Oito anos depois de a indústria moveleira despertar para a necessidade de acompanhar a modernização dos processos fabris, o Grande ABC ganha Centro Tecnológico da Madeira e do Mobiliário que irá calar as principais reclamações do setor: escassez de mão-de-obra especializada e necessidade de ampliar ações na formação profissional. Inaugurado no início de junho nas dependências do Senai Almirante Tamandaré, em São Bernardo, o Centro Tecnológico consumiu investimentos de R$ 3 milhões em adequação de laboratórios e equipamentos, o que contempla os primeiros acordos assinados para o setor em 1998 pela Câmara Regional. “Adquirimos maquinário de ponta e ainda passamos por reforma estrutural das instalações” – diz o diretor do Senai, Murilo Strazzer.
Apesar das mudanças, a tradição da escola na marcenaria que data da década de 60 será mantida, principalmente na formação de jovens aprendizes. No entanto, a visão do setor vai ter valor agregado o suficiente para atender empresas de grande porte. “O ganho de qualidade está na produção mais consciente, com utilização de materiais alternativos e incorporação de novos conceitos” – diz Strazzer. As novidades chegam com o curso técnico de marcenaria que capacita profissional para produção moveleira em série ou personalizada, como é a vocação da região.
O diferencial entre aprendiz e técnico de marcenaria está ancorado na responsabilidade do profissional por todo o processo de produção, que se estende da escolha da matéria-prima até o acompanhamento do pós-venda das peças. Em resumo, a mão-de-obra da região salta de estágio artesanal prosaico para profissional com arte. “Embora a reinvidicação do Centro Tecnológico seja antiga, era fundamental equacionar a questão da qualificação da mão-de-obra” – diz o prefeito de São Bernardo, William Dib, que prestigiou a inauguração do Centro Tecnológico.
Mesmo com pioneirismo reconhecido na indústria moveleira, o Grande ABC perdeu terreno para os Estados do Sul do País. “Lá as empresas recebem incentivo em vário sentidos: tributário e para exportação de madeira, por exemplo” – diz William Dib. O prefeito lembra que há quatro anos o setor conquistou redução de ICMS e defende que daqui para frente os esforços devam se concentrar na instalação de curso de design para que a indústria local crie modelos mais competitivos. “Tem de ter qualidade e ser bonito” – argumenta Dib. A instalação de centro avançado de design completaria o ciclo de necessidades do setor moveleiro.
Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, a administração municipal buscou em Brasília parceria para criar centro de design que atendesse aos setores automotivo, plástico, têxtil e moveleiro. Esforço em vão. Não faz muito tempo reiterou a ideia junto ao Ministério da Ciência e Tecnologia e também não obteve sucesso. “Não tem como o Município arcar com investimento desse porte” – lamenta William Dib.
Até a chegada do Centro Tecnológico, a saída encontrada pelo setor foi a importação de tecnologia e conhecimento do pólo gaúcho. Parceria com o Cetemo (Centro Tecnológico do Mobiliário do Rio Grande do Sul) rendeu vários projetos – capacitação em pintura e reestruturação de layout – que resultaram em economia no consumo de tinta em até 30%, bem como melhor qualidade de acabamento dos móveis, redução dos riscos de acidentes em até 15% e aumento da produtividade em até 20%. “Quando precisávamos de especialização tínhamos de recorrer a Bento Gonçalves e contratar profissional para vir para cá” – lembra o presidente do SimSBC, Hermes Soncini.
Fora os cursos gratuitos, o Senai oferece possibilidade de formação continuada que atende cerca de 300 alunos por ano. “As turmas do Curso Técnico em Movelaria e da Aprendizagem beneficiadas pelos investimentos deverão ingressar no mercado de trabalho a partir do próximo ano” – comemora o presidente da FIESP, Paulo Skaf. Em relação aos cursos de educação continuada, já estão disponíveis 30 programas de capacitação para o profissional que deseja se atualizar.
A expectativa do setor moveleiro nacional para 2006 é de crescimento de 5% em relação ao ano passado. No balanço anual de 2005, a maior taxa de crescimento foi da Bahia (50,60%), seguida por Minas Gerais (46,35%), Ceará (44,61%) e São Paulo (29,09%). Com a chegada do Centro Tecnológico em São Bernardo, as indústrias da Região Metropolitana de São Paulo ganham competitividade para engordar o market share do Estado. Durante a inauguração do Centro Tecnológico, Paulo Skaf ouviu demandas do empresariado local sobre mais investimentos e apresentou algumas das ações nas quais a Fiesp está engajada, como a luta pela aprovação da lei Geral da Micro e Pequena Empresa que tramita no Congresso Nacional; a sanção do Refis e a elaboração do documento oficial da Fiesp, com as propostas apresentadas durante o Congresso da Indústria, realizado em maio último, que deverá ser entregue em julho aos candidatos à Presidência da República e ao governo do estado. “Se considerarmos que a competitividade também depende da qualidade dos recursos humanos, a empresa que contar com melhores profissionais certamente terá diferencial no processo produtivo” – diz Paulo Skaf.
São Paulo detém a maior concentração de empresas do setor, com mais de três mil indústrias, das quais 1,2 mil da Região Metropolitana, onde está concentrado o maior mercado interno de consumo de mobiliário. No Grande ABC o setor reúne cerca de 450 empresas e sete mil funcionários, dos quais 90% são micro e pequenas empresas com até 100 funcionários. A característica predominante são os móveis residenciais de madeira. São Bernardo guarda no currículo o marco tradicional de indústria moveleira da região e mantém vivo o tradicional pólo do setor pelas vendas do comércio.
Enquanto a produção de São Paulo está voltada para abastecimento do mercado interno, a produção dos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul respondeu por 70% das exportações de 2005 enquanto São Paulo contribuiu com 7,2% do total, equivalentes a US$ 67,7 milhões. Mas a indústria paulista tem ampliado as exportações. Em 2005 o setor fechou com crescimento de 5,3% nas exportações com relação a 2004, representando US$ 990,4 milhões. Santa Catarina apresentou crescimento de 1,5%, Rio Grande do Sul queda de 2,2% e São Paulo crescimento de 29,09%.
Não à toa, o consórcio de exportação é boa oportunidade para as empresas da região. O APL (Arranjo Produtivo Local) de móveis reúne 40 empresas, das quais 20 do Grande ABC, e visa o desenvolvimento de ações cooperadas entre as indústrias do setor para aumentar a competitividade e sustentabilidade por meio de processos locais de desenvolvimento. A meta do APL é reunir 90 empresas até 2007. “Com mais competitividade, a região vai ganhar novas fatias de mercado” – explica a gerente regional do Sebrae Grande ABC, Josephina Irene Cardelli.
Para que a expansão seja bem-sucedida, informação é fundamental. Representantes do Sebrae-SP, em parceria com o Sindimov e o SimSBC, com apoio da Fiesp, da Abimovel (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário) e do CSPD (Centro São Paulo Design) empreenderam pesquisa exclusiva sobre o perfil das empresas do setor. O estudo envolveu 123 empresários que responderam quase 500 questões sobre gestão de negócios, competências técnicas, estratégicas e comportamentais, e revelou itens como a propensão das empresas à revitalização de ações conjuntas, a criação de centrais de compra e sistema de informações de marketing com dados sobre o mercado moveleiro. Foi constatada ainda miopia mercadológica, traduzida na intenção das empresas de ganhar mercado, sem que haja, no entanto, planejamento de divulgação.
Total de 1894 matérias | Página 1
21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?