A cada domingo – desde ontem, domingo -- vou escrever um artigo aos leitores do Diário do Grande ABC. Mais que um artigo. Trata-se de desdobramento do “ombudsman não autorizado” que criei nesta revista digital. A diferença é que agora o ombudsman está incentivado pela democracia da informação. O que significa isso?
Significa que além de ter a garantia de que escreverei o que considerar mais importante sobre a atuação do Diário do Grande ABC (e também sobre os demais veículos de comunicação da região) terei outras funções naquela empresa.
Eu que me decepcionei com o movimento Defenda Grande ABC, sobre o qual escrevo qualquer dia desses, ganhei de presente por merecimento, por persistência, por atrevimento ou qualquer outra coisa, as portas abertas do jornal que mais combati desde muito tempo, porque, principalmente, o considero o mais importante instrumento de mudanças na região.
Portanto, não foi este jornalista que mudou. Foi o Diário do Grande ABC do empresário Ronan Maria Pinto que está dando uma guinada histórica, porque reformista. Farei parte dessa embarcação como porção importante e compartilhada com vários profissionais daquela empresa. Jamais poderia recusar tamanho compromisso. Perderia a legitimidade para continuar escrevendo neste espaço.
Tanto eu como o Diário do Grande ABC estamos sendo acossados por dois tipos de público. O jornal pelos amiguinhos ou supostos amiguinhos da casa, muitos deles insuportavelmente incomodados com minhas críticas. Gente improdutiva que começou a sentir que o reinado de vaselinagem está terminando. Eles não me querem no Diário do Grande ABC como não me querem trafegando por estas terras. Acho até que alguns gostariam de me ver sete palmos abaixo.
De minha parte, a pressão é de gente que me acompanha há muito tempo mas que, acreditem, parece ter sofrido um apagão de discernimento ao sugerir que eu posso me arrepender. Não há como me arrepender de algo que se apresenta como única opção. Como vou recusar uma proposta para ajudar a executar no Diário do Grande ABC algo a que tanto me lancei a vida inteira? E mais: complementar ou estruturalmente a isso, terei funções diretivas inéditas no organograma da companhia, assunto sobre o qual não estou autorizado a revelar.
Tecnologia e resiliência
Devo dizer a todos que esses novos acontecimentos são uma grande surpresa. Nem imaginava que pudesse, de repente, multiplicar meus trabalhos assumindo obrigações e responsabilidades numa empresa mais que cinquentenária e que, a bem da verdade, se mantém viva num ambiente inóspito. Afinal, a Província do Grande ABC se tornou um desafio a empreendedores de todas as atividades e particularmente ao jornalismo impresso. O Diário do Grande ABC é bastante resiliente nesse mundo em que a tecnologia digital escraviza os leitores em grau inquietante e num território em longo e preocupante processo de empobrecimento, como tenho cansado de analisar com dados irrebatíveis.
Depois de algumas reuniões no Diário do Grande ABC com Ronan Maria Pinto e outros diretores, inclusive o de Redação, Sérgio Vieira, e Elaine Mateus, uma advogada que todos os clientes gostariam de ter, além da palestra que fiz aos jornalistas há 10 dias no Centro Empresarial Pereira Barreto, me sinto à vontade. Asseguro aos leitores deste CapitalSocial que aquele jornal da Rua Catequese passa por transformações inimagináveis. Além da inserção de um ombudsman perdigueiro como este jornalista, o que é uma raridade no jornalismo brasileiro, com apenas duas publicações abertas ao contraditório franco, além disso, assumirei funções diretivas.
O primeiro texto que produzi para a coluna “Contexto ABC”, cujo link segue ao final deste artigo, reproduz esse princípio de nova realidade. O Diário do Grande ABC já está se mexendo barbaridade para, mesmo com deficiências estruturais, levar aos leitores uma pauta muito mais comprometida com a região e, finalmente, em detrimento dos improdutivos.
Tempos diferentes
Talvez esta seja a melhor resposta aos recalcitrantes que não querem me ver nem pintado de ouro naquele jornal e também aos meus leitores fieis que se preocuparam com a possibilidade de empastelamento mental diante do convite que me foi apresentado. Nenhuma coisa nem outra podem ser atiradas sob o tapete da omissão.
Há gente boa que torce para que este jornalista e o Diário do Grande ABC mantenham parceria construtiva à região, enquanto há gente nociva que quer ver o circo da ineficiência da regionalidade continuar a pegar fogo. A esses o que posso dizer é que deveriam plantar batatas. Mais que isso: que se cuidem, porque se ocuparem cargos em entidades de classe vão ter de trabalhar, porque serão convocados a isso pela sociedade.
Aqueles que ainda duvidam do conteúdo destas linhas, que aguardem os próximos tempos. Repito que não estou autorizado a revelar o planejamento estratégico do Diário do Grande ABC. O que posso repetir mais uma vez é que não me sinto nem deveria me sentir o todo-poderoso do pedaço novo que se abre. As ações que já se desenvolvem são uma expressão coletiva voltada à recuperação regional. Sou apenas um colaborador.
Não tenho vaidade, egocentrismo e tudo o mais para colocar isoladamente sobre meus ombros tamanha responsabilidade. Sinceramente, o que mais quero é ver o Diário do Grande ABC produzir inúmeros profissionais de comunicação que dividam o peso enorme de reconstruir uma Província envelhecida, conformada e cada vez menos competente na geração de mobilidade social. Aliás, esse é um dos pontos centrais do que o Diário do Grande ABC vai apresentar de novidade aos leitores nos próximos tempos. Quem viver verá.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)