Imprensa

Perdemos uma Volks de emprego
em um ano, alerta Diário Regional

DANIEL LIMA - 17/10/2014

A manchetíssima de primeira página (manchete das manchetes) do Diário Regional de ontem, quinta-feira, teria sido perfeita como informação e oportunidade se mencionasse diretamente a fábrica da Volkswagen de São Bernardo. O título “Setor industrial fecha 14,8 mil empregos em um ano no ABC” teria sido mais impactante e compreensível caso sofresse leve mas autoexplicativa mudança que incendiaria a compreensão dimensional dos leitores: “Setor industrial fecha uma Volks de empregos em um ano no ABC”. A ditadura gráfica à composição da manchetíssima não era barreira. “Volks” caberia perfeitamente no espaço destinado a “14,8 mil”. A manchetíssima do Diário Regional merece nota oito deste ombudsman não autorizado e sempre abelhudo.


 


Antes de prosseguir, não custa explicar o significado de ”ditadura gráfica” em termos jornalísticos. Trata-se de formato-padrão reservado aos títulos das matérias, conforme o cobertor da linha gráfico-visual de cada publicação. Por exemplo: neste CapitalSocial tenho o limite de 30 caracteres (contando os espaços em branco) para cada linha do título que os leitores leem acima. Caractere é cada letrinha que compõe uma palavra. Por exemplo: “caractere” conta com nove caracteres. Um mesmo espaço pode agregar mais ou menos caracteres. Depende do tamanho de cada caractere. CapitalSocial tem uma mesma configuração e uma mesma tipologia para os títulos. Se não entenderam bulhufas, deixem para lá. Se fosse fácil explicar o problema, porque é mesmo um problema, não se chamaria “ditatura gráfica”.


 


Na dúvida, o melhor


 


Provavelmente o autor da reportagem do Diário Regional dividiu-se entre o positivismo enganador do saldo de 105 postos de trabalho envolvendo todas as atividades econômicas e a perda cumulativa, pelo 12º mês seguido, no setor industrial, o qual, principalmente na região, dita o rito do desenvolvimento econômico. O Diário do Grande ABC, no eterno processo de surpreender leitores com manchetíssimas ou manchetinhas de primeira página voltadas à ideia de que tudo está às mil maravilhas na região (exceto quando direciona o noticiário ao prefeito Luiz Marinho, que o faz por merecer em várias situações), optou por outro caminho.  


 


Quem acertou mais o alvo foi a direção editorial do Diário Regional. Muito mais que possível sazonalidade numérica positiva do emprego com carteira assinada como um todo na região, a linha do tempo estruturada em contínua baixa de recursos humanos do setor de transformação industrial expressa o contexto em que vivemos. Emprego industrial é emprego de qualidade que sustenta, no caso da Província, a maior parte do potencial de dinamismo econômico.


 


Manchetíssima importante


 


A bem da verdade dos fatos, a manchetíssima do Diário do Grande ABC de ontem, quando saíram os números do Ministério do Trabalho sobre o salto mensal e anual do emprego com carteira assinada na região, não colidiu com a falta de bom senso, como no caso do dia das eleições subestimado pelo Dia Mundial da Habitação. O titulo “Atraso de dinheiro federal emperra reforma de estações de trem no ABC” também foi uma abordagem respeitável para o principal espaço editorial do jornalismo diário de ontem.


 


O contingente de usuários de transporte ferroviário na região é um argumento de peso durante eventual reunião de pauta que define quem vai ocupar os melhores espaços na primeira página. Entretanto, recursos gráficos no uso dos dados alarmantes do emprego industrial na região como elementos de uma submanchetíssima seriam uma medida certeira para alcançar outro universo para lá de importante. Preferiu o Diário do Grande ABC uma discreta chamada de primeira página sobre o placar de empregos e mesmo assim sob o ângulo cor-de-rosa do saldo geral na região em agosto.


 


Apesar do acerto do Diário Regional no tratamento editorial-gráfico de primeira página, insisto na cobrança dos jornais da região a exercitarem um pouco mais a criatividade. Que agreguem à sempre programada divulgação de dados mensais do Ministério do Trabalho mais informações complementares sobre a situação local da economia.


 


Matérias frias


 


Um exemplo de como seria possível dar peso adicional de interesse geral dos leitores à compressão da situação do emprego industrial na região pode ser retirado de recente cobertura da Editoria de Esportes do Diário do Grande ABC: o São Caetano perdeu um jogo num domingo à tarde e na edição do dia seguinte o jornal publicou muito mais que um relato breve da partida, mas reportagens paralelas comparando o rebaixamento da equipe aos tempos de glórias.


 


Trata-se das chamadas matérias frias. O Diário do Grande ABC estava tão convicto de que o São Caetano seria rebaixado que tratou de preparar o funeral editorial.


 


Por falar em funeral, quando diretor de Redação do Diário do Grande ABC em 2004-2005, já tínhamos tudo preparado sobre o então prefeito Luiz Tortorello, internado durante algum tempo na Capital. Havia um diagnóstico cruel sobre as possibilidades de Tortorello escapar do infortúnio.


 


Frieza só aparente


 


Quem não entende a função jornalística é capaz de jurar que somos implacáveis e desumanos ao preparar textos fúnebres sobre enfermos vivos. Diferentemente dos palhaços que riem no palco quanto têm tudo para chorar por conta de um parente que se foi antes ou durante o show no picadeiro, nós antecipamos sentimentos que o noticiário em preparo desperta. Quando Tancredo Neves morreu há 30 anos, a redação do Diário do Grande ABC se voltou apenas à cobertura dos fatos do dia. O longo calvário do presidente eleito mas não empossado foi preenchido com as chamadas matérias de gaveta.


 


Voltando ao mundo dos vivos e ainda sobre a manchetíssima do Diário Regional de ontem, transpareceu também que a migração da reportagem à primeira página foi uma operação de guerra. A abertura do texto da página interna sugere que tenha passado pelo enxerto das perdas industriais nos últimos 12 meses, contrapondo-se ao saldo de 105 postos de trabalho em agosto, ao qual se deu maior ênfase na abertura da reportagem.


 


No fundo, isso tem pouca importância quando se diagnosticam manchetíssimas. Antes um texto interno menos enfático e que tenha demorado em se dar conta de que um elefante passeava pela redação do que, em nome de um comodismo sempre condenatório, deixar tudo como está e puxar um título que venda a informação incorreta. subestimando-se a manchetíssima mais evidente. Ou seja: é melhor desmanchar parcialmente uma costura mal feita para se adequar ao figurino recomendável do que insistir no erro de cálculo em nome da preguiça.


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