Vou contar na próxima segunda-feira um novo capítulo da história ainda incompleta do Residencial Ventura, denunciado por mim. Não fosse eu um jornalista insistente, teimoso, estúpido, e não fosse a Justiça sapiente, a estas alturas do campeonato teria de recorrer ao Supremo Tribunal Federal para me livrar de uma condenação movida por uma queixa-crime de uma construtora e incorporadora metida em grandes escândalos.
Também teria de suportar o riso cínico de um dos integrantes da Máfia da Merenda Escolar, o empresário Sérgio De Nadai, um dos associados no empreendimento imobiliário. De Nadai é conhecidíssimo na região e no Estado. Carrega a fama de industrializar fortuna como fornecedor de quentinhas a presidiários. Quentinhas a presidiários é um dos melhores negócios do mundo. A qualidade do produto é nauseante e os preços glorificam a arte da multiplicação da rentabilidade. O problema de Sérgio De Nadai é que ele levou o conceito do mercado de presídios aos estudantes.
O Residencial Ventura é um conjunto de torres residenciais plantado irregularmente no coração do Bairro Jardim, em Santo André. O acervo desta revista digital está recheadíssimo de informações sobre o caso que denunciei ao Ministério Público de Santo André. O que fez o MP? O que fez a Justiça em Santo André? O que fez a Justiça de segunda instância na Capital. E o que fez o Superior Tribunal de Justiça? Tudo isso vou revelar.
Prevaricadores impunes?
Meu amigo e advogado Alexandre Marques Frias empenhou-se a fundo em minha defesa. Valeu a pena, mas a disputa ainda não terminou. Os prevaricadores não podem ficar impunes. Espertos, tentaram incriminar quem apresentou provas suficientes para que o empreendimento fosse enquadrado nos rigores das leis ambientais, no Código em Defesa do Consumidor e possivelmente em outras especificidades que protegem ou deveriam proteger a sociedade de ações rasteiras, espertas, atentatórias à qualidade de vida.
Ainda recentemente, por conta da decisão em primeira instância que favoreceu absurdamente os delitos cometidos pelos empreendedores do Residencial Ventura, o megacontraventor ético Milton Bigucci, também envolvido em escândalos imobiliários, distribuiu mensagem eletrônica referindo-se ao suposto passivo que este jornalista carregaria no lombo. Tudo programado para tergiversar, ante as denúncias que lhe opus e que encaminhei ao Ministério Público de São Bernardo.
Denúncias mais que consistentes mas que, estranhamente, ainda não tiveram o desfecho lógico de que o empreendimento Marco Zero, em fase de construção, carrega o vício de origem de um leilão irregular do terreno sobre o qual foi plantado.
A covardia programada da mídia regional, incapaz de enfrentamentos que lhe dariam mais dignidade e credibilidade, explica o isolamento desta revista digital nas denúncias principalmente contra mercadores imobiliários. Os casos do Residencial Ventura e do Marco Zero, e tantos outros aqui apontados, são emblemáticos do grau de impetuosidade de alguns protagonistas dessa atividade econômica que lubrifica as engrenagens da corrupção em setores públicos.
As prestações de contas em campanhas eleitorais, que fazem saltar valores que não passam de uma parcela minoritária dos recursos que de fato são repassados por debaixo dos panos a candidatos de bem como financiadores inescrupulosos, provam o quanto o mercado imobiliário e da construção civil como um todo é nocivo à sociedade. Os bons empreendedores do setor, em maioria, preferem ficar à margem dessa sordidez.
Absurdo reparado
A possibilidade deste jornalista, forrado de provas e de uma testemunha-chave, vir a ser condenado no caso Residencial Ventura só se desfez no Superior Tribunal de Justiça. O que deveria ser comemorado serve de lamentação e de desconforto. A irregularidade processual que me salvou é tão escandalosamente clara que se rivaliza em matéria de desfaçatez com a ação criminal da companhia imobiliária associada a Sérgio De Nadai. Sem contar os sócios ocultos do Poder Público de Santo André.
Pior que tudo isso foi o despreparo do Ministério Público de Santo André em investigar a irregularidade, entre outros motivos porque não dispõe de recursos materiais e de gente para desempenhar medidas investigativas que exigem muito mais que o conforto de recepcionar relatórios oficiais das próprias raposas que teriam de zelar pela lisura do empreendimento.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)