Imprensa

Manchetíssima do Diário acerta
mandonismo de Marinho em cheio

DANIEL LIMA - 10/11/2014

A manchetíssima (manchete das manchetes de primeira página) do Diário do Grande ABC de domingo acertou em cheio o alvo chamado Luiz Marinho, presidente do Clube dos Prefeitos do Grande ABC: a denúncia de que o petista pretende ocupar a direção daquela organização pelo terceiro ano consecutivo não é novidade (tínhamos informado aos leitores antes, com base em outras publicações da região), mas a elevação do assunto à condição de principal peça informativa de uma edição de domingo é um tento e tanto. Nessa nova intervenção como ombudsman não autorizado, dou nota sete à manchetíssima do Diário.


 


A notícia estampada na manchetíssima dá importância vital à regionalidade e por isso mesmo não pode perder-se nas brumas da sazonalidade jornalística. Muito pelo contrário: regionalidade em suas múltiplas dimensões deveria ser cláusula pétrea do jornalismo regional. E o Clube dos Prefeitos é uma das peças do tabuleiro, como a Fundação do ABC, o sindicalismo, as montadoras de veículos, as entidades de classe, o Clube dos Especuladores Imobiliários, entre outros. Colocá-los na alça de mira crítica é compromisso com a sociedade.


 


As ações de Marinho, mandachuva maior entre os prefeitos da região, precisam ser monitoradas. O ex-sindicalista quer fazer do Clube dos Prefeitos plataforma de visibilidade que a dinheirama a ser derramada pelo governo federal permitiria, com vistas ao sonho de virar governador do Estado.


 


É um direito de Luiz Marinho sonhar com o que bem entender, inclusive para constatar horrorizado que muitos sonhos se transformam em pesadelos, mas daí a corromper o histórico do Clube dos Prefeitos com um terceiro mandato seguido é demais. A partidarização dessa ferramenta que ainda está longe do mínimo necessário à costura de uma Província do Grande ABC que poderia voltar a ser simplesmente Grande ABC é uma metástase a ser evitada.


 


Resistência improvável


 


Tomara que haja mesmo resistência à empreitada. Mas tenho dúvidas se haverá número suficiente de prefeitos que obstariam os passos ambiciosos de Luiz Marinho. A contabilidade é simples e incisiva: basta colecionar quatro votos. E esses votos seriam o dele, os dos petistas Carlos Grana e Donisete Braga e o de Paulo Pinheiro, peemedebista que chegou ao Palácio da Cerâmica, em São Caetano, graças aos recursos de campanha liderada pelo agora deputado estadual Luiz Fernando Teixeira, homem-chave de Luiz Marinho. 


 


A manchetíssima do Diário do Grande ABC de domingo (“Marinho planeja modificar regra para presidir Consórcio pela 3ª vez seguida”) e a reportagem como um todo não deixam dúvida de que o jornal se opõe ao golpe. E o faz relacionando a intenção do prefeito aos recursos do governo federal. A projeção é de que chegarão à região no ano que vem nada menos que R$ 461 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento.


 


Tenho dúvidas sobre esse montante do PAC. As contas do governo federal estão em pandarecos. Mesmo assim vem dinheiro grosso. Os primeiros dinheiros grossos da história do Clube dos Prefeitos, porque agora a legislação o permite. Nos tempos de Celso Daniele era uma dureza só.


 


Clube reconhecido


 


Um dos pontos que me agradaram na reportagem do Diário do Grande ABC (e também na chamada de primeira página) foi a referência, pela primeira vez na história do jornal, ao “clube que reúne chefes do Executivo”. Nunca antes na história da Imprensa regional o Diário do Grande ABC cedeu a uma das marcas criadas por este jornalista, exceto quanto ali estive como Diretor de Redação. Clube dos Prefeitos do Grande ABC, assim como Clube dos Especuladores Imobiliários, da mesma forma que “Complexo de Gata Borralheira”, “Doença Holandesa” e tantas outras expressões adaptadas à nossa realidade, são uma maneira de facilitar o entendimento dos leitores sobre os enunciados.


 


Uma grande parte da Imprensa regional evita essa elasticidade identificadora de instituições e realidades, quando não a abomina, porque supostamente estaria lustrando o ego deste profissional. Pura bobagem. A expressão “Grande ABC” sempre foi utilizada por este jornalista e continuará a ser. Pouco me interessa se é uma simbologia da tradição do Diário do Grande ABC. Não suportaria escrever apenas ABC, ou ABCD, ou algo semelhante. Grande ABC é um achado como marca de veículo de comunicação e também como geografia territorial. Aquelas bobagens tipo ABCDMRPRGS são de lascar.


 


Voltando à manchetíssima do Diário do Grande ABC sobre a intenção de esticamento do mandato de Luiz Marinho no Clube dos Prefeitos: para começo de cobertura do assunto, o publicado não foi escasso, mas é possível avançar e muito nessa temática. Uma comparação entre a ambição de Luiz Marinho e o maior dos prefeitos da história da Província, Celso Daniel, seria boa medida.


 


Não pretendo invadir essa grande área agora, mas há distinções escandalosas entre eles: Celso Daniel era vocacionalmente regionalista, independentemente dos valores financeiros envolvidos na entidade, enquanto Luiz Marinho é extremamente partidário, ideológico e materialista na condução do organismo.


 


Existe um imenso muro entre esses dois modelos de políticos da região. Uma comparação mostraria o tamanho do rombo na institucionalidade regional. Sem contar o fosso de competências entre um intelectual que sabia formar equipes e um ex-metalúrgico que não abre mão de grupinhos. 


 


Dependência demais


 


Não se discute nem se deve discutir a importância político-estratégica de Luiz Marinho seguir à frente do Clube dos Prefeitos do Grande ABC no relacionamento com o governo federal. Se as organizações regionais ou municipais forem estruturadas de forma a depender de interseções partidárias acima dos interesses gerais da sociedade regional, é melhor fechar as portas da institucionalidade para balanço. Não restará nem resquício de elementos democráticos a salvaguardar o que restaria de esperança de novos tempos na região.


 


Um dos pontos que mais irritam quem ouviu de sindicalistas do passado que as práticas políticas precisariam ser destruídas, porque permeadas de vícios atávicos, é acompanhar declarações de surpresa do prefeito Luiz Marinho ante a possibilidade de alteração estatutária no Clube dos Prefeitos de modo a mantê-lo no cargo, quando se sabe que a iniciativa é dele, somente dele, e distribuída aos asseclas como missão a cumprir.


 


Para quem como Luiz Marinho resistiu durante tanto tempo a assumir o Clube dos Prefeitos, então sem perspectiva de injeção de dinheiro grosso, não causa surpresa que o prefeito de São Bernardo se lance à iniciativa agora que as burras supostamente estariam cheias. Como se sabe, o partido ao qual está vinculado tem imensa e exclusiva capacidade de ordenhar a vaca leiteira de recursos federais.


 


O fortalecimento das bases petistas na gestão do Clube dos Prefeitos, com peças chaves no organograma da instituição, faz parte do jogo de controlar o dinheiro sem riscos.


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