O convite pessoal e o convite impresso para a posse da nova Diretoria Executiva, do Conselho Fiscal e do Conselho Superior da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André) tornaram-me compulsório participante do evento programado para esta sexta-feira. Provavelmente não daria tanta ênfase ao acontecimento, por mais importante que seja, porque este é um espaço de análises. Entretanto, há um certo mal-estar entre este jornalista e aquela entidade que precisa ser equacionado e resolvido. Nada melhor do que zerar essa conta. E que nova conta-corrente, quem sabe com mais créditos do que débitos, venha a ser aberta.
Por isso, quando do outro lado da linha telefônica o novo presidente da Acisa, Sidnei Muneratti, antecipou pessoalmente o que chegaria três dias depois de forma convencional, pelo Correio, não tive dúvidas: vou sim à festa, entre outros motivos porque há inúmeros nomes de respeito elencados naquela instituição — a começar pelo próprio presidente que acaba de assumir o cargo, em substituição a Zoilo de Souza Assis.
Aliás, devo confessar publicamente o quanto no ano passado torci para que, entre os nomes indicados a Personalidade do Ano do Prêmio Desempenho, vencesse Zoilo de Souza Assis, embora não lhe faltassem competidores de respeito. Torci discretamente mesmo para os conselheiros do Prêmio Desempenho garantirem ao presidente da Acisa o troféu máximo entre as individualidades da temporada. Por mais que não mande absolutamente nada no resultado final do Prêmio Desempenho — quaisquer dos resultados, que fique bem claro — a imagem de que quem coordena manda em tudo é simplificação que estigmatiza o senso democrático e participativo daquele evento. Deu Zoilo de Souza Assis na cabeça e, com isso, acredito que ali estava mais que evidente uma mensagem verdadeiramente intocável: que ranhuras do passado não contaminavam a relação deste jornalista e a Acisa.
O que houve entre este jornalista e a Acisa no passado não foi nada grave a ponto de ruptura insuperável, mas o desconforto com alguns dos dirigentes da entidade acabou prevalecendo. Provavelmente tenha faltado por parte deste jornalista um pouco de tempo, uma pitada de sensibilidade e também maior precisão interpretativa para dizer com mais clareza que jamais pretendeu ofender a tradição daquela casa.
O fato de ter escrito que a Acisa não gozava de representatividade da classe empresarial não foi como se pretendeu fazer crer uma grosseria que desonrasse a tradição da entidade — mas sim um pecado da simplificação avaliativa desdobrada de uma ação judicial sem qualquer relação direta com a Acisa.
Explico a questão carregada de semântica: representação e representatividade são primos de primeiro grau, mas não são irmãos gêmeos, muito menos siameses. De maneira geral, nossas instituições, de empresários ou de trabalhadores, de educadores ou comunitárias, têm dificuldades de atingir o grau de representatividade desejado e indispensável. Representatividade tem a ver com quantidade, com densidade, com profundidade, com ramificações. Representação diz respeito à institucionalidade, à ocupação de espaço entre organizações da sociedade civil, à visibilidade pública, à influência corporativa.
Meu erro, ao me referir às limitações de representatividade da Acisa, foi omitir o contexto que atinge a estrutura social brasileira como um todo. São infindáveis as motivações que mantém a maioria dos agentes sociais, econômicos e culturais à margem das instituições que os representam. Repassar o peso do distanciamento exclusivamente aos dirigentes que comandam as entidades é uma simplificação que cometi no passado não só no caso da Acisa mas de outras organizações.
Infelizmente, pecamos demais como sociedade participativa. A concentração de poderes e de obrigações num grupo restrito de voluntários é muito mais que um suposto protecionismo corporativista de quem ocupa cargos — é principalmente a transferência acomodatícia de poderes e obrigações de representados que não estão nem aí com a brilhantina.
Acredito que ninguém melhor que os próprios dirigentes da Acisa e de outras entidades para avaliarem e reconhecerem dificuldades para obter representatividade dos filiados e potenciais filiados, o que, em última instância, lhes exigem esforços redobrados de representação.
Quem sabe um dia nossos empreendedores, nossos educadores, nossos trabalhadores e nossos agentes culturais esqueçam a novela das nove e se decidam a buscar saídas para novos tempos?
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12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES