Uma preciosidade de Entrevista Especial com o então presidente da Anapemei (Associação Nacional de Pequenas e Médias Empresas Industriais), Cláudio Rubens Pereira, acaba de ser resgatada no acervo digital desta revista digital. Publicadas originalmente na edição de julho de 2003 da revista LivreMercado, as declarações de Cláudio Rubens Pereira, morto 10 anos depois, em 2013, sem que esta Província sequer entendesse o que ele significou de importante, são um extraordinário testemunho das transformações econômicas pelas quais passou a região sem que houvesse medidas significativas de correções, adaptações e transformações.
Trazer de volta o depoimento de Cláudio Rubens Pereira é uma oportunidade especial entre outros sentidos para mostrar e provar o quanto a Província do Grande ABC se empobreceu também no potencial de interlocução com gente que possa contribuir nas relações que se esgarçaram e viraram sarapatel indigesto.
O que Cláudio Rubens Pereira desfila na longa entrevista não é uma sequência de frases de quem finge que dá entrevista mas o que quer mesmo é fixar estacas para alavancar relações compensadoras, como a quase totalidade dos casos que encontramos hoje nos jornais da região. Cláudio Rubens era um exemplar muito especial que não se furtava a análises ácidas. Pouco se lixava para o entorno social liderado pelos espertos de sempre.
Quanta falta faz!
Sugiro ao leitor um pouco de paciência antes de ir direto ao link logo abaixo. A consumação desse marketing de chamamento à Entrevista Especial é muito importante porque ajuda a aquecer o interesse pelo que encontrará digitado. As declarações de Cláudio Rubens fazem muita falta nestes tempos de encruamento da sociedade regional, dividida entre um Defenda Grande ABC cada vez menos corajoso, um Festeja Grande ABC cada vez mais abusado, um Assalta Grande ABC cada vez mais senhor de si e um Omita Grande ABC cada vez mais congelado.
Não se pode dizer que Cláudio Rubens representava uma Província do Grande ABC múltipla em agentes sociais contestadores dos efeitos da globalização e de tantas outras mudanças nos anos 1990. Sempre fomos um batalhão muito restrito de inconformistas. É muito mais fácil e lucrativo bajular os poderosos. Sempre fomos poucos, repito, mas o entusiasmo de Cláudio Rubens, que não fugia à luta, em contraste com tanta gente covarde já naqueles dias, era um bálsamo. Pena que não fosse minimamente marqueteiro, no bom sentido do termo. Parece que a ciência só interessa aos que adoram enfeitar falsos pavões.
Quem, além deste jornalista, teria coragem, já naqueles tempos, de dizer o que disse Cláudio Rubens sobre as associações comerciais e industriais da região, por exemplo? Eis o que disse, com todas as letras:
Associação comercial, industrial e agrícola é impossível de existir, até porque cada segmento tem um certo estágio, um certo tempo e uma certa velocidade de resposta. A velocidade de respostas maior sempre foi da área comercial. Então, qualquer entidade que seja comercial não conseguirá ser industrial. E muito menos agrícola, que é o mais prolongado processo de respostas. Poderia existir até um colegiado que representasse as três atividades, mas a vocação é única. Quer um exemplo prático? Alguém já ouviu falar em enfeite de Natal para comemorar o Dia da Indústria? Claro que não. Não adianta querer juntar no mesmo saco, gato, rato e cachorro. São animais, mas animais diferentes.
Lembrando Celso Daniel
Ao reler a entrevista com Cláudio Rubens Pereira não resisti à constatação de que o material se alinha a outro diálogo intenso, transformado igualmente em Entrevista Especial, no caso com o então prefeito de Santo André, Celso Daniel, quando aproveitei uma viagem de dirigentes e torcedores do Santo André, de ônibus, a São Carlos. Nem senti o tempo passar – e foram mais de duas horas de translado – na gravação de uma das mais compensadoras intervenções ao longo de minha carreira.
Quem quer conhecer uma parte substantiva da história das pequenas e médias indústrias familiares da Província do Grande ABC não pode deixar de acessar o link logo abaixo. Cláudio Rubens Pereira é tão imperdível, porque verdadeiro e cáustico, que não deixa margem de dúvidas sobre as razões de ter sido aparentemente esquecido pelos cultivadores da memória regional. Ele incomodava e incomodava para valer porque, além de autêntico, não dava bola para os aproveitadores de sempre.
Total de 1884 matérias | Página 1
13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)