Economia

Diadema quer ficar mais
perto do oceano Atlântico

WALTER VENTURINI - 12/04/2006

A Prefeitura de Diadema quer otimizar a estrutura que reúne 35% das empresas do Grande ABC que vendem produtos para fora do País. Uma das negociações é a criação de um porto seco para agilizar a burocracia. A iniciativa está inserida na série de ações do programa Exportacidade, do governo federal.


Prensas para indústrias automobilísticas, autopeças, produtos químicos, borracha, plásticos e cosméticos constaram da pauta de exportações de Diadema no ano passado, quando as vendas atingiram US$ 287,5 milhões. O valor representa crescimento de 28% em relação a 2004. Se a comparação for feita com 2002, o aumento chega a 152%. “Já se justifica um porto seco, por isso estamos negociando com as principais empresas exportadoras. Outro dado importante é que são principalmente empresas médias e pequenas que só conseguem permanecer no mercado porque exportam entre 20% e 30% da produção” – afirma o vice-prefeito e secretário de Desenvolvimento Econômico, Joel Fonseca.


A ação da Prefeitura já pode contar com alguns apoios. “O porto seco facilitaria o desembaraço de mercadorias em Santos. Não é só a vantagem da desburocratização, mas um impacto que reduz e simplifica tributos. Todo o trabalho nesse sentido é importante para tornar as exportações competitivas diante de um real valorizado” – explica o diretor-administrativo e financeiro da Prensas Schuler, Paulo Tonicelli. A empresa é a maior exportadora de Diadema: vendeu R$ 91 milhões no mercado externo no ano passado, principalmente para Estados Unidos, China e União Européia.


São vendidos grandes equipamentos para plantas de montadora nos principais centros automotivos do mundo. A valorização do real frente ao dólar, reclamação recorrente de exportadores brasileiros, pressiona de forma particular empresas como a Schuler. “A empresa não tem mercado interno suficiente, por isso a exportação adquire importância fundamental” – explica Tonicelli.


Para a Dana, autopeças de Diadema, que exporta para os Estados Unidos e União Européia, o porto seco também é bem-vindo. “Vale a pena qualquer iniciativa para melhorar a infra-estrutura, simplificar e acelerar o processo. É um atrativo a mais para outras empresas se instalarem na cidade. O problema das exportações brasileiras está na logística, que torna difícil e caro tirar o produto do Brasil” – declara o diretor de Comunicação Corporativa, Luciano Pires. O vice-prefeito Joel Fonseca prevê que atividades de armazenagem podem ser eliminadas com o porto seco. “Já existem portos secos com áreas reduzidas, onde a atividade se concentra em escritórios que registram a entrada de contêineres ainda em cima das carretas”.


“É uma proposta viável, mas é preciso avaliar os custos para o exportador” – pondera o trader da Brasmetal Waelzholz, Renato Moreira Maffei, para quem a boa performance de Diadema nas exportações se deve a privilegiado posicionamento logístico. “A cidade está próxima do porto de Santos, do aeroporto e do sistema Anchieta-Imigrantes” – explica Maffei. Geografia e logística conspiraram para que, ano passado, 312 empresas de Diadema exportassem, o que representa 35% dos empreendedores do Grande ABC com vendas no mercado externo. O desempenho não é recente e foi base para que Diadema se convertesse na cidade do Estado que mais gerou empregos.


O desempenho contou pontos para Diadema quando o governo federal decidiu implantar o Exportacidade no Estado de São Paulo. O programa faz parte das ações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. No mês passado, o ministro Luiz Furlan esteve em Diadema para lançar o programa. O objetivo do Exportacidade é estimular pequenas e médias empresas a ingressarem no setor de exportação. Estão previstas várias ações para fortalecer a competitividade exportadora, por meio da interação entre os setores público e privado, entidades de classe e instituições afins. O programa também capacitará pequenos e microempresários para exportar e promoverá produtos por meio de trading companies.


O Exportacidade prevê, ainda, instalação de núcleos de apoio aos exportadores em parceria com instituições locais, mapeamento da quantidade, qualidade e capacitação da produção local e inserção das empresas em feiras e exposições nacionais e internacionais.


“Empresas médias e pequenas não exportam porque acham que é uma operação complicada. O projeto Exportacidade espalha cultura da exportação pela cidade. Uma empresa que exporta tem que ter gente que fale pelo menos dois idiomas. Por isso a cidade precisa de escolas de línguas, precisa de hotéis. Quando se fala em exportação, não se pode enxergar somente o valor das vendas, mas essa cadeia produtiva que vem junto” – ressalta Luciano Pires, da Dana. Um sinal da mudança do ambiente no universo exportador de Diadema é a anunciada instalação do Hotel Íbis, da Rede Accord, que pretende construir unidade com 120 apartamentos.


O vice-prefeito Joel Fonseca quer atrair mais serviços e facilidades para melhorar o desempenho nas exportações. “Precisamos de uma agência do Banco do Brasil que tenha perfil de exportação. Boa parte das operações de comércio exterior de empresas da cidade é feita a partir da agência do Banco do Brasil em Rudge Ramos, em São Bernardo” – observa.
Atrair serviços de exportação do Banco do Brasil é tarefa que vai requerer poder de argumentação junto às esferas federais. O Banco do Brasil mantinha até o ano passado a centralização do processamento de câmbio em Rudge Ramos. No entanto, agora a agência cuida apenas de operações que envolvam pequenas empresas. Grandes e médios empreendimentos operam na Capital.


O incremento das exportações tem de ser acompanhado de ações de médio e longo prazo. Como exemplo, o vice-prefeito Joel Fonseca cita a necessidade de negociar com a Eletropaulo investimentos que permitam às empresas planejar o aumento de atividades produtivas. “Passamos do 16º para o 13º lugar na lista dos municípios com maior recolhimento de ICMS. Isso nos dá poder de negociação. Fizemos investimentos na construção do piscinão para acabar com as enchentes na região de Piraporinha. Também melhoramos o sistema viário para facilitar operações de logística das empresas. Esse é o nosso papel para planejar a cidade. Queremos que outros agentes de desenvolvimento façam o mesmo” – propõe Joel Fonseca.


O vice-prefeito lembra a ação da administração municipal para incentivar a criação do Pólo de Cosméticos, que abriu o mercado externo para muitas empresas locais. “Fomos várias vezes a feiras internacionais de cosméticos em Bolonha, na Itália, em San Diego, nos Estados Unidos e em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos” – recorda Joel Fonseca.


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