Imprensa

Da ignorância dos letrados e dos
iletrados às quentinhas do Estado

DANIEL LIMA - 05/06/2006

Temo mais a ignorância dos letrados do que dos iletrados. Os letrados têm a convicção de que sabem. Os iletrados desconfiam que não sabem. Prefiro a ignorância dos iletrados porque eles sabem que não podem ir além dos próprios chinelos. Tenho mais medo da ignorância dos letrados porque eles imaginam que podem ir muito além do que sabem e para isso usam preferencialmente a semântica, quando não a esperteza de construções verbais difusas, confusas e embaralhadoras.


 


Os iletrados guardam uma porção de ignorância lata, dessas que ferem de verdade, machucam de fato, corrompem o espírito mais puro, sem dúvida, mas é uma ignorância sem maldade tácita. Os letrados reúnem uma montanha de ignorância acrescentada. Deixam-se levar pelo suposto verniz de obras pela metade, de observações deformadas, de conclusões ofensivas e imaginam que venceram a batalha da guerra de idéias. Nada pior do que os ignorantes letrados. Eles não acreditam, jamais, que são ignorantes.


 


Principalmente se forem diplomados. Já dizia Roberto Campos que o pior burro é o burro diplomado. Os ignorantes letrados nem desconfiam que todos somos ignorantes em muitas coisas e que o melhor remédio contra a expansão da ignorância e as repercussões que isso provoca é desconfiar sempre da possibilidade de praticar auto-enganos.


 


FHC em filme


 


Leio de relance na Veja desta semana que Fernando Henrique Cardoso vai virar filme. Sugiro o nome e o roteiro: "FHC, o exterminador do Grande ABC". Só os ignorantes letrados e os ignorantes iletrados perguntarão por que. Quem precisar de mais informações é só esperar a próxima edição de LivreMercado, quando faço uma nova e mais profunda exumação dos anos FHC. Para alavancar sucesso no Brasil pode se fazer de tudo, inclusive ser o pior presidente da história do País, mas com dinheiro e um bando de puxa-sacos, tudo se resolve. Pelo menos para um punhadinho de incluídos. FHC é tão bem-vindo que o PSDB o está escondendo desesperadamente na campanha eleitoral.


 


Patriotismo e nacionalismo


 


Adorei a definição de patriotismo e nacionalismo que o presidente da Comissão Européia, o português José Manuel Durão Barroso, transpôs em interessantíssima entrevista ao jornalista Clóvis Rossi, da Folha de S.Paulo, edição de sábado. "Um grande autor francês dizia que o patriotismo é o amor dos nossos; o nacionalismo é o ódio aos outros" -- disse Barroso. Em tempos de Copa do Mundo, não faltará xenofobismo esportivo, principalmente contra os argentinos. Como, aliás, traduz uma publicidade que a TV não cansa de repetir.


 


Vereadores mobilizados


 


Juro por todos os juros que quero acompanhar de perto o que os vereadores de São Bernardo farão de fato ao intervirem no caso que envolve a Volkswagen e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. O que os vereadores entendem do assunto para botar a colher num assunto tão belicoso? Tudo bem que se trata de ação pioneira, surpreendente, importante até se for embasada em conhecimento, mas, sinceramente, tenho a impressão que se trata de ignorância de letrados iletrados -- no caso letrados é sinônimo de alfabetizados e iletrados em assuntos automotivos. A emenda pode ser pior que o soneto.


 


Mudar para quê?


 


Não faltam lideranças empresariais que criticam o governo Lula da Silva pela falta de iniciativa em promover mudanças no País. Casa de ferreiro, espeto de pau: salvo engano muito enganoso, nada se observa no panorama corporativo-institucional deste País (Grande ABC incluidíssimo) que ao menos enseje qualquer transformação no modus operandi de gestão de representatividade coletiva. Nossas entidades de classe empresarial, por exemplo, são o mais fino exemplar de conservadorismo e outros ismos manjadíssimos desde os tempos coloniais.


 


Delegada chique


 


Elegantíssima, bela, suavemente serena -- eis os adjetivos que me arrancam a delegada Elisabete Sato, que comanda as novas investigações do caso Celso Daniel, atribuição que lhe foi entregue pelo secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Saulo de Castro Abreu. Embora os membros do Ministério Público de Santo André afirmem que estão à frente das investigações, quem lidera mesmo o processo, segundo testemunhas que estão prestando depoimentos, é a delegada Elisabete Sato que -- agora revelo a fonte de minha admiração -- apareceu em foto na coluna de Mônica Bérgamo, da Folha de S.Paulo, edição de sábado, flagrada que foi em almoço do São Paulo Womans Club para as "Mulheres de Destaque". Agora só está faltando a delegada encerrar o inquérito e confirmar o que toda a mídia e o MP mais temem: que Sérgio Gomes da Silva foi boi de piranha num caso em que a política partidária e eleitoral tomou lugar do inquérito policial sério e competente de 10 delegados e 32 investigadores estaduais e federais.


 


Eleições presidenciais


 


Cada vez mais o candidato Geraldo Alckmin vai perdendo o fair play e, sem cerimônia, parte para o ataque contra um Lula da Silva que, do alto do favoritismo nas pesquisas, apenas jabeia o adversário. Acostumadíssimo às lides sindicais, Lula da Silva vem ganhando disparadamente a disputa de bastidores pela presidência da República. O estilo light de Geraldo Alckmin soa falso demais a cada recaída verbal. Para o eleitor comum, gente do povão, Geraldo Alckmin deixa escapar a única possibilidade que teria de virar o jogo: flutuar com classe no mar de destempero que tradicionalmente domina a corrida eleitoral.


  


De Nadai da nata


 


O empresário Sérgio De Nadai faz parte da chamada nata da Lide, agrupamento de empresários e executivos de empresas que representariam 39% do PIB nacional e que no último encontro, semana passada responderam que votarão maciçamente em Geraldo Alckmin. Sim, 93% dos empresários ali representados não querem ver Lula no Palácio do Planalto a partir de 1º de janeiro de 2007. De Nadai é muito próximo do articulador desse grupo de empresário, o apresentador de TV e também empresário, Dória Júnior, assessor informal de Geraldo Alckmin. A proximidade de Sérgio De Nadai com os tucanos é conhecida: foi o governador Mário Covas que lhe abriu as portas dos presídios. De Nadai, como se sabe, é um dos maiores empreendedores do setor de alimentação coletiva. Quentinha para os encarcerados e trabalhadores da livre-iniciativa.


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