A economia do Grande ABC está conseguindo sair do atoleiro em que se meteu nos anos 1990, principalmente durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Uma nova rodada de estudos da Target Marketing, empresa paulistana especializada em potencial de consumo, confere pelo menos três boas notícias à região: ganhamos mais ricos, reduzimos o contingente de pobres e de miseráveis e retomamos o terceiro lugar no ranking nacional, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. Belo Horizonte ficou para trás.
O incremento de famílias ricas e a queda do número de pobres e miseráveis desde que Lula da Silva chegou à presidência não são conquistas exclusivas da região, mas há distinções. No caso do afluxo de novos ricos, o Grande ABC se destaca no período consolidado de janeiro de 2003 a dezembro deste ano, exatamente sob o governo Lula da Silva: passou de 8,51% para 12% dos domicílios, avanço de 41%, contra queda de 3,33% da média brasileira (de 7,49% para 7,24%). Já a média do Estado de São Paulo subiu discretamente 2,28% — de 10,52% para 10,76% das residências no período.
A redução de domicílios de pobres e miseráveis é menos intensa no Grande ABC em relação à média do País e semelhante à do Estado de São Paulo: na região, eram 29,91% das famílias em 2002 contra 15,96% projetados para dezembro deste ano, um recuo de 46,63%. Menos que os 54,78% do mesmo indicador quando se trata de Brasil (de 47,11% para 21,30%) e levemente inferior aos 46,87% da média paulista (de 31,96% para 16,98%).
Não é porque conta com mais famílias consideradas ricas (de rendimento médio mensal de R$ 13.680) e menos pobres e miseráveis (rendimento médio mensal de R$ 608 e R$ 342) que o Grande ABC viveu nos últimos anos do governo petista situação privilegiada em relação à média paulista e brasileira. O potencial de consumo previsto para este ano na região alcançará R$ 33,5 bilhões. Isso significa que crescerá em termos nominais 103,35% em relação ao potencial de consumo do último ano do governo FHC, de R$ 16,5 bilhões. Os números médios do Brasil no mesmo período são melhores: em 2002 o potencial de consumo registrou R$ 716,3 bilhões, enquanto em 2008 chegará a R$ 1,6 trilhão — o que significa crescimento nominal de 116,40%. A média paulista é de crescimento nominal de 99,11% já que o potencial de consumo de 2002 alcançou R$ 231,1 bilhões contra R$ 486,3 bilhões em dezembro deste ano.
A recuperação econômica do País nos últimos anos é a melhor explicação para os números gerais do Grande ABC. Os cinco primeiros anos do governo Lula da Silva apresentaram crescimento médio do PIB (Produto Interno Bruto) de 3,9%, o maior dos últimos 40 anos. O governo Fernando Henrique Cardoso conseguiu índice médio bem abaixo, de apenas 2,2%.
A taxa de crescimento de famílias ricas no Grande ABC — exemplar quando se adentra o território do Swiss Park, em São Bernardo — muito acima da média brasileira e paulista não é um bicho-de-sete-cabeças. Os sete municípios locais foram os mais duramente atingidos por políticas macroeconômicas do governo Fernando Henrique Cardoso. O Grande ABC viveu durante os anos 1990 os piores estragos econômicos e sociais da história. Um terço do Valor Adicionado — que pode ser traduzido como produção de riqueza — desapareceu durante os oito anos de FHC. Nada menos que 100 mil empregos com carteira assinada sumiram das indústrias entre 1990 e 2000. Era compulsória, portanto, parte da recuperação regional após período tão dilacerante. Sobretudo porque a indústria automobilística, coração, alma e pernas da região, bate seguidos recordes de produção. Empregos que exigem melhor capacitação ajudam a puxar para o alto as médias salariais de famílias detentoras de maior escolaridade e empregabilidade. Já entre as demais camadas sociais, tanto no Grande ABC como no País, o incremento da renda tem se dado principalmente porque mais membros familiares participam de atividades econômicas, principalmente as mulheres. Dessa forma, o rebaixamento médio dos salários ao longo dos últimos 10 anos, com leve recuperação recentemente, acaba minimizado pela elevação da massa de rendimentos.
Dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério do Trabalho, mostram que o mercado de trabalho brasileiro está mais qualificado, paga salários melhores e tem empregado trabalhadores mais experientes — os mais velhos e com maior tempo de estudo.
O índice menos brilhante em relação à média brasileira e paulista de famílias pobres e miseráveis do Grande ABC que conseguiram ascensão social no período lulista em contraponto ao último ano do governo FHC reflete uma característica da industrialização: o Grande ABC ameniza o universo de participação relativa das camadas mais necessitadas da população por conta de sinergias próprias do capitalismo. Há relativamente menos pobres e miseráveis no Grande ABC do que na média paulista e brasileira. Se a comparação envolvesse municípios que não passaram pelos transtornos da região nos últimos 15 anos, a realidade seria outra. Ou seja: o Grande ABC é menos pobre e miserável que a média paulista e a média brasileira, mas isso não significa que o quadro socioeconômico é confortável. Muito pelo contrário.
Tanto que esse exército das classes D/E chega a 121.961 residências do Grande ABC (15,96% do total). Eram 29,91% em 2002. No Estado de São Paulo são 1,9 milhão de residências (16,98% do total). Em 2002 eram 3,3 milhões (31,96%) do total, enquanto no Brasil os deserdados chegam a 9,7 milhões de residências (21,30% do total), contra 18,6 milhões registradas em 2002.
São os pobres e miseráveis os estratos sociais mais beneficiados por políticas públicas municipais, estadual e federal de compensação de renda. Só o programa Bolsa Família do governo federal contabiliza 11 milhões de residências no País. A participação relativa dos municípios do Grande ABC, assim como das regiões Sudeste e Sul, é inferior aos recursos direcionados às regiões Norte e Nordeste.
A retomada do terceiro lugar no ranking de potencial de consumo do Grande ABC confirma mais uma vez uma disputa de vai-e-vem que se tem repetido desde o início deste século, entre os sete municípios da região, que reúnem 2,5 milhões de habitantes, e Belo Horizonte, com 2,4 milhões. No ano passado, BH ficou logo abaixo de São Paulo e Rio de Janeiro, mas desta vez a vantagem é do Grande ABC, que acumula 1,93030% de tudo que será potencialmente consumido neste ano, contra 1,91249% da capital de Minas Gerais. A cidade de São Paulo lidera com 8,95306% (no ano passado eram 9,31660%) e o Rio de Janeiro segue na vice-liderança com 5,36713% (contra 5,46532% de 2007). Belo Horizonte, Brasília (1,88361%), Salvador (1,85456%) Curitiba (1,60779%), Fortaleza (1,38539%), Porto Alegre (1,32477%), Recife (1,06737%) e Goiânia (0,95173%) formam o grupo dos 10 maiores municípios brasileiros. Nesse caso, o Grande ABC não é contabilizado. Individualmente, São Bernardo é o melhor Município da região no ranking brasileiro: ocupa o 15º lugar com potencial de consumo de 0,63337% (contra 0,68422% do ano passado) do País. Em seguida, entre os 100 maiores, estão Santo André em 17º lugar com 0,55073% (contra 0,59939% do ano passado), Mauá com 0,24198% (contra 0,26428%), Diadema com 0,23427% (0,26147%) e São Caetano com 0,16385% (0,15339% em 2007). O Sudeste continua disparado na frente do Índice de Potencial de Consumo, ao responder por 51,8% do total nacional, contra 16,8% do Sul, 18,2% do Nordeste, 7,8% do Centro-Oeste e 5,4% do Norte.
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12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES