O passado de prefeito de São Bernardo -- que também é presente porque ele se mantém irredutível no seletivismo de interlocutores -- assegura que Luiz Marinho não topará jamais, mas vamos lá: ao invés de me acionar, como está acionando, na Justiça, como, aliás, o faz contra todos que supostamente o perseguem, por que não me convida a uma entrevista, aonde quiser, para que possa tirar todas as dúvidas e confirmar todas as certezas sobre o projeto dos caças Gripen? Como se sabe, estaria reservada a São Bernardo uma fábrica de estrutura dos aviões de combate suecos. É por traz dessa fábrica e de tudo que levou à projeção do empreendimento que residem dúvidas, muitas dúvidas, e certezas, várias certezas.
Será que Luiz Marinho vai topar encarar um jornalista independente em todos os sentidos – inclusive ideológico – ou vai preferir, outra vez, manter-se a salvo da curiosidade pública? Sim, a salvo da curiosidade pública, do interesse público, de tudo que é público -- porque essa é a função reservada ao jornalismo.
Sei que Luiz Marinho é assíduo leitor deste CapitalSocial. Seus asseclas o informam persistentemente. Providenciam cópias de tudo que escrevo. Luiz Marinho tem uma virtude, que não posso negar: reconhece que tenho algum talento, embora procure desvirtuar a lógica da audiência desta revista digital. Na ação que move contra mim, ele produz série de barbaridades informativas e interpretativas, mas não deixa de reconhecer que reúno muitos leitores. Só faltou dizer que meus leitores não são leitores comuns, de baciada. São formadores de opinião e também tomadores de decisão.
Dois pés atrás
Mas, vamos ao que interessa. Para facilitar a vida de Luiz Marinho em eventual entrevista, antecipo algumas questões que ratificarei pessoalmente sobre a anunciada chegada do Gripen na região. Repararam os leitores que, quando me refiro ao Gripen, coloco os dois pés da condicionalidade atrás? Sei que sei que a fábrica de estrutura metálica, ou seja, o esqueleto daquele projeto, não está tão garantida assim em São Bernardo. A companhia sueca não quer se meter em enrascada porque tem reputação internacional a zelar. Na Suécia o buraco é mais embaixo nos negócios entre instituições públicas e privadas. Não há espaços a petrolões.
Vamos, então, a algumas perguntas básicas ao prefeito de São Bernardo. Vou ficar esperando, mais uma vez, que se pronuncie, agora especificamente sobre o Gripen. Sempre é bom lembrar que, no final do ano passado, Luiz Marinho não deu bola ao conjunto de indagações da “Entrevista Indesejada” que lhe remeti. Luiz Marinho possivelmente considere que jornalista invasivo precisa ser retirado de circulação. Como se vê, ele foi contaminado pelo vírus bigucciano, seu parceiro de agendas. Às perguntas, então:
1. Tem procedência a informação de que a área na qual seria construída a fábrica dos caças em São Bernardo já foi escolhida e adquirida?
2. Quem eram os proprietários dos terrenos supostamente na cara do gol do trecho sul do Rodoanel ou da Rodovia dos Imigrantes?
3. Como se efetivou a compra do espaço e quais as condições financeiras envolvidas?
4. Qual a participação do advogado Edson Asarias na aquisição da área?
5. Quem serão os sócios do projeto Gripen em São Bernardo?
6. Qual é a participação societária da companhia sueca na área?
7. Conferem a informações de bastidores de que uma das subsidiárias da Inbra -- empresa relacionada a produtos de segurança com fortes relações com as Forças Armadas -- cederia a anunciada sociedade com a Saab em favor de um empresário que representaria interesses do Partido dos Trabalhadores no negócio?
8. Como o prefeito encara a informação que coloca a Saab em polo oposto ao da configuração inicial de participação de um sócio brasileiro sem aporte de recursos financeiros equivalente aos valores programados para a execução do projeto? Traduzindo em miúdos: tem sentido a informação de que o sócio brasileiro da fábrica do Gripen em São Bernardo quer 40% das ações sem o correspondente aporte financeiro, por conta de injunções politicas?
9. Qual o motivo que moveu o prefeito a contar com a companhia do advogado Edson Asarias em várias viagens internacionais que trataram do filão da indústria de defesa no Brasil?
10. Não teria sido imprudente o prefeito ao contar com a companhia de um profissional que exercia à época atividades profissionais no Grupo Inbra, supostamente beneficiário das negociações iniciais de parceria com a Saab no empreendimento em São Bernardo?
11. Qual é o grau de veracidade de informações que dão conta de que, por influência política do Paço de São Bernardo, o advogado Edson Asarias firmou contrato de consultoria com a empresa sueca?
12. A Saab teria sido informada sobre a atuação do advogado Edson Asarias nos bastidores da administração pública de São Bernardo?
13. Há encaixe de verdade nas informações que dão conta de que a proximidade entre Edson Asarias e a Administração da Prefeitura de São Bernardo teria alguma semelhança com a atuação de Paulo César Faria durante o breve e corrupto governo Collor de Mello?
14. Dá-se como certo que as relações institucionais entre a Prefeitura de São Bernardo e a Saab não seguiriam o ritual de parceiros ideais justamente por conta de distorções sobre a participação de terceiros no capital social da empresa que atuaria em São Bernardo. Existe fundamento nessa espécie de ruptura branca?
15. Por que nos últimos meses o prefeito não se tem manifestado sobre o projeto Gripen, em situação contrastante com o passado imediatamente anterior? Haveria nessa fuga de informações a raiz de credibilidade de que o projeto faz água?
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)