Imprensa

Jornalismo é empreendimento
de responsabilidade social

DANIEL LIMA - 16/11/2006

Podem falar o que quiserem das relações do governo Lula da Silva com a Imprensa, mas há muito de verdade no que o presidente da República vomita nos momentos de maior autenticidade e destempero e que, por isso, deveria provocar mais reflexão do que condenação. 


 


É claro que esperar autocrítica da grande mídia seria demais. O que mais querem é se locupletar de verbas públicas de publicidade em detrimento da democratização dos recursos.


 


O governo federal não deve ter obrigação de contribuir com as pequenas e médias mídias locais e regionais, mesmo que apresentem de fato conteúdo qualificado sob pressuposto de preocupação com a dinâmica social e econômica. Entretanto, o jogo precisa ser jogado de forma equânime. Ou seja: a fatia de investimentos propagandísticos do Estado em seus três níveis deveria ser menos ardilosamente concentrada e, portanto, menos discricionária.


 


O modelo que está aí a perpetuar iniquidades informativas é o retrato da sociedade brasileira, profundamente desigual. 


 


Se há recursos disponíveis, que sejam alocados sob condições que fortaleçam pequenas mídias municipais e regionais.


 


Democracia informativa


 


Desconcentrar o poder das grandes corporações de Imprensa de acordo com critérios justos é uma das maneiras de praticar democracia informativa. Principalmente quando se sabe que essas grandes corporações deitam e rolam em defesa de interesses corporativos embora, todos saibam também, se esfaqueiem nos bastidores na disputa de maiores nacos de propaganda e benesses.


 


Há no Grande ABC pelo menos meia dúzia de endereços midiáticos que, em proporções diferentes mas sempre relevantes, se debruça sobre questões locais e que, portanto, deveria ser de alguma forma contemplada com recursos legitimamente distribuídos pelos governos municipais, estadual e federal em proporção e com transparência que não inspirassem margem a dúvidas e a privilégios. Entretanto, o que se observa, na maioria dos casos, é completo desprezo. 


 


Já que o governo Lula da Silva pensa para valer em algo que se assemelharia a um Plano Marshall de Comunicação, com apoio ainda não formatado às pequenas corporações midiáticas, que os representantes da Imprensa se mobilizem também numa zona sem influência das empresas de maior porte em suas respectivas geografias para acercarem-se de um conjunto de medidas que disciplinem a atividade.


 


Sim, porque o que não falta no mercado jornalístico é gente completamente despreparada que se arvora de empresário de comunicação. Há arrivistas na praça sem intimidade com a matéria. Se lhes indagarem durante um almoço o que é um "lead", provavelmente vão entender que seja um novo componente do cardápio. Seus conhecimentos sobre a importância de qualificar recursos humanos de comunicação são tão abundantes quanto troféus nacionais do Jabaquara.


 


Informação é algo muito precioso na formação de sociedades para ser tratada como quinquilharia na feira do livre-empreendedorismo.


 


Complexidade


 


Entendo que o assunto é complexo e não seria um artigo de alguns milhares de caracteres que conseguiria ajeitar a bola para o encaçapamento. Entretanto, caso o governo Lula da Silva esteja de fato interessado -- e deveria, porque ele e tantos outros que já passaram por Brasília sabem o quanto há de lobismo pernicioso entre grandes corporações da mídia -- não faltariam profissionais e empreendedores com experiência em pequenos e médios negócios do setor em municípios e regiões que se disporiam a compor grupo de estudos que provavelmente deixaria os megaempresários do setor de cabelos arrepiados.


 


Certo mesmo é que o tratamento deveria ser diferente para quem entende que empreendimento jornalístico não tem cromossomos da maioria dos demais negócios, mesmo sem cair no romantismo de imaginar que seja filantropia. A atividade de comunicação social tem porção significativa de compromisso institucional com a democracia representativa e com ramificações de cidadania. Daí, não pode ser jogada na vala comum da rubrica-padrão de negócios.  


 


O Brasil precisa de política de incentivo à democratização da mídia sem que a medida signifique atrelamento ao governo de plantão. Distanciar-se de eventuais contaminações governamentais é o contraponto providencial ao ambiente há muito tempo infestado de empreendedores que detêm concepção muito particular de compromisso social.  


 


Sabemos que não é tarefa fácil encontrar o ponto de equilíbrio legal entre liberdade de Imprensa e demanda por responsabilidade social inerente à atividade de comunicação, mas, convenhamos, do jeito que está é que não pode ficar. Quem se locupleta são os tubarões de sempre no alto e os penetras de baixo, enquanto levas de jornalistas experientes se vêem à margem do mercado de trabalho e jovens recém-formados ainda mantêm ilusões de que vão mudar o mundo.  


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