As articulações preliminares em torno do futuro das unidades do Ciesp no Grande ABC não deixam dúvida sobre algo a que me lancei assim que as urnas eleitorais determinaram a bendita ruptura no conglomerado Fiesp/Ciesp. Como imaginávamos, e ao contrário do catastrofismo da cobertura da Imprensa sobre o resultado da disputa que colocou Paulo Skaf à frente da Fiesp e Cláudio Vaz no comando do Ciesp, finalmente temos de fato duas entidades. Mais que isso: a representação sindical conferida à Fiesp e a representação empresarial do Ciesp tornaram as instituições competidoras entre si. Quem sabe seja esse o primeiro estágio de cooperativismo inteligente e construtivista, caso os dirigentes sejam menos beligerantes.
Como já explicamos em alguns artigos, a Fiesp e o Ciesp sempre andaram supostamente juntos porque eram comandados por um mesmo presidente. Havia nessa unicidade diretiva a falsa interpretação de que tudo era uma maravilha nas hostes daquele prédio da Avenida Paulista em forma de ralador de queijo.
Vendia-se a idéia de que o empresariado estava unido. Pura bobagem: a Fiesp dos grandes negócios engolfava o Ciesp de baixa representatividade dos pequenos. O que sempre interessou no foco de atividades de maior visibilidade era mesmo o jogo político-econômico nos palcos brasilienses, apropriadamente relacionados à Fiesp e não as amarguras locais dos pequenos e médios negócios, núcleo de ação reticente do Ciesp.
Agora a situação é outra e muito mais interessante. Paulo Skaf e Cláudio Vaz estão competindo por algo rotineiro no chão de fábrica e mesmo nos gabinetes refrigerados de alta e média gerências: competitividade no sentido mais literal do dicionário administrativo. Acabou o jogo do faz-de-conta.
É claro que a situação exige acertos diplomáticos e operacionais. Não parece ser sensata a fórmula de a Fiesp criar escritórios municipais e regionais para minimizar a representatividade do Ciesp. Essa é função explícita do Ciesp. É preferível que, com as lideranças locais da chapa de apoio de Paulo Skaf, a Fiesp atue como espécie de governo paralelo na região. Isso mesmo: que acompanhe atentamente os passos dos situacionistas. Da mesma forma, aliás, que o Ciesp pode inverter o jogo na Fiesp e não dar trégua, no bom sentido, a Paulo Skaf.
O discurso de Mauro Miaguti, coordenador do Ciesp de São Bernardo, durante a concorrida cerimônia de quarta-feira, provavelmente retira mesmo que temporariamente muitos pontos de interrogação do horizonte empresarial. Miaguti, membro do conglomerado Fiesp/Ciesp há uma década, fez referências a pontos que insistentemente martelo sobre a necessidade de representações empresariais se envolverem na região, casos específicos da infra-estrutura urbana, da segurança pública, dos tributos, da responsabilidade social, do meio ambiente.
Grupos temáticos estão sendo organizados pelo Ciesp de São Bernardo para atender às múltiplas demandas de um quadro socioeconômico que não distingue trabalhadores e empregadores no enfrentamento do caos metropolitano.
Devagar, as lideranças empresariais da região vão se apercebendo de que poderes públicos e comunidade só reagem diante de pressões. Se governo, mercado e sociedade civil deixarem de equilibrar o jogo da representatividade social numa ação para fazer emergir soluções em vez de promessas, não restará pedra sobre pedra em geografias tão complexas como a que vivemos na Grande São Paulo.
A esperança de que o Ciesp de São Bernardo conseguirá finalmente encaixar golpes certeiros para sacudir a sociedade contando para tanto com ações similares de outras unidades na região não deve ser avaliada como mais uma possibilidade de decepção futura. O peso institucional da nova diretoria do Ciesp também influi na equação que se encaminha para a certeza de que a competitividade que se instalou no sistema Fiesp/Ciesp haverá de fazer emergir resoluções que comprovarão o quanto as duas instituições foram dispersivas e falsamente complementares durante décadas.
O papel da mídia no acompanhamento do andar dessa carruagem de transformações é de importância vital entre outras razões porque implementa o necessário estímulo a todos que trabalham e potencializa prováveis restrições aos que só pretendem se locupletar.
Há conjunção de fatos que finalmente direciona o Ciesp no rumo de mudanças mais que inadiáveis porque, como se sabe, o turbilhão fernandohenriquista passou por aqui durante oito anos e nos arremessou contra rochedos de profunda crise da qual só recentemente começamos a reagir.
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12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES