A Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André) e a Prefeitura comandada por Aidan Ravin estão construindo uma ponte institucional para dar um peteleco na cilada involuntária deixada pelo prefeito petista João Avamileno. Uma série de iniciativas encaminha encaixe provisório com cara de potencialmente definitivo para a complicadíssima equação urbana e comercial chamada Boulevard Itambé.
Vejam que o Boulevard Itambé, inaugurado em agosto do ano passado, está com cara, tronco e membro de um monstro digno das noites de terror de Freddy Crooguer. Shopping popular colado à Estação Ferroviária Celso Daniel, espremido entre o Terminal Rodoviário e o Shopping ABC Plaza, o empreendimento consumiu R$ 2 milhões da Administração de João Avamileno.
A obra prenunciava a perfeição, porque acabaria com a imagem de Bangladesh do centro comercial de Santo André, instalando os chamados camelôs numa área previamente selecionada e estruturada. O confinamento se mostrou um desastre. A clientela de rua não tem intimidade com o shopping popular. As despesas aumentaram na proporção da redução de clientes. O desespero chegou. O impasse ganhou ares de hecatombe política como ameaça de retorno invasivo e rebelde às calçadas do centro comercial. Os mais alarmistas já preparavam manchetes. “Invasão dos bárbaros” era o título mais votado.
A solução encontrada e que encaminha outras medidas não é poção mágica, conforme explica o novo presidente da Acisa, Sidnei Muneratti. Acisa e Prefeitura estão se entendendo nas providenciais mais emergenciais, sempre em consenso com representantes daqueles comerciantes informais. O que parecia uma tempestade cristaliza-se como saída gradualmente satisfatória.
Alertados pela direção da Acisa, comerciantes descobriram que aquele negócio de portas abertas e aparentemente sem futuro não é um presente de grego como se insinuava. Ter um estabelecimento comercial como endereço é o suprassumo do direito de propriedade. É o sonho de consumo para quem quer pertencer ao universo de negócios.
Calçadas não são endereço de valor reconhecido de fato para quem empreende. É um quebra-galho para cigano bom de pernas e de fôlego, porque as blitzes exigem corridas nem sempre possíveis para fugir de fiscais.
Portanto, o Boulevard Itambé passou a dar identidade aos titulares dos negócios. Encontrar soluções é questão que deve ser compartilhada sem exageros protecionistas porque, como sabem os empreendedores formais ou informais, quem entra na chuva da competição é para se molhar.
Acisa e Sebrae já estão concertando cursos específicos para estimular o enquadramento teórico de empreendedores que de fato são vocacionados para negócios, caso contrário não estariam lutando tanto para sobreviver. A decisão tomada tem o rumo de alfabetizar a todos no mundo só aparentemente hermético da administração básica de pequeno empreendimento.
Outras medidas estão na ponta da agulha. O Boulevard Itambé deverá receber investimentos da Prefeitura tanto para tornar a arquitetura física mais moderna como também mais funcional. Armamentos de marketing serão utilizados para aquecer o empreendimento. Não é sinônimo de racionalidade a sobreposição de produtos e serviços semelhantes. Haja fome para satisfazer o apetite de ofertas abundantes de cachorros quentes. Projeta-se inclusive uma versão compacta de Poupatempo de serviço público que incentive fluxo adicional de frequentadores.
É preciso restabelecer parte de potenciais clientes perdidos com a segregação espacial. Mais que isso: como os potenciais clientes de calçadas eram em número muito maiores que a efetividade de vendas, a ordem para reorganizar o Boulevard Itambé enfatiza a produtividade, ou seja: compensar a quebra do fluxo lotérico de rua pela sensibilização de um número de consumidores reconhecidamente fiéis.
Ou não podem ser divididos em lotéricos e fiéis potenciais consumidores que, por um lado, trafegam pelas calçadas sem necessariamente o compromisso tácito de gastar e, por outro lado, consumidores que ingressam num shopping popular e dirigem olhares e sensibilidade aos balcões? Os primeiros são zagueiros que se transformam em centroavantes. Os segundos são centroavantes de fato. Quem tem mais possibilidades de fazer gol? Por isso não resta alternativa aos empreendedores informais do Shopping Boulevard: é preciso atrair os centroavantes.
O entusiasmo com que o presidente da Acisa discorre sobre o que se descortina para o Boulevard Itambé seria equivalente ao que assessores mais próximos de Aidan Ravin informam sobre a reação do petebista. Nada mais interessante, porque o prefeito de Santo André está em busca de um símbolo efetivo e marcante da gestão recém-iniciada. Algo que se sobreponha ao vermelho petista sem causar a sensação de que é apenas perfumaria ideológica e partidária, como uma série de ações desencadeadas neste início de temporada. Aidan Ravin pode fazer um gol de placa. Como a Acisa.
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12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES