Exclusivo: a economia do Grande ABC acusou leve mas desagradável golpe no ano passado na geração de riqueza, o que quebrou rotina de crescimento desde a chegada de Lula da Silva a Brasília. Retorna-se mesmo que discretamente — e se espera que apenas provisoriamente — aos tempos sombrios do governo Fernando Henrique Cardoso.
O Grande ABC obteve de acréscimo no ano passado mais que uma Mauá inteira de Valor Adicionado, quando confrontado com 2007. Entretanto, essa conta em valores monetários nominais que alguns espertalhões poderão utilizar não vale. De fato, quando se deflacionam os valores, a economia da região patinou.
Se fosse um jogador de futebol, provavelmente os críticos diriam que o Estado de São Paulo também não está em boa fase, porque patinou como o Grande ABC.
A diferença é que há praticamente duas décadas os paulistas perdem feio o jogo nacional, por mais que impere filosofia fiscalista. A substituição tributária é o sustentáculo da elevação da carga tributária estadual. Ironicamente, o titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado é o ex-governador Geraldo Alckmin. A simbologia do cargo é algo como entregar a Pilatos a responsabilidade final de decidir com justiça.
Já o Grande ABC amargou terríveis perdas no mesmo período de duas décadas, mas respirou com certo alívio em cinco dos seis anos do governo Lula da Silva por causa da revalorização da indústria automobilística local combinada com ações pontuais para sustentar os níveis de comercialização no mercado interno.
É absolutamente certo que a derrapagem geral da economia brasileira no último trimestre do ano passado, quando o PIB verde e amarelo amargou rebaixamento de quase 4%, comprometeu um processo que seria mais uma vez auspicioso para o Grande ABC — a recuperação econômica desde a chegada de Lula da Silva a Brasília.
A paralisia mundial a reboque da intoxicação financeira que ainda persiste dinamitou uma estrada de avanços que parecia inexpugnavelmente acessível a todos os segmentos sociais.
Os dados são fresquíssimos e inéditos. Foram metabolizados da planilha oficial da Secretaria da Fazenda do Estado. O balisamento de resultados se dá pelos efeitos inflacionários contidos no IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) da Fundação Getúlio Vargas.
Adotamos essa metria inflacionária ao longo de estudos sobre o comportamento econômico dos sete municípios da região e também de outros pólos economicamente importantes que constam, entre outros trabalhos, da série “Metamorfose econômica”.
Há fontes de informações que por desconhecimento ou por malandragem aparecem no noticiário comparando períodos sem levar em conta o deflacionamento de valores monetários.
Os reais que compravam um veículo zero quilômetro na virada do século hoje provavelmente não compram mais que um veículo usado daquele mesmo ano. O desgaste monetário do Brasil pós-Plano Real nem se compara com o perfil dilacerador anterior. Mas daí à preservação integral é traquinagem. Toda moeda perde valor de face. Ao completar 15 anos, o Plano Real acumula inflação de 207,69%.
Só no ano passado a inflação medida pelo IGP-M da Fundação Getúlio Vargas alcançou a 9,81%.
Então, para confrontar os resultados dos municípios da região ou de qualquer outro endereço nacional com o período imediatamente anterior — os 12 meses de 2007 — é indispensável utilizar-se da aritmética.
O IGP-M foi maior que o crescimento do Valor Adicionado no Estado de São Paulo e também do Grande ABC. Diria que deu praticamente empate técnico; mas, se levado a ferro e fogo, perderam o G7 (Grande ABC) e o G-645 (Estado de São Paulo).
Valor Adicionado é o que se incorpora de peso monetário no processo da industrialização à venda de produto. Entram na conta salários, prestadores de serviços, comercialização, impostos, absolutamente tudo. É espécie de PIB sem alguns quesitos. Não chega a ser o suprassumo para definir com exatidão o dinamismo econômico e principalmente social de um Município, mas é importantíssimo quando associado ao conceito convencional de PIB, ao Potencial de Consumo e a outros condimentos econômicos.
Ainda extremamente dependente do setor industrial (e essa avaliação não significa que se deve enxotar a atividade, como bobalhões pregaram e ainda pregam para glorificar o setor de serviços como salvação da lavoura) o Grande ABC apresentou variação nominal de crescimento do Valor Adicionado de 9,14% no ano passado, em relação ao ano anterior. Seria um índice bastante apreciável, não fosse a inflação do IGP-M, o que o torna devedor em 0,67 ponto percentual na temporada. Menos de 1%, para ser mais preciso. Ou seja: os números de crescimento nominal do Grande ABC perdem para o índice inflacionário.
Com isso, elevou-se de 12,37% para 13,04% o déficit do Valor Adicionado do G7 desde 1994, quando foi implantado o Plano Real. Dividindo-se esse prejuízo por 14 anos, rebaixamos para menos de 1% em média por ano as perdas de produção de riqueza no Grande ABC. O governo Lula da Silva tem tudo a ver com a melhora: durante os oito anos de Fernando Henrique Cardoso perdemos por ano, em média, mais de 4% de Valor Adicionado.
Pretendia mostrar aos leitores um comparativo entre o resultado da temporada de 2008 do G7 (Grande ABC) e do G3 (Campinas, Sorocaba e São José dos Campos). Cheguei até a fazer as contas. Mas decidi cancelar a disputa. Mas, pensando bem, posso expor o embate com as devidas ressaltas.
Pois bem: o G3 cresceu em termos nominais um pouco mais que o G7 e também que o índice inflacionário no ano passado (10,82%). Mas a participação relativa no Estado não desgrudou de processo semelhante do G7: enquanto Campinas, Sorocaba e São José dos Campos passaram a deter 7,43% do Valor Adicionado do Estado, depois de registrar 7,35% ao final de 2007, o Grande ABC subiu para 9,30%, contra 9,14% do ano anterior.
Perguntaria o leitor por que pretendia descartar esse confronto entre G3 e G7? Simples: decidi, desde que iniciei a série “Metamorfose econômica”, que Sorocaba, São José dos Campos e Campinas devem ser observados de forma distinta. São municípios sedes de regiões metropolitanas oficiais ou não, sobre os quais o poder de atratividade ultrapassa os próprios limites. Gravita em torno de cada uma das localidades-chefe do G3 uma imensa gama de pequenos e médios municípios.
Cada um desses municípios é réplica miniaturizada da cidade de São Paulo. Então, o melhor e mais preciso em situações como essas é incorporar regionalmente os demais municípios. Por isso que São José dos Campos virou G8, Campinas, G19 e Sorocaba G15. Como são muitos municípios e os dados que saltam do forno não podem esperar, optei por restringir os números a esse macro G3. Embora importante, o G3 da forma convencional não segue o mesmo ritmo de desenvolvimento econômico dos municípios que estão em suas beiradas.
Marinho Daniel
Em janeiro, produzi 29 mil caracteres em seis artigos sobre a as perspectivas do mandato do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho. Nesta semana que começa em 6 de julho, voltarei ao assunto.
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12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES