As indústrias do setor moveleiro do Grande ABC e da Capital partem em busca do tempo perdido e apostam em três conceitos básicos para conseguir competitividade: formação tecnológica, associativismo e exportação. A meta é pelo menos se aproximar dos principais pólos da movelaria brasileira, hoje localizados no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
A missão está sendo encarada por uma associação inédita entre empresários da região e da Capital, além de entidades como o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e até mesmo o gaúcho Cetemo (Centro Tecnológico do Mobiliário), do município de Bento Gonçalves.
Depois de seis anos, as empresas moveleiras do Grande ABC começam a colher os primeiros frutos de debates e articulações. No final de 2002 foi aprovado um projeto junto a Apex (Agência de Promoção de Exportações) no valor de R$ 3 milhões para incentivar as exportações do chamado pólo moveleiro da Grande São Paulo, que reúne empresas da Capital e do Grande ABC. Metade do valor será investimento da Apex e a outra parte será dividida entre sindicatos das Indústrias moveleiras do Grande ABC e da Capital, empresários e o Sebrae.
Mas a conquista do mercado externo seria impossível se o setor continuasse sem formar a mão-de-obra para criar, desenhar, fazer, pintar e vender os móveis destinados a disputar o mercado internacional.
A adequação tecnológica começa a chegar à região com a ajuda do Escritório Regional do Sebrae Grande ABC 1, que abrange São Bernardo, São Caetano e Diadema, e que conseguiu a vinda de técnicos e consultores do Cetemo. Até o final de 2003, os especialistas gaúchos que conseguiram melhorar a qualidade do móvel feito no Sul do País vão permanecem na região para levantar indicadores do setor e acompanhar a evolução das empresas.
A idéia é identificar quais mudanças estruturais as empresas precisam realizar para chegar ao patamar de exportação. Empresários e o Sebrae também conseguiram que o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) aprovasse reformulações na Escola Almirante Tamandaré, em São Bernardo, onde funciona um curso de marcenaria. O objetivo é transformar o curso de marcenaria em um centro tecnológico do setor moveleiro, que já conta com verba de R$ 4 milhões e com o início das obras programado para acontecer ainda este ano.
“Vamos atualizar nossos ambientes pedagógicos e partirmos para cursos especiais na área de marcenaria. Queremos preparar mão-de-obra mais consciente para o setor. A movelaria do Grande ABC está precisando que o Senai possa dar um respaldo para a evolução tecnológica. Estamos um pouco atrasados” — afirma o professor Luiz Gonzaga de Sá Pinto, diretor da Escola Senai Almirante Tamandaré.
Os cursos serão divididos em três ambientes: programa de design, programa de projetos e comercialização. “Para atender o padrão de nossa indústria será montada uma minilinha de pintura com todos os recursos” — informa o diretor da escola.
O novo curso vai oferecer aos alunos noções de controle de materiais, tecnologia total de equipamentos e o aproveitamento de resíduos industriais. Pela primeira vez, serão formados técnicos especializados em movelaria, uma indústria que até hoje no Grande ABC prepara mão-de-obra nos tornos e lixadeiras do trabalho prático. Além do Senai, os moveleiros também vão ter o apoio do IPT, que assinou com o sindicato do setor um convênio para desenvolver um centro de design.
Outro conceito exercitado pelos moveleiros é o associativismo. Primeiro foi o projeto MovelAção, consórcio que reuniu 10 empresas da região para produzir linha completa de móveis com design próprio voltada para a exportação. O produto final foi apresentado em janeiro de 2003, em exposição no Shopping SBC Móveis, em São Bernardo. Ainda no primeiro semestre de 2003, 38 empresas do Grande ABC e da Capital iniciaram a montagem do primeiro consórcio do setor moveleiro no Estado de São Paulo. A meta é estruturar o consórcio até o fim de 2003 para todas viabilizar as iniciativas do projeto de exportação com a Apex.
A associação dos sindicatos das Indústrias Moveleiras do Grande ABC e da Capital no consórcio pode representar a recuperação de um setor industrial que já foi destaque na Região Metropolitana de São Paulo. A Grande São Paulo já chegou a ser o terceiro pólo de móveis do Brasil. Atualmente, os maiores produtores e exportadores de móveis no Brasil são municípios do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
A cidade catarinense de São Bento do Sul é a maior exportadora de móveis do País, de acordo com dados da Abimóvel (Associação Brasileira das Indústrias de Mobiliário). Em segundo e terceiro lugares vem duas cidades gaúchas, Bento Gonçalves e Flores da Cunha, e em quarto Caçador, Município de Santa Catarina. São Paulo é o quinto maior exportador e São Bernardo é o 29º.
Na Grande São Paulo há mais de 3.900 indústrias de móveis, 450 das quais aproximadamente no Grande ABC, a grande maioria micro e pequenas empresas. “São empresas organizadas, mas que não têm estrutura e articulação junto ao governo e instituições nacionais. A partir do momento em que passam a se reunir, começam a ganhar força.” — avalia Silvana Pompermayer, gerente do Escritório Regional do Sebrae Grande ABC 1, que prevê que até o final de 2003 será possível ver o consórcio operando os primeiros contatos internacionais.
Há pelo menos seis anos o Sebrae vem ajudando os moveleiros de São Bernardo a resgatar a veia produtiva trazida à região por imigrantes italianos. Com a disparada da inflação nos anos 1980 e a concorrência de outros pólos produtores que investiram em tecnologia e escala, o Grande ABC voltou-se mais à comercialização. Agora dedica-se a reviver os bons tempos produtivos.
Além de cursos e capacitação de gestão e de processos, o Sebrae participou da formação de uma Central de Serviços do Setor Moveleiro, que passou a reunir um banco de dados e informações sobre mercado, marketing, tecnologia e formação de mão-de-obra, recursos humanos e gestão.
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12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES