O Grande ABC tem uma notícia positiva e outra negativa sobre a performance do segmento de ônibus e caminhões. A positiva é que alargou ainda mais a participação na produção nacional dos chamados veículos pesados. Dos 139.810 caminhões e chassis de ônibus fabricados no Brasil em 2006, 87.692 saíram das linhas de montagem de São Bernardo, ou 62,7% do total. O índice supera em 1,7 ponto percentual os 61% referentes a 2005. O viés negativo é que se trata de fatia maior de um bolo significativamente menor. Em 2005 a produção nacional de pesados atingiu 151.348 unidades e o Grande ABC respondeu por 92.388, isto é, 4.696 a mais que no ano passado. A região ganhou em termos relativos, mas perdeu em números absolutos.
A situação é diametralmente oposta à do setor de automóveis e comerciais leves. Embora o quinhão regional da produção de 2006 ainda não esteja consolidado, porque o levantamento de dados regionalizados exige trabalho de garimpagem, é possível afirmar que o recorde nacional deve contrastar com perda de participação do Grande ABC. Pelo simples fato de que a região não acompanha a evolução de outros territórios, ou melhor, perde feio a corrida da competitividade para regiões de industrialização mais recente sobre as quais não incidem custos muito mais elevados sobretudo na esfera trabalhista, além de oferecerem benefícios fiscais. A fatia da região no bolo nacional de automóveis e comerciais leves acusa queda contínua desde que LivreMercado se alçou ao exercício inédito de medir estatisticamente: chegou a 19% em 2005 após registrar 21,5% em 2004 e 23,7% em 2003. Com base nesse retrospecto e na realidade de intensificação de investimentos em expansão da capacidade de fábricas instaladas em outras regiões será de estranhar se o próximo levantamento indicar patamar acima de 19%.
Em caminhões e ônibus a situação é bem diferente. A participação do Grande ABC saltou de 58,1% em 2003 para 60,1% em 2004 e 61% em 2005. A novidade é que, pela primeira vez nos últimos quatro anos, a representatividade maior se dá sobre base menor, já que a produção nacional de ônibus e caminhões vinha crescendo ano a ano.
O motivo pelo qual veículos leves e pesados enfrentam trajetórias opostas é uma das conclusões históricas que estamparam a capa de LivreMercado de agosto de 2004 com o título “Somos Pesos Pesados do Setor Automotivo” – caminhões e ônibus embutem maior valor agregado, o que permite diluir custos trabalhistas reconhecidamente mais elevados. Além disso, a produção de pesados é concentrada em poucas plantas ao redor do mundo, enquanto veículos de passeio são muito mais pulverizados.
Baixa demanda – O arrefecimento do mercado interno de caminhões foi o motivo que fez com que o Grande ABC produzisse 4.696 veículos pesados a menos em 2006. Basta comparar os números. A produção brasileira de chassis de ônibus assinalou ligeiro aumento de 33.809 em 2005 para 35.244 no ano passado, enquanto a de caminhões caiu de 116.104 para 106.001 no mesmo período, basicamente porque a implementação obrigatória de nova regulamentação de emissões encareceu os produtos e o baixo crescimento da economia brasileira frustrou a demanda por bens de capital. Especificamente no setor de caminhões a participação do Grande ABC atingiu 61,4% em 2006 com 65.090 unidades montadas pelas fábricas da Ford, Daimler Chrysler e Scania, ante 69.499 e participação de 59,85% em 2005. Em chassis de ônibus a fatia regional chegou a 66,8% no ano passado com 22.602 unidades, ante 22.899 correspondentes a 65% em 2005. O saldo é o seguinte: dos 4.696 veículos pesados produzidos a menos pela região em 2006, 4.409 são caminhões e 287 chassis de ônibus.
A Daimler Chrysler continua reinando absoluta na raia em que o Grande ABC nada de braçadas. A dona da marca Mercedes-Benz produziu 50.329 veículos pesados em 2006, 35,9% do total nacional ou 57,3% do bolo regional, com 20.783 chassis de ônibus e 29.546 caminhões. A Ford produziu 21.269 caminhões e a Scania montou 14.275 caminhões e 1.819 chassis de ônibus. Entretanto, a participação da subsidiária sueca no PIB de São Bernardo e da região é relativamente maior porque se dedica ao nicho dos caminhões extrapesados.
Fora do Grande ABC a montadora de maior destaque é a Volkswagen. Do condomínio industrial instalado em Resende, no Rio de Janeiro, saíram 28.040 caminhões e 6.048 ônibus, ou 24,3% da produção nacional. Com números mais modestos, completam o mapa Agrale e International, com fábricas no Rio Grande do Sul, Volvo, no Paraná, e Iveco, em Minas Gerais.
A concentração da produção de veículos pesados em São Bernardo é a chave para entender por que – apesar da participação cada vez mais rarefeita em automóveis e comerciais leves – o Grande ABC respondeu por 63% dos valores exportados pela indústria automobilística em 2005 e por 56% do faturamento do setor no mesmo ano, de acordo com dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). Na condição de plataformas continentais de exportação, Scania, Daimler Chrysler e Ford embarcam mais da metade do que produzem. E a peso de ouro nestes tempos de valorização cambial.
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