A manchetíssima da edição de domingo do Diário Regional foi uma resposta inteligente e respeitosa à cobrança deste ombudsman não autorizado dos jornais da região. Pela iniciativa e pelos insumos apresentados, não resisto a atribuir à reportagem a melhor nota desde que me meti a besta de incomodar os jornalistas da região e, principalmente, os donos dos jornais que não compreendem a importância da atividade além das caixas registradoras. Nota oito de zero a 10 é uma boa pedida, mesmo com a ressalva de que o texto do Diário Regional poderia avançar mais em contextualizações históricas.
Queria saber quantos empregos o setor automotivo da região perdeu nesta temporada, tanto nas montadoras quanto nas autopeças. Uma solicitação mais que justa. Estamos falando de nossa Doença Holandesa. O Diário Regional foi ao Ministério do Trabalho e do Emprego e respondeu da melhor maneira possível à provocação: perdemos por dia, até julho, 23 vagas. Em números absolutos, foram 4.935 profissionais que entraram para o obituário empregatício com carteira assinada.
O jornal poderia ter informado que esse contingente tem o tamanho de uma fábrica e meia da Bridgestone Firestone, a maior empregadora industrial de Santo André. É muita coisa, convenhamos, mas está longe de ser tudo o que de pior poderá acontecer com a economia da região. O consumismo que move o governo petista federal continua a emitir fortes sinais de que já sofre os efeitos de anestesiamento provocado principalmente pela insegurança no emprego ante o acúmulo de perdas do PIB e também porque o nível de endividamento das famílias é elevadíssimo. Quem mandou acreditar em milagres de inclusão apressada de pobres na chamada classe média?
Normalmente, o Diário Regional apresenta cobertura mais densa na Editoria de Economia que o principal concorrente na região, o Diário do Grande ABC. Mas ainda está longe do que sonho como leitor e também como jornalista.
É a economia, estúpidos!
Nenhum jornal da região ainda se deu conta de que o centro de operações do destino regional é a economia. Tudo passa pela economia. Contar, como é o caso do Diário do Grande ABC, com mais colunistas sociais do que com jornalistas versados em atividades econômicas, é um descalabro editorial. Algo inconcebível, mas que cabe perfeitamente no figurino provinciano.
Se o Diário Regional acertou em cheio ao quantificar a crise automotiva na região com a manchetíssima de domingo, a edição de hoje do Diário do Grande ABC comete crime de omissão ao nem mesmo providenciar uma chamadinha de primeira página para uma notícia de alto valor: a crise automotiva, mais inquietante aqui do que em qualquer outra geografia, fez despencar o faturamento dos estabelecimentos comerciais locais, segundo a Federação do Comércio do Estado de São Paulo.
Enquanto os dados sobre o comportamento do consumidor paulista apontam estabilidade de vendas, na Província do Grande ABC registra-se queda de 5,9% no primeiro semestre.
A noticia poderia ser mais robusta ao expor as bases metodológicas usadas pela Federação do Comércio de modo a não parecer chutometria, mas isso, nestas alturas do campeonato, não é o mais importante. O grave é que a matéria poderia ser a manchetíssima da edição de hoje do Diário do Grande ABC. O temário diz mais de perto ao interesse da sociedade que a manchetíssima repetitiva sobre a cobrança indevida aos alunos do Sesi, herança do candidato a governador do Estado, Paulo Skaf. Optou-se pelo eleitoral quando o econômico apareceu livre de marcação na cara do gol.
Maratona e roleta-russa
Provavelmente tenha pesado também na escolha da manchetíssima do Diário do Grande ABC uma antiga e risível política editorial de esconder o que supostamente é negativo para a imagem da região. Não existe caminho mais condenável. Os leitores também são consumidores e por isso mesmo esperam por informações que transformem experiências diárias de encantos e desencantos em informação qualificada.
Entre a manchetíssima do Diário Regional de domingo sobre os efeitos da crise automotiva na região e a brincadeira de esconde-esconde do Diário do Grande ABC na edição de hoje a constatação vai além do pontual: de maneira geral, as manchetíssimas do Diário Regional estão mais próximas dos interesses dos leitores. Há uma linha que parece doutrinária a mover o Diário Regional na direção de um comportamento que não namore com o errático, com o improviso, com o invasivo político e partidário. Já no Diário do Grande ABC a política partidária ferve nas veias dos fechadores de primeira página.
Considerando-se que os políticos são campeões em rejeição da sociedade, parece que a opção do Diário Regional é a de corredor de maratona que espera chegar à fita de chegada da credibilidade, enquanto o Diário do Grande ABC prefere mesmo brincar de roleta-russa.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)