O maior exemplo de empreendedorismo no Grande ABC dos últimos anos é um ex-metalúrgico e ex-sindicalista. São de Joel Fonseca, vice-prefeito de Diadema, as digitais da descoberta, da organização e da estruturação do chamado Pólo Brasileiro de Cosméticos, conglomerado de 100 empresas da cadeia de suprimento e de produção de uma atividade que emprega 11 mil trabalhadores e responde por um naco de impostos que a Prefeitura ainda não conseguiu dimensionar.
Joel Fonseca fez o que supostos líderes empresariais incrustados em entidades jamais conseguiram não só em Diadema como em todo o Grande ABC: foi às ruas, bateu de porta em porta nas fábricas e, com isso, assustou-se diante do tamanho da mina de ouro que encontrou: a cidade mais estigmatizada pela criminalidade na Grande São Paulo nas últimas décadas carregava em seu ventre a indústria da beleza. São logomarcas luminosas do mundo fashion, mas também empresas de menor porte, acanhadas até.
É verdade que, ao atravessar Diadema como um Indiana Jones, Joel Fonseca tinha interesses específicos que não estavam colados necessariamente na dinâmica econômica. Sua visão de sindicalista, na campanha rumo ao Paço Municipal em 2000, era prevalecentemente pronunciada na busca de votos para eleger-se.
Mas Joel Fonseca também estava aberto a novidades. E captou a incidência de pequenas e médias empresas, principalmente, relacionadas ao setor de cosméticos. Até ex-companheiros de chão de fábrica, atingidos pela onda de reestruturação do setor metalmecânico, ainda o coração industrial de Diadema, Joel Santana encontrou aqui e ali, com a mão na massa, agora como pequenos empresários.
Dessa experiência de campo para a introdução de políticas públicas compartilhadas com os empreendedores foi um passo. Bastou conquistar o Paço.
Depois de três anos, o Pólo Brasileiro de Cosméticos está virando marca de atrevimento internacional. Diadema está nas paradas de sucesso da beleza. Com stands compartilhados por empresas seduzidas pela força do conjunto, em vez de intimidadas pelo individualismo, o Município entrou para o calendário nacional. Já frequentou três eventos internacionais onde cosméticos, mais que complemento de bem-estar pessoal, são uma frondosa ramificação negocial.
Dificuldades não faltam para Diadema esquematizar um setor até então alheio aos parcos sensores do Poder Público. Aos trancos e barrancos mudanças se consolidam. O pólo já reúne quatro grupos temáticos — de capacitação, exportação, feiras e compras. Os resultados aparecem. Na área de compras as empresas associadas na aquisição de insumos comemoram de 15% a 20% de rebaixamento de custos. Na área de capacitação, o Instituto Florestan Fernandes recebe desempregados e empregados informais em busca de aprendizado e especialização. As feiras viraram rotina. As exportações se elevam.
O ex-metalúrgico Joel Fonseca e seus seguidores empresariais dão uma lição ao Grande ABC inerte que espera cair do céu a solução para vários dos dramas econômicos. Ainda falta muito para o pólo de cosméticos de Diadema traduzir-se em um complexo de atividades integradas e mesmo num banco de dados que faça saltar planilhas ao gosto dos eventuais reforços de investimentos.
Mas o que se viveu nos últimos três anos foram novidades emblemáticas de uma lição de casa que administradores públicos e supostas lideranças econômicas precisam aprender ou então deixar os postos para quem quer trabalhar: não existe mágica que suplante o empenho efetivo combinado com foco apurado.
A revolução setorial em Diadema é ainda mais gratificante, instigante e mesmo emocionante na medida em que se ramifica na gênese socialista de um Município há mais de 20 anos tomado democraticamente pelas forças de esquerda. Foi alí que em 1982 o então operário Gilson Menezes elegeu-se primeiro prefeito do PT no País. Revezaram-se no comando do Paço, pela ordem, Gilson Menezes, José Augusto da Silva Ramos, José de Filippi Júnior, Gilson Menezes de novo e Filippi Júnior outra vez. Mais que revezamento, a esquerda que dirigiu Diadema nesse período passou a compreender o valor da livre iniciativa, depois de discriminá-la.
Joel Fonseca, ex-combatente sindical, é prova provada e comprovada de que o Grande ABC tem jeito sim para dar uma guinada histórica de reconstrução produtiva. Quando a água bate nos fundilhos, não há quem não aprenda a nadar.
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12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES