O Clube dos Especuladores Imobiliários vai voltar a ser Clube dos Construtores e Incorporadores a partir de dezembro próximo. Neste 30 de novembro haverá motivo especial para comemorações: o eterno chefe daquela associação, Milton Bigucci, cederá o cargo ao também empresário Marcus Santaguita. Mais importante que a troca de nome será o cumprimento de uma promessa que Santaguita fez ontem a mim, ao telefone, mas cuja revelação deixo para outro dia. O Clube dos Construtores e Incorporadores será outro. Até porque, o que está aí é um descaso com a classe e uma agressão ao conjunto da sociedade. Afinal, habitação é peça importante da cesta básica de cidadania e compromete o orçamento familiar durante até três décadas.
Se não fosse este CapitalSocial o presidente há mais de duas décadas se sentiria incomodado a ponto de, finalmente, deixar o cargo? As lambanças corporativas de Milton Bigucci, colhido em sucessivas irregularidades pelo Ministério Público Estadual, sobretudo na Máfia do ISS da Capital, praticamente o levaram, de vez, a abandonar o tablado onde reinou em meio a um ambiente de penúria administrativa. Não fosse isso provavelmente seguiria a desfilar incompetência atroz. A chamada Acigabc é duramente criticada pela classe. Tanto que vive à mingua, sem quadro de associados digno do potencial econômico da classe.
Mancha do ISS
Quem acredita que estou exagerando sobre os efeitos da Máfia do ISS deveria ler o que disse em 12 de novembro de 2013 o presidente do Secovi (Sindicato da Habitação) de São Paulo, do qual o Clube dos Construtores do Grande ABC depende financeiramente para se sustentar. Cláudio Bernardes afirmou o seguinte sobre as fraudes do Imposto Sobre Serviços na Capital numa entrevista ao Fantástico na mesma semana em que estourou o escândalo: “Do ponto de vista da nossa entidade, obviamente que a nossa imagem foi manchada com esse tipo de divulgação, embora obviamente a gente não tenha qualquer participação nesta suposta suspeita que acontece”, disse o dirigente em reportagem do Fantástico, ao tentar minimizar o escândalo que envolve dezenas de empresas e agentes públicos da Prefeitura de Capital. Milton Bigucci ainda é conselheiro do Secovi, mas não integrará a nova diretoria eleita recentemente.
Marcus Santaguita é um jovem construtor e incorporador que não guardaria qualquer semelhança de postura com Milton Bigucci. Segundo relatos de interlocutores, Santaguita é receptivo a ideias, descentralizador, entusiasta de trabalho em equipe e sobretudo tem olhos postos no futuro. Já teria inclusive ideias para implantar e parceiros a convidar. Resta saber até que ponto implodiria a cultura centralizadora e personalista de mais de duas décadas de Milton Bigucci.
Sabe-se que vai criar pelo menos três vice—presidências. Aparecido Viana teria São Caetano como área a comandar, Milton Bigucci Júnior estaria centralizado em São Bernardo e Nilson Ferreira cuidaria de Santo André. Seria um passo gigantesco para despersonalizar o Clube dos Construtores e Incorporadores, estigmatizado pelo atual presidente.
Sabe-se também que num recente almoço de opositores do Clube dos Construtores, em Santo André, o próximo presidente da organização não só compareceu como solicitou a união da classe a representantes de grandes companhias que há muito fogem da entidade sediada em São Bernardo. Também a um empresário de pequeno porte de Santo André, Silvio Cura, combatente implacável, Marcus Santaguita dirigiu interesse de expandir ações da entidade.
A indicação de Milton Bigucci Júnior a uma das vice-presidências do Clube dos Construtores e Incorporadores causou constrangimento de início, por conta da mensagem de continuidade da gestão de Milton Bigucci. Mas o bom senso imperou. O consenso de que Milton Bigucci Júnior tem perfil diferente do pai, e que se encaixaria perfeitamente no que se pretende implantar como ações típicas de equipe, evitou que se cometesse um equívoco.
Herança maldita
Como se não bastasse o que muitos chamam de herança maldita de Milton Bigucci à frente do Clube dos Construtores e Incorporadores, os futuros dirigentes da associação sofrem os efeitos da recessão. O mercado imobiliário da região está na lona. Nenhuma das grandes construtoras ousa anunciar lançamento de qualquer empreendimento à próxima temporada. Os estoques estão abarrotados. Os distratos comprometem ainda mais as finanças. A tempestade perfeita preocupa a todos.
Paradoxalmente, é nesse contexto de inquietação que há mobilização para dar novos rumos ao clube. Durante o longo boom do setor, de financiamentos elevadíssimos e de renda dos trabalhadores em alta, o Clube dos Construtores ganhou menos importância do que antes. Ou seja: Milton Bigucci reinou ditatorialmente sem sofrer grandes pressões.
Agora que a biruta econômica virou e que o ambiente empresarial do setor resolveu reagir, a eleição da diretoria presidida por Marcus Santaguita é vista como acontecimento de extraordinária força oxigenadora do tecido institucional da região. Resta esperar que o presidente a ser eleito no final do mês anuncie plano de metas que retire, de imediato, o Clube dos Construtores da arapuca de desprestígio em que se meteu.
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