O assassinato do prefeito Celso Daniel volta ao noticiário por conta da delação premiada de um ex-executivo de ponta da Petrobrás, a maior empresa brasileira. Ouço e leio tanta coisa a respeito que não resisto. O suposto envolvimento de Ronan Maria Pinto, dono do Diário do Grande ABC, que teria chantageado petistas tempos depois do crime, serve de combustível àqueles que pretendem manter a ordem unida de que o empresário teria amealhado tanto dinheiro porque a cúpula do PT temia pelas revelações criminais do assassinato.
Ouve-se de tudo sobre a participação de Ronan Maria Pinto. Ronan Maria Pinto é protagonista na versão inicial do Ministério Público, como um dos possíveis mandantes da execução de Celso Daniel. Ronan Maria Pinto também é peça-chave da maquinaria de dinheiro sujo que teria transformado a Administração de Celso Daniel em caixa-forte da campanha eleitoral do então três vezes derrotado Lula da Silva à presidência da República.
Afinal de contas, qual é a participação de Ronan Maria Pinto no caso Celso Daniel que, como se sabe, porque assim o quis a força-tarefa do MP criada especialmente para embolar o jogo das investigações, reúne a bifurcação de um escândalo político-administrativo e de um crime político, como cansou de afirmar os promotores de Justiça.
Caindo em contradição
O que os fazedores de onda de que uma coisa tem a ver com a outra – ou seja, que a morte do prefeito está relacionada ao esquema de corrupção na Prefeitura de Santo André – se esquecem de que eles mesmos caem em contradição.
Que tipo de contradição? De apontamentos incisivos em direção a Ronan Maria Pinto como um dos autores intelectuais do crime eles dão um cavalo de pau na argumentação, e, espetacularmente, retiram o empresário da especulada participação no crime para inseri-lo no raio de ação de dedodurismo dos petistas que teriam mandado assassinar o prefeito.
Não se pode jamais desconsiderar o contexto para valorizar a possibilidade de que um escândalo político-administrativo denunciado por Ronan Maria Pinto pudesse ter mais força que a especulação sobre a morte de Celso Daniel num cenário que fugisse do grau de insanidade da Segurança Pública na Região Metropolitana de São Paulo, como concluíram as forças policiais. Afinal, o mensalão petista, precedido pelo mensalão mineiro, nem constava da imaginação de forças políticas.
Ora, se for verdadeira a versão que atribui a Ronan Maria Pinto o poder de chantagista, há consequente destruição da teoria de crime de encomenda, de crime político-administrativo, cometido contra Celso Daniel. Caso contrário, Ronan Maria Pinto agiria feito pateta, incriminando a si mesmo porque, então, era apontado nas entrelinhas pelo Ministério Público como um dos responsáveis pelo assassinato.
Operação pateta
Ronan Maria Pinto seria um chantagista que não usufruiria do dinheiro da chantagem. Se chantagem houve, portanto, teria referência exclusiva a supostos desvios administrativos da gestão de Celso Daniel, da qual Ronan Maria Pinto era fornecedor no setor de transporte e também de limpeza pública. Escândalo administrativo era algo que o PT tanto temia. Como provam gravações que infestaram a Internet mas foram espertamente adulteradas quanto ao sentido das frases, sem qualquer relação direta com o assassinato do prefeito, mas com os supostos delitos da gestão petista.
Sem entrar na bola dividida de que Ronan Maria Pinto ameaçou meter uma bala de provas na cabeça de petistas coroados para extrair uma grana altíssima que lhe teria assegurado a compra das ações de que precisava para comandar o Diário do Grande ABC, porque não tenho elementos que me garantem a afirmativa, sem entrar nessa bola dividida mas pronto a botar alguns pontos nos devidos lugares, eis que tomo uma decisão: convido os leitores a acompanharem os três textos que publiquei originalmente na edição de dezembro de 2005 da revista LivreMercado. As matérias foram transpostas para esta revista digital porque detenho legalmente os direitos do acervo editorial daquela que foi a melhor publicação regional do País durante duas décadas. Nada mais lógico, porque quem dirigiu durante todo aquele tempo a equipe de redação (sem me meter jamais na área comercial e administrativa) foi este jornalista.
O que há de tão importante naqueles textos a ponto de retirá-los do arquivo vivo desta revista digital? Nada que, como jornalista que mais tempo, inspiração e transpiração dedicou ao caso Celso Daniel, não possa ser levado ao conhecimento ou à memória de leitores que pretendam debater o assunto com o mínimo de conhecimento de causa. Sim, com o mínimo conhecimento de causa porque há gente espalhada pela praça que, apesar de tudo que produzo, insiste em questionamentos primários sobre as fontes de solidez de meus textos, principalmente quando há denúncias fortes a fazer.
Contra a ignorância
Encurtando a história, o que quero mesmo para na sequência dos acontecimentos que por certo virão porque a delação premiada do ex-executivo Paulo Roberto Costa vai fazer muito mais que barulho, vai botar fogo na praça, o que quero mesmo é que os ignorantes por natureza e os ignorantes por safadeza consumam as informações que estão disponíveis nos três links abaixo e parem de dizer bobagens. E que os leitores ávidos por conhecimento possam ter acesso ao material para que formem juízo a respeito do assunto.
Reproduzo a título de estimulo à curiosidade os trechos iniciais das três matérias, que resumem o conteúdo individual. São espécies de chamadas à audiência. Considero os três textos imperdíveis porque reuni uma porção de inspiração e muitas doses de fidelidades aos fatos para produzir três versões diferentes sobre o mesmo crime. Acompanhem:
A história que se segue é uma associação de várias fontes de informações. Do Ministério Público instalado em Santo André a interpretações jornalísticas. De testemunhos diversos, também. Nada que não tenha sido publicado ou declarado a emissoras de rádio, de televisão, na CPI dos Bingos. É essa a história que transforma o empresário Sérgio Gomes da Silva inapelavelmente no mentor do assassinato do prefeito Celso Daniel.
A história que se segue é o resultado de investigações policiais e de fatos comprovados por publicações jornalísticas. Foram 10 delegados da Polícia Civil e da Polícia Federal e 32 investigadores que apuraram a morte do prefeito Celso Daniel. Eles encerraram as investigações em abril de 2002, três meses depois de o corpo do prefeito ser localizado em Juquitiba. Vasculharam a vida dos principais suspeitos iniciais. A começar de Sérgio Gomes, que dirigia o veículo interceptado pelos sequestradores. Isso é história com fundamentação técnica, testemunhal e documental.
Entre a versão da Polícia Civil e da Polícia Federal de São Paulo de que o assassinato de Celso Daniel enquadra-se no que convencionalmente se chama de crime comum e a versão do Ministério Público de que se trata de crime político-administrativo, é melhor acreditar na primeira alternativa. Não há nexo nem provas consistentes que possam conciliar metade laranja e metade abacaxi. A junção do caso político-administrativo e do assassinato propriamente dito não é amálgama viável. É inverossímil o cruzamento de um caso e outro.
Leitores retardatários
Notaram os leitores retardatários e comprovaram os leitores mais assíduos, que conhecem de sobra a posição deste jornalista sobre a morte do prefeito Celso Daniel, que não tenho dúvidas em enquadrar o caso como crime comum? Querem saber mais sobre o assunto sem se jogarem precipitadamente nos lençóis de conceitos preconceituosos? Então leiam, pela ordem logo abaixo, as matérias completas.
O que vai acontecer com as denúncias de Paulo Roberto Costa no que for relativo à geografia da Província do Grande ABC? Não tenho a menor ideia. Só sei que sei que se há petardos instalados para atingir alvos na região, não estarão concentrados no dono do Diário do Grande ABC.
A possível apuração dos novos escândalos na Petrobrás é o caminho transverso para acabar de vez com as baboseiras que a Imprensa industrializou porque o Ministério Público fomentado pelo delegado Romeu Tuminha assim o quis: a morte de Celso Daniel é uma coisa que não tem nada a ver com a gestão de Celso Daniel.
Quem misturou os acontecimentos o fez porque fazia sentido embaralhar as cartas e, em seguida, proibir os delegados paulistas de fornecerem qualquer informação em contrário, enquanto o MP reinava com uma versão fantasiosa que acabou por prevalecer na sociedade.
Por essas e outras conservadores de centro-direita não me toleram, porque não me alinhei a uma campanha antipetista por natureza. Por essas e outras alguns centro-esquerdistas idiotas sempre acreditaram que este jornalista fazia parte do grupo de apoio ao partido.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)