Imprensa

Jornalismo impresso está fora de
meu horizonte há muito tempo

DANIEL LIMA - 09/09/2014

Foi a contragosto e felizmente por apenas uma edição, em janeiro de 2011, que publiquei uma única versão impressa desde que a revista LivreMercado virou passado em minha vida profissional. Foi exatamente por acreditar no projeto de ressuscitamento de LivreMercado que aceitei preparar aquela edição. Fora isso, apesar de propostas não faltarem, inclusive recentes, jamais levei a sério a possibilidade de voltar ao jornalismo impresso. Por uma razão muito simples e sem meias palavras: o mercado de comunicação está tão aviltado e tão dependente das forças de pressão que a prática jornalística se tornou desafio a quem se pretende independente.


 


E nestas alturas do campeonato, depois de longas batalhas em 50 anos de carreira, não tenho mais disposição, saúde e tudo o mais para novos enfrentamentos. O jornalismo digital é o melhor dos remédios para quem não consegue deixar de escrever. De custos extraordinariamente mais baixos, praticamente interdita o caminho à perdição de interdependências que fazem mal à saúde.


 


O alcance desta revista digital é tão amplo, abrangente e profundo, é tão motivadoramente compensador para quem faz do jornalismo algo que transcende a lógica capitalista, que não pretendo arredar pé da atividade. Sei que isso incomoda um bocado de malfeitores da praça, gente desqualificada, gente que transforma muito jornalista em bois de piranha, quando não em vaquinhas de presépio.


 


Diploma de idoneidade


 


O maior diploma de idoneidade que um jornalista da Província do Grande ABC pode ostentar, embora não faltem concorrentes na praça, são as ações judiciais do megaempresário Milton Bigucci, presidente do Clube dos Especuladores Imobiliários do Grande ABC desde que o Muro de Berlim ainda estava em pé. Sabem lá os leitores o que é enfrentar esse mandachuva regional conhecidíssimo somente nos últimos tempos pelas traquinagens apontadas pelo Ministério Público do Consumidor de São Bernardo e pelo Controlador-Geral do Município de São Paulo, por práticas que se distanciam de qualquer coisa que lembre ética e responsabilidade social? Sem contar outras investidas do mesmo calibre, todas denunciadas nesta revista digital.


 


Até então Milton Bigucci pregava um estilo benemerente que certamente ofenderia a dignidade das Madres Terezas que revelei durante o Prêmio Desempenho, evento que comandei por 15 anos. Aquelas mulheres sofridas que atuam nas periferias da Província do Grande ABC estão num patamar de entrega aos carentes que somente os mal-intencionados ousariam rivalizar.


 


Milton Bigucci é apenas um entre pelo menos uma dezena de desafetos deste jornalista. Costumo dizer aos mais próximos que somente os jornalistas sem rabo preso com quem quer que seja e que não abrem mão do sagrado direito de socializar informação independente coleciona variada gama de adversários ferozes.


 


Liberdade detestada


 


Os poderosos de plantão e os poderosos estabelecidos ao longo dos anos detestam liberdade de imprensa. Invariavelmente, costumam comprá-la a preço de publicidade e de tantas outras artimanhas. Quando encontram um osso duro de roer, porque osso duro de roer não se roe, se respeita, eles partem para a ignorância ou contam com o beneplácito de ardilosos advogados, bem como do poder econômico, para alcançarem mesmo que parcialmente seus objetivos na Justiça. Daí, cantarolam vitórias de Pirro na tentativa de esconder os fundilhos sujos e usados, tão usados quanto sujos.


 


Talvez nos últimos anos a melhor decisão que tomei como jornalista foi sugerir à minha filha mais nova que abandonasse o curso que mal iniciara. O Judiciário acabara de dispensar diploma para o exercício da profissão. Era o argumento que faltava para convencê-la a mudar o rumo de vida. Dizia-lhe que o jornalismo morreu de morte matada havia muito tempo. Não vou desdobrar as razões que me levaram a tanto. Certo mesmo é que minha filha acaba de completar o curso de Direito. Gostaria que fosse promotora de Justiça ou delegada da Polícia Federal, mas ela quer mesmo é atuar na área criminal.


 


Pode parecer paradoxal que alguém com tanta paixão pelo jornalismo tenha recomendado à própria filha que se afastasse da profissão. O que fazer se há o sentimento de que não passamos de idiotas juramentados a apontar desvios, transgressões, roubalheiras e, dependendo das circunstâncias, ainda temos de responder pelas denúncias mais que comprovadas e documentadas de irregularidades, porque as instâncias legais não dão conta do recado.


 


Qualquer movimentação que resolva fazer para dar elasticidade à função de comunicação social nesta Província do Grande ABC redundará na aproximação compulsória com mandachuvas e mandachuvinhas que integram o Festeja Grande ABC ou o Assalta Grande ABC. Somente grandes mudanças sociais permitiriam a prática de jornalismo associado aos verdadeiros interesses da comunidade – e isso parece distante demais no horizonte. A sociedade na forma de Omita Grande ABC acompanha sempre à distância acontecimentos que perpetuam as durezas dos prélios e até por comodismo sempre conta com uma parcela pronta a acreditar em versões mentirosas de malfeitores incapazes de jogar o jogo limpo da verdade.


 


Leitores desavisados ou enviesados, que referenciam este texto a razões que não se sustentam, têm logo abaixo, no link sugerido, um artigo que escrevi há oito anos sobre a prática do jornalismo. Trata-se de fato de apenas um entre dezenas de textos que preparei sobre a profissão que abracei há muito tempo. Sem corporativismo vadio da maioria dos profissionais tanto do jornalismo quando de outras atividades.


 


Não tem sentido algum exercitar como exercito diariamente um tom crítico a situações do cotidiano (até porque, como dizia Millôr Fernandes, imprensa é oposição; o resto é armazém de secos e molhados) se não for capaz de compreender e explicitar com honestidade o contexto da atividade que me move.


 


Já estava fechando este texto quando me lembrei de outros dois, além do que mencionei anteriormente. Trata-se de uma proposta pública que explica as condições que me levariam a topar transformar esta revista digital em revista impressa também. A matéria-proposta e o resultado, um ano depois, também podem ser analisados pelos leitores.


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