O empresário Ronan Maria Pinto, dono do Diário do Grande ABC, preso hoje em nova fase da Operação Lava Jato, tem oportunidade de ouro para se consagrar perante a sociedade regional. Se fizer tudo que deve como eventual e mais que provável delator, a Província do Grande ABC passará por profilaxia moral, ética e criminal espetacular. Teria se consagrado muito mais e de forma incontestável se, à frente do Diário do Grande ABC, revelasse muitas das roubalheiras na Província, as quais estão à espera de Justiça de verdade.
Há bandidos sociais aos magotes na praça. o Diário do Grande ABC sempre foi muito econômico, quando não seletivo, ao identificá-los. Milton Bigucci, da Construtora MBigucci, é comprovadamente um deles. O ex-presidente do Clube dos Especuladores Imobiliário -- entidade hoje com nova direção e sob o rótulo mais que justo de Clube dos Construtores Imobiliários -- está metido na Máfia do ISS de São Paulo, no escândalo do Semasa em Santo André, na roubalheira do empreendimento Marco Zero, entre outros negócios que deveriam ser escarafunchados pelo Ministério Federal e pela Polícia Federal.
Mas Milton Bigucci segue impune e, acreditem, arrumando espaço para criminalizar jornalista numa opereta judicial que deveria escandalizar a todos. O que fazer se a nossa sociedade está morta?
Peça fundamental
Ronan Maria Pinto é uma peça de primeira grandeza no jogo de poder na região. Poucos se comparam a ele na capacidade de articulações com agentes públicos e privados. Não há na praça um relações públicas tão eficiente quanto Ronan Maria Pinto. É tão eficiente e produtivo que o Diário do Grande ABC resiste à derrocada econômica da região e ainda não se juntou, felizmente, ao obituário de jornalismo impresso que avança inexoravelmente no País.
Ronan Maria Pinto tem um talento extraordinário em fazer amigos. A tradição do jornal que comanda muito colabora para tanto. As páginas do jornal são objetos de respeito, quando não de medo. Como todo jornal regional e mesmo nacional tem de ser -- embora nem sempre por motivações republicanas.
Tivesse um tiquinho de tempo para falar com Ronan Maria Pinto não teria dúvida em lhe dar um conselho providencial: bote fogo nas imundícies político-administrativas que fazem da Província do Grande ABC território sitiado pela esculhambação de tudo que flertar com a legalidade.
Faça, caro Ronan Maria Pinto, com que o braço de investigações da Lava Jato torne a Província parada obrigatória, quando não força permanente, já que as instâncias que deveriam tomar as providências largamente denunciadas e analisadas nesta revista digital praticamente nada fazem, ou fazem muito aquém do necessário. O déficit de eficiência do Judiciário e do Ministério Público, além da Polícia Civil, é grandioso.
Conte tudo, conte tudo
Caro Ronan Maria Pinto: você que é um cara que conquista corações e almas com a peculiaridade fenomenal da prosa fácil, vomite todo o conhecimento e as provas de que dispõe para ajudar na limpeza desta Província. Faça isso e não se arrependerá jamais, porque seu prestígio está ao rés do chão e não faltarão adversários e inimigos, antes travestidos de amigos do peito, que fugirão de sua companhia, que o espinafrarão nas esquinas, nos bares e nos lares.
Intruso numa sociedade oligarca como a de Santo André, onde muitas fortunas foram construídas com base em modelos que não diferem muito do que a Operação Lava Jato vem destroçando, o melhor a fazer, caro Ronan Maria Pinto, é soltar o verbo. Conte tudo. Aproveite a delação premiada que certamente lhe será oferecida e bote a boca no trombone. Derrube todas as torres de podres poderes que você conhece como poucos. Metralhe, com revelações providenciais, o quadro multipartidário que ajuda a explicar muita coisa na construção da debacle regional. Somos um território duramente tangido pela roubalheira e a impunidade. Você sabe disso. Então fale. Fale. Fale.
Fale, Ronan, para que todos ouçam, que o caso Celso Daniel tem sim o desfecho que a imprensa e os direitistas tanto fazem questão de tentar alterar. Conte em detalhes sobre a atuação do então prefeito de Santo André, um dos maiores gerenciadores públicos da história da região, o homem que descobriu a obviedade de se apostar na regionalidade. Diga que Celso Daniel, ao contrário do que tentam fazer crer seus irmãos oportunistas, integrava a confraria que fez da Prefeitura de Santo André o laboratório de experiências de financiamento eleitoral para que o projeto de poder do PT ganhasse consistência.
Legado de Lula da Silva
Fale, Ronan, fale. Explique as razões do então presidenciável Lula da Silva, cobrar de um prefeito petista, Oswaldo Dias, de Mauá, a eficiência arrecadatória de Celso Daniel, pautada por métodos alheios ao manual de Administração Pública. Fale, Ronan, fale. Fale, Ronan, porque o que estão falando de você é uma enxurrada de frases e expressões que contrastam com as lantejoulas que tanto o embeveceram à frente do Diário do Grande ABC.
Mete o pau nesse cambada, Ronan. Faço da delação premiada praticamente quase tudo que não fez à frente do Diário do Grande ABC, embora não lhe faltasse pelo menos um interlocutor que sugerisse ações drásticas -- no caso este jornalista.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!