Economia

Um extenso refluxo de
investimentos na região

ANDRE MARCEL DE LIMA - 12/04/2006

A mais recente Pesquisa de Investimentos no Estado de São Paulo (Piesp) realizada pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) não é nada animadora para a Região Metropolitana. Com metade da população paulista e demandas sociais proporcionais à explosão demográfica das últimas cinco décadas, a Grande São Paulo perde feio o jogo da atratividade. Do total de US$ 15,6 bilhões em investimentos privados anunciados para a unidade mais rica da Federação em 2004, US$ 4,835 bilhões foram direcionados ao caldeirão de 39 municípios e 19 milhões de habitantes – ou 31% dos recursos voltados à implantação, ampliação ou modernização de indústrias, empreendimentos comerciais e de prestação de serviços. O Interior e a Baixada Santista dominaram com US$ 10,76 bilhões, ou 69% das intenções de investimento.


As turbulências da nave metropolitana não param por aí. Do total estadual de US$ 15,6 bilhões, US$ 7,2 bilhões dizem respeito a investimentos industriais, ou 46%. E desse total, apenas US$ 1,8 bilhão foi projetado para a Região Metropolitana, a quarta parte do bolo. Tradução: a Grande São Paulo ficou com US$ 3 de cada US$ 10 reservados para inversões no conjunto de indústria, comércio e serviços, mas a participação cai para US$ 2,50 quando o foco é lançado especificamente sobre o setor que gera mais impostos e empregos melhor remunerados.


Em meio a dados tão desanimadores é possível pinçar notícia supostamente redentora para o Grande ABC traumatizado pela desindustrialização que drenou 39% do Valor Adicionado nos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso. A região despontou em 2004 como destino de 61% dos investimentos industriais anunciados para a Grande São Paulo.


A notícia é apenas supostamente redentora. Primeiro: glorificar a maior parte dos investimentos em uma região que perdeu feio para o restante do Estado é o mesmo que nocautear bêbado em luta corporal. Segundo, e ainda mais importante: quase 90% dos investimentos anunciados para o Grande ABC estão atrelados a grupo de grandes indústrias já instaladas e não ao desembarque de empresas seduzidas por vantagens locacionais – como seria de se esperar em desejável cenário de efervescência econômica.


Investimentos em modernização e ampliação são sempre bem-vindos porque a globalização não perdoa quem deixa de acompanhar o ritmo tecnológico ou negligencia a necessidade de alargar a base produtiva para obter ganhos em escala de produção. Mas a concentração em investimentos industriais de reposição expõe falha na tarefa de atrair novas empresas.


Do total de US$ 1,19 bilhão anunciado para o Grande ABC, quase 90% referem-se a nove empresas predominantemente dos setores automotivo e petroquímico. Casos da Recap (US$ 240 milhões), Petroquímica União (US$ 210 milhões), DaimlerChrysler (US$ 175,2 milhões), Polietilenos União (US$ 140 milhões), Bridgestone/Firestone (US$ 110 milhões), Saint-Gobain Sekurit (US$ 100 milhões), Arteb (US$ 35 milhões), Alcan (US$ 15,3 milhões) e Scania (US$ 13 milhões). O maior investimento anunciado fora da órbita industrial ainda não saiu do papel: a implantação do Shopping Praça da Moça, em Diadema, ao custo de US$ 27,6 milhões.


Como a pesquisa da Fundação Seade relaciona intenções que se tornaram públicas em 2004, investimentos anunciados mais recentemente ficaram de fora e devem aparecer na próxima edição. Caso dos R$ 500 milhões da General Motors para atualização do Vectra, dos R$ 100 milhões da Volks para produção do Fox Europa e dos R$ 262 milhões referentes ao centro tecnológico projetado a partir do call center implantado pela TIM no terreno onde funcionou a Pirelli Cabos.


O problema da concentração de investimentos persiste: com exceção da TIM, que criou centenas de postos de trabalho, a atualização tecnológica de grandes indústrias gera pouquíssimos empregos. A multiplicação de postos de trabalho em escala digna de comemoração só poderá se consumar com a exploração de novas matrizes produtivas ou a extensão das já existentes. Nesse contexto, políticas públicas que atraiam transformadoras plásticas na esteira da ampliação do Pólo Petroquímico de Capuava podem ser uma das soluções. Há espaço de sobra, principalmente na região do Rio Tamanduateí, em Santo André, e no Distrito Industrial de Sertãozinho, em Mauá.


A participação metropolitana de 31% do total de investimentos diversos e de 25% nos anúncios relativos à esfera industrial só não foi mais magra graças ao magnetismo do principal centro financeiro e de negócios da América Latina e aos investimentos de reposição nas gigantes petroquímicas e automotivas de Mauá, Santo André e São Bernardo. Do total de US$ 4,835 bilhões reservados à Região Metropolitana, US$ 1,19 bilhão diz respeito ao Grande ABC e US$ 3,065 bilhões à Capital paulista. Juntas, as oito cidades responderam por 88% dos investimentos anunciados para a Região Metropolitana.


Os demais 31 municípios somam 7,5 milhões de habitantes e compartilharam anúncios de US$ 600 milhões. A goleada sofrida pela Grande São Paulo em 2004 é crônica. Na média de nove anos, entre 1996 e 2004, a Região Metropolitana ficou com 32,5% dos investimentos anunciados pela Fundação Seade, enquanto o restante do Estado abocanhou 67,5%. Se a pesquisa fosse realizada antes de 1990 o quadro seria bem diferente. O advento da globalização, a guerra fiscal e a melhoria das condições rodoviárias, que encurtou o tempo das viagens, viraram o quadro histórico de pernas para o ar.


O painel proporcionado pela interpretação dos dados da Fundação Seade reforça a necessidade de conferir tratamento diferenciado – e emergencial – ao conglomerado de 19 milhões de habitantes. Sem restaurar a competitividade perdida pelo trânsito caótico, pela criminalidade galopante, pelos altos custos fundiários e outros componentes das deseconomias de aglomeração – como os especialistas chamam os efeitos colaterais do progresso desordenado – será impossível dar conta da avalanche de demandas sociais.


Por isso, a criação do Estado da Grande São Paulo que garanta poder constitucional compatível com a contribuição econômico-tributária e com os desafios precisa ser analisada com seriedade. Caso contrário, a Grande São Paulo continuará cada vez menos atrativa e mais ingovernável. A sugestão da criação do Estado da Grande São Paulo partiu do brasilianista norte-americano Norman Gall, presidente do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, e foi transformada em Reportagem de Capa de LivreMercado de fevereiro de 2002.


Além de reforçar a necessidade de reinventar o arcabouço jurídico-institucional da Grande São Paulo, a interpretação dos dados da Fundação Seade permite concluir que os investimentos são altamente concentrados. Os 20 municípios paulistas que encabeçam o ranking de geração de Valor Adicionado reúnem 43% dos anúncios, ou US$ 6,68 bilhões. Outras 625 cidades ficaram com US$ 8,92 bilhões, correspondentes a 57% do total.


A Capital ocupa liderança absoluta. Os US$ 3,065 bilhões equivalem a 46% do total do top 20, de acordo com a principal medida de riqueza industrial. Em segundo lugar vem Santos com US$ 572,86 milhões, em terceiro Santo André com US$ 483,90 milhões, em quarto Cubatão com US$ 474,26 milhões, em quinto São José dos Campos com US$ 436,02 milhões, em sexto Mauá com US$ 392,32 milhões, em sétimo Campinas com US$ 246,33 milhões, em oitavo São Bernardo com US$ 247,33, em nono Guarulhos com US$ 146,11 milhões e em 10º Paulínia com US$ 107,38 milhões.


A lista dos 20 municípios economicamente mais fortes do Estado se completa, pela ordem, com Jundiaí, US$ 95,71 milhões, Barueri, US$ 61,38 milhões, Sorocaba, US$ 60,33 milhões, Piracicaba, US$ 57,99 milhões, Diadema, US$ 56,99 milhões, Osasco, US$ 55,17 milhões, Taubaté, US$ 37,54 milhões, Suzano, US$ 33,99 milhões, Ribeirão Preto, US$ 31,69 milhões e São Caetano, com US$ 27,14 milhões. É provável que a próxima pesquisa traga São Caetano em posição mais destacada por conta dos R$ 500 milhões à atualização do Vectra, anunciados no ano passado.


Santos ocupou a vice-liderança basicamente por causa de modernização portuária. A Codesp (Companhia de Docas do Estado de São Paulo) assina mais da metade do total de US$ 572 milhões em investimentos na principal jurisdição da Região Metropolitana da Baixada Santista. Santo André conquistou a medalha de bronze nas asas de gigantes como Bridgestone/Firestone, Unipar e Petroquímica União. Cubatão assume a quarta posição pendurada na ampliação da Refinaria Presidente Bernardes, responsável por US$ 357 milhões. São José dos Campos completa o pódio dos cinco primeiros colocados com mix diversificado que tem o setor aeronáutico ancorado na Embraer como estrela principal.


Mauá chegou na sexta colocação por poucas e vultosas inversões da Refinaria de Capuava e da Saint-Gobain Sekurit, uma das maiores fabricantes de vidros automotivos do País. Campinas, sétima, colhe frutos em ramos diversificados de frondosa árvore enraizada na alta tecnologia. Em São Bernardo, DaimlerChrysler e Arteb, especializada em iluminação automotiva, garantiram a oitava posição.


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