Economia

Terreno contaminado

DANIEL LIMA - 23/10/2007

Informado por terceiros que o terreno escolhido para a construção do Residencial Ventura poderia estar contaminado, o diretor do Jornal ABCReporter, Walter Estevam, ligou na última terça-feira, 16 de outubro, para este jornalista.


Pretendia aquele profissional obter documentos que esclarecessem a questão. Este jornalista foi mencionado como eventual conhecedor do caso. A proposta se delineou extravagante. Disponho de sigiloso dossiê sobre aquele terreno, bem como as negociações comandadas por Sérgio De Nadai em nome da família.


Por que, então, LivreMercado não publicou a matéria para esclarecer a comunidade sobre o Residencial Ventura, um condomínio de classe média-alta programado para ser erguido em área ocupada durante várias décadas por uma indústria química?


Quem acompanha este espaço e a revista LivreMercado sabe que há tempos estamos dando estocadas em Sérgio De Nadai por conta de “irresponsabilidade” que jamais ele contestou, embora desafiado a ir à Justiça.


Então, insistiriam os leitores, por que LivreMercado não vai fundo na questão? A resposta é simples: há alguns pontos que precisam ser esclarecidos. Mas, sem qualquer sombra de dúvida, trata-se de descarado engodo o que se realizou na comercialização dos apartamentos cujas obras ainda não se iniciaram.


Voltaremos ao assunto em outra oportunidade. Repassamos na sequência a matéria do Jornal ABCReporter que, como se pode observar, foi apenas especulativa — o que é um direito de interpretação de seus diretores.


Esperamos que o Jornal ABCReporter não se furte a novas investidas porque elevar à condição de manchete um assunto tão candente e depois calar-se não é a melhor prática jornalística. Evidentemente, acreditamos que a publicação esteja no encalço de novidades que possam fortalecer os pontos vagos da matéria. Esperamos que consiga sucesso na empreitada.


Para começar, o título da matéria publicada em 18 de outubro poderia retirar a condicionalidade de “pode estar contaminada” para “está contaminada” e, dessa forma, se justificaria a notícia. Afinal, a condicionalidade é por si só problemática, porque insere dúvida e como tal a notícia não poderia ser veiculada, principalmente como manchete principal de primeira página. Mas, insisto, esse é um direito da direção daquele jornal.


A contaminação do terreno não é o ponto necessariamente principal do negócio que envolve mais de 300 famílias.


Agora, a matéria do Jornal ABCReporter:


Área de futuro condomínio residencialem Santo André pode estar contaminada



Uma área de 14 mil metros quadrados na avenida Padre Anchieta, esquina com a rua das Monções, na região central de Santo André, pode estar contaminada. No local está sendo construído um condomínio residencial com 320 unidades de apartamentos de alto padrão, divididos em quatro torres, por meio de parceria entre a incorporadora Cyrela e as construtoras MAC, São José e De Nadai. De acordo com o Saneamento Ambiental de Santo André (Semasa), um licenciamento ambiental parcial foi aprovado pelos técnicos do órgão.


Em nota, o Semasa informou que em 28 de setembro foi concedida a licença ambiental de instalação do empreendimento, e que no começo do ano os responsáveis pela obra já haviam conseguido a licença prévia, que aprovava a viabilidade do residencial. Mesmo assim, a empresa ambiental alerta que uma parte do terreno pode ter problemas. “Apesar de ter concedido a licença de instalação, o documento (parecer) apresentou ressalva técnica determinando que uma parte do terreno fosse delimitada e não recebesse intervenção até o parecer solicitado à Cetesb, que tem cerca de 60 dias para se manifestar”, afirma a nota do Semasa, informando que o processo foi encaminhado para o órgão estadual em 31 de agosto. A assessoria da Cetesb não respondeu os questionamentos da reportagem até o fechamento da edição.


A suposta contaminação de parte do terreno teria ocorrido quando no local funcionou, desde 1924, a indústria química Atlantis do Brasil, que fabricava produtos de limpeza como o alvejante de roupas Anil, entre outros. O empresário Sérgio De Nadai afirmou que é apenas um investidor do empreendimento, pois vendeu a área para a Cyrela. “O que tenho de concreto é que está tudo certo.” A assessoria de imprensa da incorporadora disse que “a empresa tem todas as comprovações de que o terreno está em condições e que o empreendimento está aprovado pela Prefeitura”.


O residencial foi anunciado no fim do ano passado como um dos maiores empreendimentos imobiliários da região, com o conceito “clube para morar”. Os 320 apartamentos, sendo 80 por torre, possuem dois tipos de plantas: 160 apartamentos com área privativa de 165 metros quadrados e quatro dormitórios e mais 160 com área privativa de 133 metros quadrados e também quatro dormitórios.


As informações colhidas é que cada unidade foi vendida por cerca de R$ 400 mil, mesmo sem nenhum pavimento erguido ainda. No setor imobiliário, a informação é desencontrada sobre a existência de produtos contaminantes no terreno, mas grande parte das unidades já está vendida.


Após a explosão de uma caixa d’água subterrânea, quando uma pessoa morreu e outra ficou ferida, os moradores do condomínio Barão de Mauá descobriram, em 2000, que o terreno onde foram construídos os prédios já havia sido utilizado como depósito de lixo industrial, que pertencia à Cofap. Na época, 1.760 famílias habitavam o local onde o lixo industrial produz o gás metano, que é cancerígeno, além de outras 43 substâncias tóxicas.


Em setembro de 2006, a juíza da 3ª Vara Cível de Mauá, Maria Lucinda da Costa, determinou a retirada dos moradores, pagamento de indenização aos proprietários dos imóveis e demolição dos 53 prédios que formam o condomínio.


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