A nova leva de prefeitos que vem por aí e os que eventualmente seguirem nos respectivos postos de comando precisa compreender a dimensão das transformações sociais e econômicas pelas quais passou o Grande ABC nos anos 90 e que se estendem para este início de novo século. A perda de postos de trabalho com carteira assinada no setor industrial, o estonteante surgimento de empresas comerciais e de serviços formais e informais e a avalanche de empregos sem carteira assinada são características especialmente preocupantes. Mais do que qualquer outro território nacional, o Grande ABC excedeu-se na combinação desse Triângulo das Bermudas que fez desaparecer parte da auto-estima de uma região então orgulhosa dos indicadores econômicos.
O levantamento extremamente sério e responsável do Observatório Econômico de Santo André, tratado com zelo por este jornal na edição de ontem, exibe o tamanho das patas do elefante de problemas que nos atingem e que, infelizmente, acabaram surrupiados estatisticamente em outros tempos por pesquisadores manipuladores de dados.
O emprego industrial será proporcionalmente e também em números absolutos cada vez mais seletivo na região. Em contraposição, sobrarão empregos informais inclusive em indústrias de fundo de quintal que garantem o suprimento de empresas de pequeno, médio e até grande porte em busca de alternativas para fugir do lobo mau tributário. Inquieta de verdade a possibilidade de o temário econômico municipal e regional permanecer maltratado pelos poderes públicos e agentes econômicos.
Se os números do último ano em produção de riqueza foram alvissareiros, com aumento de 5% do Valor Adicionado, não se pode perder de vista que esse é provavelmente um dos desencadeamentos de investimentos tecnológicos, de acertos em processos e de treinamento e reciclagem de mão-de-obra nas indústrias.
Estamos produzindo maior volume de riqueza industrial sem oferecer a proporção equivalente de desenvolvimento social. A conta é simples: ao mesmo tempo em que eliminou dezenas de milhares de empregos industriais, a modernização do setor de transformação oferece a contrapartida de maior volume de produção.
O escandaloso contingente de 445 mil informais no Grande ABC, de uma População Economicamente Ativa de 1,006 milhão de pessoas, traduz o quadro em preto e branco de mudanças, segundo destaca o Observatório Econômico. Nem mesmo a relativização da situação, tendo-se como base comparativa números semelhantes da média brasileira, serve de consolo e de argumento à descaracterização de uma crise anunciada. Estamos parecidos com a média econômica do País porque perdemos o topo outrora confortável.
Para quem ainda não entendeu o rebaixamento a que fomos submetidos, basta imaginar um atleta especializado em 100 metros rasos que disputava a fita de chegada com alguns poucos e hoje, atingido por série de enfermidades, está no pelotão médio, longe da liderança e dos últimos lugares. Estruturalmente concebido sob a riqueza industrial que deu saltos quânticos com a chegada das montadoras a partir de meados do século passado, o Grande ABC viu reduzido de 45% para 28% o quadro de empregos de suas fábricas nos últimos 15 anos, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego. A isso se somam nos últimos anos 67% de crescimento de autônomos e dos chamados empregos familiares, que atingiram 289 mil pessoas no ano passado.
Uma força-tarefa regional que aproxime administradores públicos e entidades econômicas deverá estar a postos depois que as urnas decretarem quem vai conduzir o destino dos sete municípios da região. O Grande ABC não poderá permitir a deterioração de indicadores econômicos além da que já nos assola. Ou a região deixa de dar voltas em círculo e define que caminho trilhar nos próximos anos, ou se permitirá apenas comemorações de performance satisfatória de um número cada vez mais restrito de médias e grandes empresas sintonizadas com a internacionalização econômica.
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12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES