Não vou escrever hoje, mas vou escrever sim, e será na próxima semana. Decidi fazer breve análise sobre o Ministério Público que conheço como jornalista interessado tanto em situações de terceiros como vivendo na pele o preço de apresentar revelações sobre escândalos na região. O motivo maior, neste momento, é a gravidade do estado de saúde de Sérgio Gomes da Silva. A força-tarefa do MP Estadual instalada em Santo André, em janeiro de 2002, para investigar a morte do prefeito Celso Daniel, atribuiu a ele codinome previamente condenatório de Sérgio Sombra.
Converteu-se aquela investigação -- a partir do próprio estigma nominal do primeiro amigo do então prefeito – em investidas para lá de exageradas e imprecisas. “Sérgio Sombra” foi a forma de os promotores criminais criarem o bode expiatório do assassinato do prefeito. Uma patacoada sem limites que o tempo tratou de colocar no devido lugar e que – todos sabem –contou com apenas um jornalista com contraponto ao MP, respaldado tecnicamente para tanto.
Esse mesmo jornalista que, neste instante em que Sérgio Gomes respira com enormes dificuldades num leito de hospital, sugere aos promotores criminais do caso Celso Daniel o encaminhamento de documento, eletrônico ou físico, com pedido formal de desculpas por tudo que lhe imputaram indevidamente.
Relação conflituosa
Tenho com o MP relação conflituosa e respeitosa temperada muito mais de crítica no sentido de ceticismo do que de crítica no sentido de entusiasmo. Mas não pretendo me estender sobre isso nesta sexta-feira. Quero fazer um pouco de marketing sobre o que penso e que vou escrever.
Vou fazer exatamente o que fizeram os integrantes força-tarefa da Operação Lava Jato, mais especificamente o procurador Deltan Dallagnol, ao denunciarem o ex-presidente Lula da Silva como comandante máximo de ações criminosas do governo petista.
Dallagnol utilizou ferramental de comunicação que massificou o entendimento sobre os escândalos da Petrobras e de outras organizações federais. Foi duramente criticado por isso. Achei extraordinária a atuação dele e de seus companheiros. Além de fundamentada, foi estruturada à altura de previsíveis contraposições histriônicas dos petistas.
A sociedade precisa saber em detalhes como funciona a engrenagem das safadezas públicas. Os representantes da Lava Jato dão um show de bola nesse sentido. Bem diferente, portanto, do que fizeram os integrantes da força-tarefa que o governador Geraldo Alckmin escalou para transformar o assassinato de Celso Daniel por um bando de pés de chinelo em crime político-administrativo que atingiu duramente o PT. E também muito acima, em termos de resolutividade, do que temos continuamente observado na Província do Grande ABC.
Aqui, tem-se a impressão que jornalista cumpridor do ofício de estar atento às engrenagens do que chamam de desenvolvimento da sociedade merece ir para a cadeia para não se meter com bandoleiros.
Devidos lugares
Quem esperava que estivesse preparando o estilingue analítico para dar pedradas nos operadores da Lava Jato caiu do cavalo. Como cairão também quem imaginar, supor, sugerir, intuir, especular, ou seja, lá o que for, que o texto a preparar sobre o Ministério Público nos próximos dias será uma peça condescendente com o que considero falhas clamorosas de representantes da instituição.
E também vão se dar mal quem acreditar que, por conta de decepções acumuladas nos processos nos quais atuei direta ou indiretamente, deixarei de registrar com apetrechos técnicos o quanto os resultados locais devem servir de inspiração à reestruturação do Ministério Público Estadual na Província do Grande ABC.
Talvez no final de semana de reflexões mais duradouras a lista de temas que pretendo abordar num único e sucinto texto sobre a atuação do Ministério Público seja encorpada com um ou outro novo ponto. Salvo isso, são oito os casos que me levam a expor o que penso sobre a instituição.
Escrever sobre o Ministério Público -- exceto como ocorreu nos últimos dias por conta da inovação da Lava Jato na relação com a sociedade -- é quase um tabu na Imprensa nacional. Existe certo temor e também incontida, quando não irrefletida, reverência, à instituição.
Os profissionais dessa instância que flutua entre o Executivo, o Judiciário e o Legislativo, deveriam frequentar com mais assiduidade o noticiário regional, sempre levando em conta a solidez de investigações e, principalmente, preparados ao contraditório jornalístico. Como a força-tarefa da Lava Jato está.
Eis os assuntos sobre os quais me debruçarei na próxima semana na tentativa de esquadrinhar o que penso sobre o Ministério Público:
Assassinato de Celso Daniel
Desativação do projeto Cidade Pirelli
Escândalo do Marco Zero, em São Bernardo
Escândalo do Semasa, em Santo André
Escândalo do Residencial Ventura, em Santo André
Operação Lava Jato
Escândalo do Residencial Ventura
Máfia do ISS, na Capital.
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