Muita gente se sentiu aliviada ontem com mais um desdobramento da Operação Lava Jato. Nenhum figurão da Província do Grande ABC ganhou os holofotes na 22ª ação da Polícia Federal com a marca de Triple X, referência direta ao tríplex atribuído à família do ex-presidente Lula da Silva. Está certo que o alvo da força-tarefa é mesmo Lula da Silva. Convenhamos, entretanto, que Lula da Silva já não é nosso faz muito tempo. Portanto, o impacto regional nesse sentido foi diluído em favor da abrangência nacional.
Lula da Silva pode até ser do PT regional, mas nosso, da comunidade regional, há muito se escafedeu. Aliás, pensando mesmo, jamais foi da sociedade regional. O viés corporativista-sindical pautou sua passagem por aqui. Depois que virou presidente caiu nos braços do povo mais sofrido e durante algum tempo até da classe média regional. Mas, principalmente junto à classe média regional, o prestígio de Lula da Silva virou pó. Por razões mais que conhecidas e entendidas.
A Operação Lava Jato vai chegar para valer na região algum dia? Tudo indica que sim. Matérias-primas não faltam. Entretanto, talvez demore mais do que muita gente pretende e gostaria. Faz parte do processo. A Lava Jato não dá ponto sem nó. Essa Operação Triple X não está presa a um fiozinho de indícios, como alguns mais apressados podem sugerir.
Há toda uma arquitetura de informações e provas que vão desencadear novas complicações aos petistas. A força-tarefa da Lava Jato tem tática e estratégia. Lembra um time campeão. Joga cada jogo certo de que há uma correlação muita estreita com a perspectiva assegurada de que vai somar pontos preciosos a cada nova etapa.
Marinho e a empreiteira
Quem conhece a região sabe que há uma associação mais que direta entre a Construtora OAS, uma das principais organizações punidas na Operação Lava Jato, e o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho. E também há sérias possibilidades de o Polo Petroquímico, sobretudo as negociações envolvendo ações da Quattor, da Braskem e da Petrobras, criar sérios embaraços aos petistas locais de alto coturno. Mais diretamente o prefeito de São Bernardo, já metido nessa briga por um dos empreiteiros.
A pergunta que mais se faz nos bastidores da política regional é até que ponto o principal dirigente petista da Província, Luiz Marinho, estaria envolvido no escândalo da Petrobras. E, mais que isso, quais as ramificações do poder que construiu desde que Lula da Silva virou presidente da República poderiam ser alcançadas pelos operadores da lei do Ministério Público Federal, da Policia Federal e do juiz Sérgio Moro.
Não bastasse a Petrobras como ameaça ao PT na região, um poder que se espalhou por todos os municípios e registrou a façanha de transformar um obscuro e conservador vereador como Paulo Pinheiro em prefeito de São Caetano, não bastasse a Petrobras, também entrou em campo a Operação Zelotes, de venda de medidas provisórias para beneficiar empresas do setor automotivo. Mais que isso: a Operação Zelotes pode ser apenas a ponta de um novelo emaranhadíssimo de privilégios que vem do passado de uma aproximação suspeitamente pecaminosa entre executivos das montadoras de veículos e sindicalistas disfarçados de Romeros Rômulos.
Caças Gripen
Estava me esquecendo do terceiro vértice do que chamaria de Triângulo das Bermudas do PT na região. Trata-se da compra dos caças suecos Gripen. Há indícios fortíssimos de que também carrega potencial de estragos. O advogado Edson Asarias está sumido da praça e dos bastidores da Prefeitura de São Bernardo, onde desfilava desembaraço a causar inveja. Ele foi ponta de lança protegidíssimo nas relações entre as partes do negócio. Pode inclusive ter contaminado porções saudáveis da empreitada. Suspeita-se que tenha relação intestina com os operadores do lobby das montadoras de veículos.
Operação Lava Jato, Operação Zelotes e Operação Caças são uma tremenda dor de cabeça para os principais protagonistas do PT na região. Tudo muito concatenado com o PT estadual e o PT nacional porque, como se sabe, o PT é corpo político-partidário único.
As roubalheiras do PT só são mais profundas porque o PT é um partido sistêmico. Os outros partidos que também se metem em roubalheiras são menos nocivos porque fragmentados, e também porque não cultivam dogmatismo ideológico tão fora de moda no mundo civilizado.
Regionalidade suspeita
Somente em situações excepcionais os partidos se juntam, inclusive o PT, para se locupletarem. Na Província do Grande ABC é assim em algumas situações em que prevalece a lei do silêncio público e de maracutaias privadas.
Querem um exemplo insofismável? Por que o prefeito Carlos Grana, do PT, não mexeu uma palha sequer para ajudar o Ministério Público a desvendar o escândalo do Semasa, praticado durante a gestão do antecessor, o petebista Aidan Ravin, e, incrivelmente, levado à Justiça como um caso envolvendo apenas funcionários públicos. Como se não houvesse gente graduada do mercado imobiliário do outro lado do balcão. Perguntem a Carlos Grana e aos vereadores da base aliada se existe qualquer coisa que esteja na alça de mira deles para colocar a verdade dos fatos do Semasa à disposição do Judiciário. Perguntem?
Esse é apenas um dos escândalos que brotaram na região e foram devidamente sufocados.
A obscuridade da milionária Fundação do ABC, única regionalidade que deu certo na Província porque a Província não é boba nem nada, é um convite a uma Operação Lava Jato regional. Quem se habilita?
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!