Respondam-me, respondam-me com franqueza, sem safadeza, sem interesse escuso, sem gesto difuso, sem pedregulho no bolso, sem desdenhar fatos, respondam-me, rápido, rapidíssimo, onde anda a institucionalidade regional, principalmente do empresariado e do social? Será que o gato da apatia comeu? Tudo está do jeito que o diabo gosta. Para azar das próximas gerações. Depois não digam que não avisei: o que houve outro dia com o PCC será café pequeno se continuarmos nessa toada, porque essa história de que brasileiro é povo cordial, como escreveu o sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, pode ter sido verdade no passado já distante, porque nestes tempos de globalização ensandecida, de regionalidade esquecida, de metropolização maltratada, de nacionalismo de chuteiras, o caldo engrossou demais. Basta ver que a atividade que mais cresce no País é a da segurança privada com parafernálias que se rivalizam em diversidade com as vitrines de sex shop. A comparação não é nada descabida, convenhamos, porque os apetrechos de um são semelhantes aos apetrechos de outros, embora de finalidades inversas, é verdade.
Novo Diário
O novo jornal diário que está sendo preparado para aportar no Grande ABC estaria chegando em 20 de agosto, aniversário de São Bernardo. Os investimentos iniciais em recursos humanos, que pareciam desafiar o Diário do Grande ABC para uma guerra salarial, arrefeceram. Sobram informações que dão conta de que valores pactuados estão aquém dos já rebaixados níveis salariais médios do concorrente que caminha para o cinquentenário. Não vou me furtar de analisar o novo produto. Espero que seja mesmo novo. A oxigenação da mídia regional depende de concorrência séria, competente, institucionalmente voltada para a informação qualificada. Já temos piratas demais no pedaço.
Mensalão, ora mensalão
As denúncias de inédito esquema de mensalão na política nacional -- foi assim, afinal que se venderam as traquinagens petistas -- são o maior show de cinismo a que já se assistiu neste País. Refiro-me ao assunto porque acaba de completar um ano desde que o então deputado Roberto Jefferson resolveu colocar a boca do salvo-conduto no trombone do denuncismo retaliador. Mensalão na política nacional e internacional é uma árvore que muitos frutos já deu. O grande equívoco do PT foi fazer-se de virgem no bordel da política nacional. Mas parece que o povo, a julgar pelas pesquisas eleitorais que colocam Lula da Silva no topo de preferência, já assimilou o golpe.
Diagnóstico pobre
É impressionante como a mídia esportiva não tem capacidade analítica para explicar como o São Paulo é o time taticamente mais organizado do País. Poucos cronistas são capazes de destrinchar a sequência de aperfeiçoamento de uma máquina que, mesmo sem dispor de grandes individualidades, reage brilhantemente às piores situações. Sem acompanhar os treinamentos do São Paulo, mas com a experiência de quem viveu muitos anos à beira de gramados, até imagino quanto o técnico Muricy se entrega à construção daquele bloco monolítico que sabe exatamente o que deve fazer em cada situação que se apresenta. Mesmo quando fica com apenas nove jogadores, como foi o caso do jogo contra o Juventude, quando, incrível, ainda conseguiu arrancar o empate depois de estar em desvantagem no placar. É agonizante o estado crítico de nossa crônica esportiva. Chamem o Tostão, chamem o Tostão!
Radares punitivos
Então ficamos assim: o procurador de Justiça que tenta interceptar os radares eletrônicos é um emérito infrator no trânsito. Precisa dizer alguma coisa ou isso explica, domesticamente, tantos assemelhados que tentaram desclassificar a política de humanização de nossas ruas e avenidas? Quem dirige com cuidado e respeito não se preocupa com qualquer tipo de radar. Inclusive os escondidinhos. Por que não os escondidinhos? Será que é ético respeitar-se as leis apenas diante da ameaça de flagrante?
Radicalismo demais
O deputado estadual Orlando Morando bateu forte na tese de olho-por-olho-dente-por-dente ao referir-se aos acontecimentos criminais de São Paulo há três semanas. Numa entrevista a uma emissora local de TV, Orlando Morando defendeu ação radical contra os bandidos. Bem no estilo Coronel Erasmo de ser. Se bater e prender resolvessem o problema criminal, São Paulo não estaria quebrando recorde sobre recorde de novas unidades prisionais. Menos prisão e mais fábricas, eis a saída. O mais preocupante é que o debate sobre o assunto produzido pelo Canal 3 não contou com uma única contraposição sequer entre crime e economia. Até parece que a selvagem distribuição de renda do País não tem qualquer relação com as estatísticas criminais. Até prova patológica em contrário, ninguém é bandido porque quer. Devemos temê-los, criminalizá-los, penalizá-los, mas jamais exterminá-los e fechar os olhos para as imundas condições do sistema carcerário brasileiro, onde, segundo um estudioso, nem cães teriam vida tão difícil. Nossa criminalidade é basicamente metropolitana, onde as disparidades sociais são mais intensas.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)