Já comecei a trabalhar como ombudsman dos jornais da Província do Grande ABC. Prometi iniciar atividades assim que a Copa do Mundo terminasse. Como a Copa do Mundo terminou para o Brasil no sábado, a manchetíssima de primeira página do Diário Regional de domingo e a manchetíssima de primeira página do Diário do Grande ABC desta segunda-feira foram os alvos atingidos. De zero a 10, a nota não passa de dois para ambos os times. Uma nota generosa.
Como se sabe, decidi virar ombudsman porque é uma experiência e tanto ler os jornais com os olhos que os jornalistas geralmente não leem e os leitores comuns jamais leem. Quando se coloca a obrigação de atuar como ombudsman, parece que tudo se transforma. A mente fica mais afiada. Palavra de quem faz da leitura ofício inesgotável em busca de conhecimento.
Como já expliquei neste espaço de CapitalSocial, vou atuar como ombudsman acidental. Ou seja: não tenho a obrigação de diariamente investigar o que os jornais da região estão servindo ao distinto público. Pego um jornal hoje, outro amanhã, um terceiro num outro dia, volto aos anteriores quando Deus quiser e estamos conversados. Diria que sou um ombudsman guerrilheiro, pronto para surpreender os editores dos jornais locais. Quando eles menos esperarem, lá estará este rabugento distribuindo elogios e críticas. Mais críticas que elogios, é claro, porque não sou de ferro.
Confesso que fiquei decepcionado com as duas primeiras experiências dessa nova fase de ombudsman em que me meti. Sim, segunda fase, porque fui ombudsman oficial do Diário do Grande ABC em 2004, pouco antes de assumir a direção de Redação.
Qualidade comprometida
A qualidade da abordagem do Diário Regional e do Diário do Grande ABC nas manchetíssimas que investiguei deixou muito a desejar. Muito mesmo. A reportagem do Diário Regional está recheadíssima de problemas estruturais. A reportagem do Diário do Grande ABC segue um ritual relatorial e raso que maltrata os leitores sem tempo para interpretação, principalmente quando esses leitores acham que o jornal está cumprindo o dever de casa.
Mais não vou escrever senão perde a graça. Tomara que o começo dessa jornada sem data para se encerrar não seja uma réplica jornalística da versão original do desmonte da farsa de competência da Seleção Brasileira na Copa do Mundo.
Que os nossos jornais, agora vistos com lupas críticas, não sejam um eterno apagão de seis minutos do time de Felipão. Aliás, um falso apagão porque aquilo que se viu naquele período do jogo com os alemães foi a síntese de uma desgraça anunciada. Que só os babacas da mídia triunfalista não viram porque o dinheiro e a audiência, nessa ordem, falam mais alto.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)