Imprensa

Diário mente em anúncio e
ofende realidade informativa

DANIEL LIMA - 12/05/2005

A diretoria do Diário do Grande ABC e seus acionistas não poderiam permitir que uma peça de publicidade como a exibida ontem na primeira página do jornal ultrapassasse incólume a trajetória entre a formulação textual de uma agência de propaganda contratada e os leitores.


 


O apêndice do título "Obrigado, leitor. O seu nível de exigência ajudou a transformar o Diário no maior jornal regional do Brasil", é um escândalo em matéria de desrespeito às demais mídias da região e, principalmente, à equipe que este jornalista comanda há 15 anos, na revista LivreMercado. Que apêndice é esse? O seguinte: "Diário do Grande ABC. Há 47 anos a única fonte confiável para quem quer saber o que acontece na região". Trata-se, como se observa, de uma barbaridade.


 


Sem precisar recorrer ao vasto arquivo pessoal de que disponho e que incomoda a tanta gente, destrincho com brevidade algumas das mais importantes ações que executamos com nossa equipe em uma década e meia no campo econômico para que os leitores deste CapitalSocial possam constatar o quanto de ofensiva, mentirosa, irresponsável e unilateral é essa peça publicitária que, também no enunciado principal, comete o deslize da enganação porque, infelizmente, o Diário há muito perdeu a condição de maior veículo regional do País.


 


Vamos relembrar, rapidinho, as diferenças entre um jornalismo econômico sério, combativo, provocativo, transformador, e um jornalismo econômico omisso, dissimulador, compactuador e conservador:


 


1) A constatação documental de que o Grande ABC perdeu 39% de seu PIB durante o governo Fernando Henrique Cardoso é nossa marca registrada. O Diário só se referiu ao assunto quando estivemos à frente de sua Diretoria de Redação. A ordem era ignorar o tema, porque, vejam só, destilaria um ambiente derrotista na região.


 


2) A desindustrialização do Grande ABC, ao longo dos últimos 15 anos, sempre foi ressaltada e comprovada por nossa equipe. O Diário procurou de todas as formas subestimar os dados. Somente evocou essa realidade durante o período em que estivemos à frente da Diretoria de Redação.


 


3) O pesquisador João Batista Pamplona, contratado pela Agência de Desenvolvimento Econômico, sempre se utilizou da permissividade informativa do Diário para desfilar números fantasiosos que pretendiam esconder a realidade econômica do Grande ABC. Foi privilegiado pelo jornal durante os três anos em que esteve no cargo, do qual foi demitido exatamente porque cometeu o pecado capital da alquimia numérica. Enquanto isso, ganhamos ação judicial em que o pesquisador pretendia nos imputar crime de injúria e difamação por desmascará-lo sobre a realidade regional. O Diário do Grande ABC sempre desconsiderou nossas análises. Menos, evidentemente, quando ocupamos sua direção de Redação.


 


4) As entidades de classe empresarial do Grande ABC sempre foram tratadas acriticamente pelo Diário do Grande ABC, como se o noticiário econômico fosse extensão do colunismo social. Nossa equipe fez uma série de análises sobre a co-responsabilidade dessas entidades no desfalecimento institucional do Grande ABC sem pretender, com isso, desconsiderá-las importantes no ambiente regional.


 


5) O prefeito Celso Daniel chegou a ser ridicularizado pelo Diário do Grande ABC por causa de suas viagens internacionais, onde rebocava propostas para a revitalização institucional e gerencial de Santo André. Nossa equipe de jornalistas sempre observou a ação de Celso Daniel como exemplo de visionarismo. Celso Daniel morreu sem que o Diário do Grande ABC fosse capaz de registrar com competência sua importância regional. A revista LivreMercado fez apanhado histórico de Reportagem de Capa, entre outras reportagens.


 


6) O Diário do Grande ABC praticamente descartou ao longo da história a cobertura de pequenas e médias empresas industriais, ao contrário da revista LivreMercado. Houve prioridade no tratamento durante os nove meses em que ocupamos a direção de Redação do jornal. O massacre das pequenas autopeças no período de abertura econômica e moeda artificialmente valorizada foi ignorado pelo Diário, ao contrário da revista.


 


7) O Diário do Grande ABC sempre se omitiu sobre a crise no setor imobiliário do Grande ABC, porque a informação correta exigiria que se tocasse na velha ferida da desindustrialização e também de interesses especulativos contrariados. A revista que fundamos há 15 anos jamais omitiu informações sobre o assunto porque a realidade prática, conhecida de todos, afetaria a credibilidade do produto caso fosse maquiada.


 


8) O Diário do Grande ABC ignorou o massacre ao qual se sujeitaram as pequenas empresas comerciais e de serviços da região, por causa da desindustrialização e da chegada de grandes conglomerados. Nossa equipe transformou esse tema em diferentes reportagens, inclusive de capa.


 


9) O Diário do Grande ABC tratou a chegada dos grandes conglomerados comerciais, principalmente os supermercados, com o entusiasmo típico de quem desconhece o outro lado da moeda do confronto desigual entre as poderosas redes e os pequenos negócios. Enquanto isso, defendemos várias medidas cautelares para tornar menos canibalesco o mercado regional.


 


10) O Diário do Grande ABC jamais publicou estatísticas sobre a debacle do setor comercial, exceto quando estivemos à frente de sua Diretoria de Redação. Ao longo dos anos cansamos de publicar análises sobre a situação e registramos a quebradeira de milhares de estabelecimentos.


 


11) O Diário do Grande ABC fez o que pôde para minimizar as estatísticas sobre o quadro de criminalidade na região. A partir de nossa chegada à Diretoria de Redação o temário passou a ganhar prioridade.


 


12) O Diário do Grande ABC mistificou sua própria criação, o Fórum da Cidadania do Grande ABC. Nós desmistificamos e apontamos o esfacelamento da entidade com série de análises.


 


13) O Diário do Grande ABC mistificou a Câmara Regional do Grande ABC. Nós desmistificamos e provamos que se trata de ficção.


 


14) O Diário do Grande ABC mistificou a atuação do Consórcio Intermunicipal de Prefeitos. Nós apontamos ao longo dos anos série de problemas e apresentamos um monte de sugestões e propostas.


 


15) O Diário do Grande ABC jamais deu a atenção necessária aos excluídos sociais, especialmente às entidades dirigidas por voluntárias reconhecidamente atuantes e idôneas. Nós criamos o projeto Nossas Madres Terezas, dentro do Prêmio Desempenho, e levamos as instituições à preparação gerencial do Sebrae.


 


16) O Diário do Grande ABC sempre deu apoio e suporte a premiações comprovadamente sob encomenda, vencidas, entre aspas, por quem pagava a festa. Nós criamos o Prêmio Desempenho, decidido por um Conselho Deliberativo formado por representantes da comunidade regional, e que conta com auditoria externa.


 


17) O Diário do Grande ABC deu guarida a pesquisas fraudulentas sobre a realidade econômica e social do Grande ABC, elaboradas por instituições vinculadas ao Poder Público. Nós criamos o Instituto de Estudos Metropolitanos para desmascarar os mentirosos de plantão. O laboratório virtual de informações detém metodologia que define o ranking estatísticos dos 75 principais municípios paulistas em quatro variáveis diferentes -- econômica, financeira, criminal e social.


 


18) O Diário do Grande ABC tem ignorado solenemente as personalidades que fazem e fizeram a história econômica, social, cultural e esportiva da região, porque se afastou dos pressupostos de regionalidade. Nós criamos, dentro do Prêmio Desempenho, a categoria de Personalidades do Ano, justamente para homenageá-los. 


 


Muito, muito mais poderíamos escrever sobre o fosso de informação qualificada, analítica e compromissada com a regionalidade que distingue a revista que criamos e os últimos 15 anos do Diário do Grande ABC, mas achamos que o que repassamos já é suficiente. Não pretendíamos abordar esse assunto, mas cobranças de leitores da publicação e também deste CapitalSocial nos levaram a esse posicionamento. A melhor resposta à falta de ética numa peça publicitária não é a simples omissão, mas uma réplica de conteúdo irrespondível.


 


Os livros "Complexo de Gata Borralheira", "República Republiqueta" e "Meias Verdades", além da coleção de edições de LivreMercado e deste CapitalSocial, são provas irretocáveis do quanto construímos, com nossa equipe, um jornalismo responsavelmente regionalista. Que a direção do Diário do Grande ABC retire essa porcaria mentirosa de suas páginas. Os leitores merecem respeito.


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