Sociedade

Quantos mercadores imobiliários
estão na lista do MP? Vamos ver

DANIEL LIMA - 30/04/2015

Estão no Diário do Grande ABC (impresso) e no ABCD Maior (digital) de hoje informações de que o promotor criminal de Santo André, Roberto Wider Filho, finalmente concluiu o inquérito civil e vai acusar formalmente os responsáveis pelo escândalo do Semasa, denunciado pelo Diário do Grande ABC em março de 2012 e muito explorado por esta revista digital. Wider Filho anuncia que o então prefeito de Santo André, Aidan Ravin, e aliados de governo, participaram ativamente da falcatrua.


 


Não há uma linha nas matérias que li qualquer menção aos mercadores imobiliários que integraram a roubalheira. Não acredito que eles fiquem impunes. O escândalo do Semasa é semelhante ao da Máfia do ISS na Capital, denunciado em 2013 pela Controladoria-Geral da Prefeitura de Fernando Haddad e pelo Ministério Público Estadual.


 


Em São Paulo as investigações foram mais céleres certamente porque não encontraram gargalos de infraestrutura pessoal e material enfrentados por Roberto Wider Filho. O Ministério Público instalado na região sofre de esqualidez estrutural que em muitos casos exigem esforços redobrados dos promotores de Justiça, caso do escândalo do Semasa, ou dispersão investigativa, caso, entre outros, do escândalo do Marco Zero.


 


Lá na Capital os mercadores imobiliários, entre os quais Milton Bigucci, do conglomerado MBigucci, estão enroladíssimos. Em Santo André não poderá ser diferente. Até porque em maio do ano passado o promotor criminal que cuida do caso anunciou na mídia que estava pronto para divulgar o nome de um empresário metido até o pescoço na malandragem. Supôs-se que Milton Bigucci apareceria em primeiro plano, porque o denunciante do escândalo, o advogado Calixto Antônio Júnior, afirmou a este jornalista que comunicou ao MP sobre irregularidade em empreendimento daquele empresário que presidente o Clube dos Especuladores Imobiliários do Grande ABC.


 


Corrupção estatal sem corruptos privados é fantasia. A bem da verdade, há empresários que não encontram alternativa para dar prosseguimento aos negócios quando a metástase de propinodutos toma conta de instâncias públicas. Mas essa situação é exceção à regra de pilantragem de mercadores imobiliários viciadíssimos em obter vantagens espúrias. Inclusive com amplo esquema de marketing de convencimento junto a servidores públicos, distribuindo nacos de recompensas porque sempre ficam com o pedaço mais proeminente dos desvios.


 


Inquérito volumoso


 


O jornal ABCD maior informa que o inquérito com 47 volumes e 20 depoimentos deverá ser encaminhado à Justiça nos próximos dias. “Nos depoimentos colhidos tanto pela polícia como pelo MP, houve relatos de advogados e empresários que revelaram o envolvimento direto do ex-prefeito”, explicou Roberto Wider, segundo a reportagem do ABCD Maior em versão digital. A publicação não fez qualquer referência ao próprio acervo de informações. Ou seja: o que o promotor criminal declarou em fevereiro do ano passado não foi relembrado pelo ABCD Maior.


 


O Diário do Grande ABC lembra que o caso foi noticiado com exclusividade pelo jornal em 2012 e acrescenta que Roberto Wider Filho declarou que “a arrecadação seria para financiar a campanha à reeleição do prefeito na oportunidade”. Os números do processo não conferem com as informações do ABCD Maior: seriam 53 volumes e 30 depoimentos.


 


Como nenhuma das duas publicações lembrou-se de que a balança da roubalheira no Semasa contava harmoniosamente com ocupantes nos dois extremos que se encontravam para desfalcar os cofres públicos, decidi destacar a importância desse relacionamento que certamente não passou em branco nas investigações de Roberto Wider Filho. Seria inacreditável tamanho buraco no inquérito que denunciará as quadrilhas que agiram naquela autarquia da Prefeitura de Santo André.


 


Aliás, como o promotor Wider Filho disse ao Diário do Grande ABC que há provas robustas tanto testemunhais quanto documentais da cobrança de propina no processo de liberação de licenças ambientais, acredita-se largamente que as declarações ao MP do advogado Calixto Antônio Júnior sobre a multiplicação de empreendimentos lesivos aos cofres públicos abrange um número mais que razoável de mercadores imobiliários.


 


Documento-bomba


 


Possivelmente o promotor criminal Roberto Wider Filho esteja a preparar um documento-bomba a ser encaminhado à Justiça. Até porque, qualquer conclusão diferente da lógica de que o prefeito e seus assessores no Semasa seriam uma parcela robusta mas não exclusiva dos corruptos dessa história possibilitará uma bifurcação avaliativa contraditória: ou o MP da Capital estaria ensandecido ao acionar judicialmente os mercadores imobiliários que se refestelaram com servidores públicos traficantes de benesses ou o escândalo do Semasa tornou-se um fenômeno a ser estudado por especialistas em desvio de dinheiro público como resultado exclusivo de coerção de mão única, embora a outra mão tenha, como no caso da Capital, nadado de braçadas na obtenção de rentabilidade dos investimentos.


 


Irmãos siameses que vieram a público – embora a paternidade dessa esparrela de violação às regras no mercado imobiliário seja de difícil descoberta, porque tão antiga quanto a prostituição – tanto a Máfia do ISS quanto o Escândalo do Semasa não poderiam ter desfechos diferentes. O promotor criminal de Santo André certamente está preparando uma notícia desagradável a usurpadores da lei do outro lado do balcão do Semasa.


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