Imprensa

Província não reage ao impacto da
crise automotiva; jornais falham

DANIEL LIMA - 05/09/2014

As manchetíssimas do Diário do Grande ABC e do Diário Regional desta sexta-feira coincidem no repasse burocrático de informações sobre a crise do emprego nas montadoras de veículos. Os dois jornais se limitam a reproduzir insumos que tantas outras publicações oferecem aos leitores de Norte a Sul do País. Até parece que não estamos no epicentro de um vulcão de inquietações.


 


Nenhum dos dois jornais regionalizou os dados estatísticos da principal atividade econômica da Província do Grande ABC. Nada de mensurar a crise que está aí. Ante tamanho disparate, não me cabe outra nota senão um zero imenso às duas manchetíssimas nesta oitava intervenção como ombudsman não autorizado das publicações locais.


 


A manchetíssima do Diário do Grande ABC (“Emprego nas montadoras tem pior nível desde 2012”) e a manchetíssima do Diário Regional (“Nível de emprego nas montadoras de veículos é o mais baixo desde maio de 2012”) espelham fielmente a potencialidade de leitura nas páginas internas. Tem-se a sensação de que nenhum dos jornais contou com jornalista na coletiva de imprensa da Anfavea, o Clube das Montadoras de Veículos.


 


O que mais se lamenta é que, como a base das informações foi previamente agendada e, mais que isso, como já se contava com indicadores precedentes de que a situação nas montadoras é de lascar, com queda contínua de produção e de vendas em relação ao mesmo período do ano passado, o balanço do estoque de trabalhadores seria um prato cheio a reflexões, opiniões, questionamentos, essas coisas.


 


Histórico de coberturas


 


Não existe na Província do Grande ABC um único veículo de comunicação que dê a devida atenção ao centro nervoso de nossa economia, no caso as montadoras e as autopeças. Durante o período em que comandei a revista LivreMercado destaquei o jornalista André Marcel de Lima como espécie de especialista do setor, entre outras funções que exercia.


 


Da mesma forma que, pessoalmente, e também como o reforço da jornalista Maria Luiz Marcoccia, atuávamos como coringas no setor. Foi André Marcel quem vasculhou o setor automotivo para, entre outras novidades que a mídia diária jamais desvendou, concluir que naquela altura do campeonato, por volta do ano 2000, a Província participava com 22% da produção de veículos de passeio no País.


 


Foram inúmeras as reportagens-análises e as entrevistas especiais que publicamos ao longo daquela jornada editorial. Tínhamos consciência de que a Província do Grande ABC gira indelevelmente em torno das montadoras e das autopeças. O esgotamento de parte da riqueza social da região deriva da guerra fiscal na base industrial local. Dizimaram-se pequenas e médias autopeças de capital nacional, de empresas familiares, também ao sabor da abertura alfandegária que sobreveio aos ataques sindicalistas que, nos anos 1970, 1980, colocavam as pequenas empresas no mesmo saco sem fundos de reivindicações trabalhistas das grandes empresas. Já presidente, Lula da Silva reconheceu o erro dos metalúrgicos.


 


Centenas de exemplos


 


Para que os leitores tenham ideia aproximada da preocupação que sempre tivemos com o temário econômico e particularmente com o andar da carruagem do setor automotivo, o acervo desta revista digital com mais de quatro mil matérias reúne nada menos que 337 que têm principalmente o protagonismo das montadoras. Outras 249 fazem abordagem direta ou indireta sobre as empresas de autopeças. A maioria desse estoque de conhecimento repassado aos leitores está na editoria de Economia.


 


Portanto, montadoras e autopeças não são para CapitalSocial um caminho desconhecido. É uma espécie de trilha da roça. A constatação ganha maior valor porque o volume não se esgota na quantidade. A qualidade é explícita. Ao contrário da mídia diária, LivreMercado não perdeu jamais o fio da meada durante as duas décadas em que presenteava a região. Não se tratam de matérias fastfoodianas. São produtos com agregado de valor informativo e analítico.


 


Já as montadoras e autopeças não parecem integrar o léxico editorial das publicações da região. Numa situação como a de hoje, de manchetíssimas tanto do Diário do Grande ABC quanto do Diário Regional, o mínimo que se poderia esperar para manter o interesse dos leitores longe das páginas de concorrentes da Capital é que se mergulhasse num mar de dados regionais para alcançar a dimensão de crise que já não é mais possível mais esconder.


 


Tantas perguntas estão sem respostas nas matérias publicadas hoje pelos dois jornais da região que nem vale a pena esmiuçá-las. Mas é praticamente irresistível uma questão: do total de 127.139 profissionais que atuam nas montadoras com fábricas no Brasil, quantos estão vinculados às empresas da Província do Grande ABC? Quantos perderam o emprego nesta temporada? Qual é o resultado quando se somarem os demitidos das autopeças?


 


Medidas estratégicas


 


Uma série de medidas editoriais poderia ser tomada pelos veículos de comunicação se houvesse preocupação maior com o equilíbrio social e econômico da região, à parte a concorrência por anunciantes e leitores. Seria romantismo supor convergência no sentido de que se organizasse uma força-tarefa especificamente para monitorar a atividade mais importante do território?


 


A dispersão informativa sobre as nuances econômicas da região é uma associação de descuido, despreparo, desinteresse e sobrecarga dos profissionais de comunicação em combinação com cegueira atávica dos donos das publicações.


 


Ainda não se chegou à constatação de que a dependência automotiva é um mal que coloca a Província do Grande ABC em cíclicos estados de estresse social. Talvez seja preciso chegar ao fundo do poço para a tomada de providências que, enviezadamente, estão sob a tutela corporativa dos sindicalistas, com os riscos inerentes do que isso significa. Além do viés ideológico, eles não fazem outra coisa senão olhar para o próprio umbigo. Algo péssimo, porque o buraco é mais embaixo.


 


As manhetíssimas do Diário do Grande ABC e do Diário Regional de hoje não expõem apenas as fragilidades editoriais das duas publicações de circulação diária na região. As manchetíssimas são uma obra acabadíssima do despreparo empresarial, institucional e social dos veículos de comunicação em manter o instinto de sobrevivência em estado de alerta. Há uma dormência generalizada que ajuda a explicar as penúrias que a Imprensa regional sofre, dobrando-se ao canto da sereia de qualquer força política que se apresente, em flerte permanente com a insolvência financeira e de credibilidade.


 


Leiam um texto emblemático:


 


Montadoras não podem continuar sendo referencial de reivindicações


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