças, qualquer sentença que o favoreça nas instâncias judiciais seria a definitiva condecoração do acusado.
Caminho a evitar
Entrevista Indesejada não é pote de desejos da maioria dos agentes com atuação pública. É um caminho a ser evitado. Afinal, eles têm a garantia de que há outros representantes da mídia a lhes dar todas as oportunidades para marcar pretensos gols de placa. Desconsideram que a bola seja furada e desmoralizante em termos de credibilidade.
Desde setembro do ano passado demos uma folga a essa que é uma das divisões editoriais de CapitalSocial. O retorno com questionamentos a Luiz Marinho é apropriado. O prefeito de São Bernardo e também prefeito dos prefeitos da Província do Grande ABC me chamou outro dia de imbecil só porque há mais de dois anos desmascarei uma das maiores sandices que um homem público já produziu nestas plagas: o extravagante anúncio de construção de um aeroporto internacional em São Bernardo, mais precisamente nos mananciais já tão castigados. Um aeroporto que se rivalizaria com Cumbica, vejam só.
Respondi a Luiz Marinho de duas formas: sugeri a ele que não sou o imbecíl que está a rotular, mas sim uma mistura de imbecil e idiota, um imbediota, só pelo fato de levá-lo a sério; e também elenquei série de indagações sobre a área que diz existir no entroncamento da Imigrantes com o Rodoanel, destinada, agora, a um Aeroportozinho que certamente não passaria de uma pistazinha de pouso e decolagem, embora insista ele no tal do Aeroportozão.
Marinho é tão despreparado ao combate franco de ideias que embora tenha omitido o meu nome na adjetivação, mencionou os verbetes “Aeroportozão” e “Aeroportozinho” utilizados por mim em vários textos. Talvez ele tenha se utilizado de cautela para não ser acionado na Justiça. Bobagem, prefeito: não tenho vocação à judicialização de destemperos. Não existe algo mais depreciativo ao prefeito Luiz Marinho do que a proposta do Aeroportozão.
Retorno necessário
Voltar a Entrevista Indesejada tendo Luiz Mario como suposto protagonista de respostas que todos querem ler sobre o Aeroportozão e tantas outras barbeiragens será uma medida tardia, mas consertável. Havia muito tempo pretendia enviar questionamentos ao petista que tem horror a entrevistas que não sejam encabrestadas. A democracia de Luiz Marinho, como a democracia da maioria dos políticos, é diferente da democracia universalmente consagrada. Ele só dá satisfações públicas a quem interessa. E com os filtros que bem entender. A ditadura do poder ganha nuances nos tempos de democracia política. Suprimam a democracia política e imaginem o que seria dos ditadores disfarçados de democratas.
Aposto todas as fichas que Luiz Marinho vai se omitir completamente em responder a Entrevista Indesejada. A mulher que dita os passos que deve dar como administrador público, no caso a secretária e primeira dama Nilza de Oliveira, nem precisará ser consultada. Marinho tem horror ao contraditório. Foi forjado nas lides sindicais. Falava com executivos das montadoras e de autopeças tendo-lhes sobre a cabeça a espada de greves e outros estratagemas poucos convencionais de convencimento. Por isso as montadoras, principalmente as montadoras, estão inchadas de trabalhadores e sobrecarregam custos, rentabilidade e preços. O Brasil consumidor de veículos paga nossas extravagâncias. E nós também, porque inviabilizamos outras atividades industriais.
Elite infiltrada
Luiz Marinho faz parte de uma elite sindical que se infiltrou nos podres poderes públicos sem a menor cerimônia e limites de ambição. Até outro dia sonhava com o Palácio dos Bandeirantes. Até que foi induzido pelo padrinho Lula da Silva, a não passar vexame e que o melhor mesmo era ficar no reduto sindical de uma cidade dividida entre capital e trabalho de forma agressiva ao longo dos anos.
Uma cidade, como o conjunto da Província do Grande ABC, que vive de esmolas lobistas das montadoras de veículos nas instâncias do governo federal para amenizar as dores da improdutividade automotiva, e também de favores trabalhistas que premiam o excesso de mão-de-obra de benesses nos chãos de fábricas cada vez menos competitivas.
É esse Luiz Marinho que vamos provocar a responder. Entrevista Indesejada com Luiz Marinho é uma oportunidade de, ante o esperado desdém do prefeito, trocar os pontos de interrogação por pontos finais, sentenciais. Exatamente como nos casos anteriores nos quais os potenciais entrevistados deram no pé, em silêncio vergonhoso, constrangido e autoexplicativo.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)