A expressão “Província do Grande ABC”, aspeada aqui apenas a título explicativo, porque virou a melhor forma de identificar a região entre os leitores mais assíduos, está disponível em 780 textos desta revista digital. Não estou a contabilizar este artigo. Tive a curiosidade de mergulhar no acervo desta publicação para quantificar o uso dessa que é a definição provavelmente mais sábia e mais atrevida desse território de 840 quilômetros quadrados que, não faz muito tempo, vendia a ilusão, internamente e também ao público externo, de que seria privilegiada arena de politização e de cidadania da sociedade brasileira.
Todos esses badulaques de marketing não passam de conversa mole para boi dormir. Somos o ó do borogodó da sociedade brasileira. Reunimos razoável desenvolvimento econômico e social em termos internacionais mas praticamos como poucos a velha e surrada politicazinha vagabunda de interesses particulares com dinheiro público.
Convém lembrar que Província do Grande ABC saiu da artilharia de independência e do politicamente incorreto deste jornalista pela primeira vez de forma ostensivamente determinadora do futuro de tratamento na edição de 18 de julho de 2011. Antes disso, são poucos os registros dessa expressão porque foram produzidos aleatoriamente, ou seja, sem um agregado de valores que avocasse retrato concreto do que somos.
É a sociologia
Província do Grande ABC não foi retirada do armário de descaminhos da região porque este jornalista eventualmente estivesse de saco cheio. Província do Grande ABC só emergiu como política editorial porque este jornalista deixou de ser um idiota juramentado e caiu na real de que a expressão “Grande ABC” já não comportava estrutura sociológica que honrasse a camisa como algo tão singular que deveria constar de qualquer seleção brasileira de atributos revolucionários.
Mais ainda: quando submeti ao então Conselho Editorial desta revista digital a aprovação de Província do Grande ABC, a maioria avassaladora foi amplamente favorável ao uso e abuso da nova designação. Como não tenho o que esconder, mesmo que o resultado fosse diferente, menos favorável ou até mesmo o uso fosse dinamitado, seguiria adiante. Estava determinado a novos enfrentamentos.
O choque inicial entre os conservadores foi barulhento. Muitos não aceitaram a designação, embora mal desconfiassem que fossem o alvo principal da medida. Ou no fundo, no fundo, eles sabiam que as armas do desabafo estavam direcionadas às suas cabeças e trataram de cuidar da própria pele? Não lhes dei bola e jamais darei. Em resumo, eles indicam o desvio à mediocridade de pensamento e de ações.
Esportes é exceção
Entre as editorias mais intensamente ativas desta revista digital, tenho poupado de chumbo grosso apenas a de Esportes no uso de Província do Grande ABC. Tanto que em apenas 16 textos aparece esse chute na canela dos prevaricadores e dos acomodados. A regra para a editoria de Esportes é que se minimize a dureza crítica porque as representações locais são um oásis de empenho no fortalecimento de suas equipes. Mesmo quando uma ou outra agremiação se vê em maus lençóis, como o São Caetano agora e o Santo André de seguidos rebaixamentos.
Os clubes da região estão acima de seus dirigentes e mesmo estes, apesar de bobagens que uns e outros cometem, sofrem com as desigualdades do futebol brasileiro, submetidos a um calendário horroroso e a uma composição de receitas televisivas que alarga a distância entre grandes, médios e pequenos de maneira quase insuperável.
Três editorias estão entre as mais me levam a acionar Província do Grande ABC porque são intestinamente palcos do cotidiano regional. A editoria de Economia registra 166 artigos com a expressão maldita para uma camada cada vez mais ínfima de formadores de opinião, enquanto Imprensa registra 146 matérias e Sociedade outras 173. Também Administração Pública não está fora da zona de rebaixamento na utilização de Província do Grande ABC: foram até agora, desde julho de 2011, 109 artigos. Na editoria de Regionalidade são 36 matérias registradas.
Vai ser muito difícil banir Província do Grande ABC desta revista digital. Não será por conta de apenas um dos ramais do labirinto de comprometimento geral e irrestrito com o sonho de voltamos a ser um Grande ABC de verdade e, mais que isso, a descobrir as vantagens da regionalidade, que será possível eliminar esse estigma propositadamente esculpido para ferir a manipulada e gelatinosa autoestima da região.
Batalhões perdidos
Na medida em que em determinados setores da sociedade regional houver avanços que dignifiquem o sentido de pertencermos a um território de fato diferenciado e, portanto, mais próximo do Primeiro Mundo, trataremos de extinguir a definição que tanto azucrina os acomodados. Ou seja: se amanhã dermos um show de verdade em questões que constariam do guarda-chuva conceitual de regionalidade, eliminaremos o uso da expressão em questão.
Província do Grande ABC no fundo, no fundo, são os movimentos de vários pelotões de um mesmo e debilitado exército de valorização institucional da região. Na medida em que cada um dos batalhões superar as adversidades e se consolidar como vitorioso, a nomenclatura Grande ABC voltará a ser ativada. Se na guerra de guerrilhas pela retomada de Grande ABC os batalhões da Província do Grande ABC derrubarem os obstáculos que tanto os assolam, teremos a integridade nominativa de volta. Sem triunfalismo barato.
Se o leitor quer saber sobre a probabilidade de termos de volta o extraordinariamente bem sacado Grande ABC sem o antecedente nominativo de Província, ainda mais bem sacado, o que posso adiantar é que é mais que provável que nem os netos de meus netos viverão esse sonho. Há evidente aceleração no ritmo de divisionismos e fragmentações entre os sete municípios locais em diferentes variáveis humanas. Somos um bicho de sete cabeças perdido em meio às veleidades e a egocentrismos individuais.
Por isso a contagem editorial de Província do Grande ABC vai seguir adiante. Os leitores que adoram apostas poderiam fazer um bolo e disputar uma grana ao projetarem a data do milésimo gol contra da Província do Grande ABC. Querem uma dica? Se durante 38 meses foram registradas 780 vezes o uso da expressão, dividindo-se o total pela média mensal teremos como resultado final a chegada à matéria número mil entre novembro e dezembro do ano que vem. Boa sorte a todos nessa contagem sadomasoquista.
Total de 1884 matérias | Página 1
13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)