Economia

Da marcenaria para a movelaria

WALTER VENTURINI - 15/05/2004

A partir de janeiro do ano que vem, a Escola Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) Almirante Tamandaré vai transformar seu curso de marcenaria em um Centro Tecnológico da Indústria Moveleira, com formação profissional para o que há de mais avançado na produção de móveis e na gestão de empresas do setor.


A inovação vai mais do que quintuplicar a oferta de vagas, com investimento de R$ 4 milhões. Empresários do setor acreditam que o novo centro poderá ter para o Grande ABC o mesmo papel que cumpriu o Cetemo (Centro Tecnológico do Mobiliário), também ligado ao Senai, no desenvolvimento do pólo moveleiro de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.


Durante décadas, a indústria moveleira da região formou mão-de-obra no dia-a-dia das fábricas. Por causa disso, ainda se ressente historicamente de um setor de criação de novos produtos, além de ter dificuldades para operações de comércio exterior.


“Os novos cursos vão suprir a grande defasagem existente hoje de uma preparação de mão-de-obra de forma empírica para uma forma científica” — afirma o professor Luiz Gonzaga de Sá Pinto, diretor da Escola Senai Almirante Tamandaré, em São Bernardo, onde está sendo gerado o novo centro tecnológico que poderá fazer a diferença a favor do setor moveleiro do Grande ABC.


As obras começaram no mês passado e vão fazer o atual curso de marcenaria se transformar em uma área de formação tecnológica para a produção moveleira, design e gestão empresarial. Os atuais 320 metros quadrados do atual curso passarão para 720 metros quadrados. São mudanças substanciais para o futuro da indústria moveleira da região que ainda se vê às voltas com uma indústria artesanal de móveis. A diferença entre marcenaria e movelaria pode ser comparada á distância entre uma oficina de reparos de computador e uma indústria do setor de informática ou de uma oficina a uma fábrica de veículos.


A partir do ano que vem, na Escola Senai Almirante Tamandaré, no lugar de tornos tradicionais, haverá centros de usinagem, prensas de alta frequência, seccionadora de programação, cabine de pintura seca e linha de pintura em ultravioleta. “Vamos montar também uma oficina de tapeçaria dotada de máquinas automáticas modernas para atender o setor” — informa o diretor da escola.


Onde antes estudavam 24 alunos do curso de aprendizagem e mais 12 no curso de qualificação profissional, haverá 100 vagas para os atuais cursos e turmas do setor de movelaria, curso técnico de design de móveis, além de outros cursos de qualificação profissional. No total, cerca de 100 matrículas para atendimento imediato. “Com cursos de gestão de empresas, gestão de design, treinamentos, assessoria técnica e tecnológica nas próprias empresas, podemos dobrar esse número” — prevê Sá Pinto, que já contratou dois especialistas para as áreas de movelaria e design. Somente no novo setor de movelaria, o investimento será de aproximadamente R$ 4 milhões.


Os novos cursos de movelaria são fruto de um processo de pelo menos cinco anos de discussões entre empresários do setor e membros do Senai e do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas) para consolidar o pólo moveleiro da região para formar um Arranjo Produtivo Local e uma política sistêmica de formação profissional e pesquisas de novos produtos que envolvam empresários, centros tecnológicos e universidades.


A meta é obter competitividade com informação e capacitação para fazer do Grande ABC um centro que aproveite boas idéias de outros locais como o pólo moveleiro de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, onde por sinal funciona o Cetemo (Centro Tecnológico do Mobiliário), também gerenciado pelo Senai. O diretor da escola Senai Almirante Tamandaré, Sá Pinto, ressalta que os novos cursos ainda não podem ser comparados ao Cetemo, mas poderão atender integralmente as necessidades da indústria local.


“Sempre que nós da região precisávamos fazer uma capacitação, recorríamos ao Cetemo, de Bento Gonçalves. Aqui, o que tínhamos era uma escola de marcenaria tradicional, que formava profissionais com técnicas de 40 anos atrás” — afirma Hermes Soncini, secretário de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de São Bernardo e presidente do Sindicato da Indústria de Marcenaria da cidade. O empresário explica que as indústrias da região já estão investindo na compra de novos equipamentos e a formação de uma mão-de-obra especializada em tecnologias modernas é mais do que necessária.


O atual curso de marcenaria ocupa uma área de 320 metros quadrados. Com a atualização para o setor de movelaria, passará a ter 720 metros quadrados.


O Senai também investirá na escola outros R$ 2 milhões para atualização tecnológica no setor de metal-mecânica, no setor de solda elétrica e oxiacetileno, além de um laboratório de CAD/CAM, sistema informatizado para operações de torneamento e fresagem. As duas inovações poderão também ser utilizadas pelo novo curso de movelaria.


“Isso pode trazer benefícios que nenhum Senai tem atualmente, nem os voltados para a área moveleira com as unidades de Votuporanga e Itatiba. Foi tudo feito pensando em grandes avanços” — garante Silvana Pompermayer, gerente do Sebrae Grande ABC 1.


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