O Observatório de Promessas e Lorotas que criei em julho de 2013 para medir o tamanho da seriedade dos administradores municipais da Província do Grande ABC já começou a contabilizar os pontos dos chefes de Executivos eleitos domingo passado. Estava em dúvida se esperaria ou não a posse dos já escolhidos pelos eleitores e dos prefeitos que serão eleitos em segundo turno no próximo dia 30. Decidi por conta própria, porque o Observatório de Promessas e Lorotas é prerrogativa apenas minha e de mais ninguém, que os registros vão se dar na medida em que forem definidos os vencedores. As posses formais são outros quinhentos que não vou levar em conta.
Por isso mesmo estou ligadíssimo ao que os vencedores já disseram à Imprensa impressa após as vitórias de domingo em primeiro turno. Quando escrevo Imprensa impressa não me refiro exclusivamente ao conceito antiquado de jornais fisicamente palpáveis, como o Diário do Grande ABC, por exemplo, e às edições semanais de publicações digitais diárias.
Imprensa impressa é tudo que pode ser retirado do campo digital e levado à impressão em qualquer terminal de computador.
Esta revista digital, por exemplo, é um veículo também impresso. Faço parto do grupo da Imprensa impressa. Basta acionar o mecanismo correspondente à transmutação e temos o resultado do trabalho em forma física. Não à toa o mote de CapitalSocial é “regionalidade para ser impressa”, que substituiu a “Leitura para ser impressa”, que, por sua vez, passou por cima de “Leitura o mês inteiro”, o qual se referia ao período da revista LivreMercado, cuja versão em papel não era replicada digitalmente, exceto em algumas situações especiais.
Materialidade informativa
Tudo isso quer dizer que as declarações dos novos e dos futuros prefeitos à mídia eletrônica – emissoras de rádio e de TV – e também às redes sociais, não vão ser escrutinadas no Observatório de Promessas e Lorotas. Há naqueles meios de comunicação certas liberalidades às intervenções de gestores públicos, as quais sugerem subjetividades interpretativas.
O que está no papel, diretamente no papel de imprensa, e também no papel resultado de impressão da Imprensa digital, isso sim vai virar massa crítica dessa instância diferenciada no jornalismo brasileiro.
A experiência dos últimos anos, quando os atuais prefeitos já haviam tomado posse, é pedagógica. Afinal, nenhuma de mais de uma centena de proposições dos titulares dos paços municipais foi consumada na integralidade com que foi exposta.
São casos de abuso do direito de iludir a sociedade em geral. Há infinidade de promessas e mais de dezena de lorotas que chocam os agentes com algum compromisso social. Luiz Marinho inventou o tal Aeroportozão, mas não está sozinho nas barbaridades apontadas. Estupidez não é monopólio do petista então tomado pela obsessão de governar o Estado de São Paulo. Faltou combinar com a Operação Lava Jato, claro.
Cadê a sociedade?
Quem acredita que os prefeitos de plantão são os únicos responsáveis pelos despautérios em forma de promessas e lorotas está muito mal acostumado com a centralidade decisória. São os agentes institucionais da região – entidades de classe empresarial, sindical e social – que fornecem o combustível da omissão e do desinteresse, quando não de privilégios em relações muitas vezes espúrias, de aceleramento de iniciativas fantasiosas.
O Observatório de Promessas e Lorotas desta revista digital -- que também é revista impressa -- está cumprindo, portanto, um papel mais que esclarecedor ao acompanhar de perto a gestão dos atuais prefeitos. Por isso mesmo estenderá monitoramento sejam quais forem os protagonistas públicos.
Tanto o Observatório de Promessas e Lorotas cumpre o papel lhe reservado que a velocidade de suprimentos tóxicos à credibilidade dos atuais prefeitos foi severamente atenuada com o passar do tempo. Efeito direto da repercussão negativa do descompasso entre o que se anunciou e o que de fato foi efetivado – absolutamente nada, como já dissemos.
Perspectivas melhores
A perspectiva de que a Província do Grande ABC poderá ter nos próximos quatro anos um conjunto de administradores públicos mais gabaritados fortalece a imperiosidade de dar continuidade ao projeto do Observatório de Promessas e Lorotas. Afinal, nada mais pedagógicos do que confrontos entre o que deixaram de legado os atuais prefeitos e o que deixarão os próximos.
Os tempos são outros e, por mais paradoxal que possa parecer, a melhora de resultados nos próximos quatro anos colidirá com o quadro macroeconômico nacional. Afinal, muito dificilmente teremos nas temporadas de 2017 a 2020 média de crescimento econômico semelhante aos quatro últimos anos – mesmo considerando que este quadriênio foi duramente abalroado por um governo federal perdulário e inconsequente.
A retomada econômica do País e particularmente da Província do Grande ABC será tão lenta quando cuidadosamente monitorada porque não permitirá barbeiragens típicas do governo petista nos dois últimos anos de gestão de Lula da Silva e nos anos subsequentes e tormentosos de Dilma Rousseff.
A vantagem que os novos prefeitos terão no próximo quadriênio é que não alimentam ilusões sobre a situação dos respectivos municípios, da região e do País. Estamos no fundo do poço e no fundo do poço permaneceremos por um tempo ainda não determinado com segurança, mas que já chegou a dezembro do ano que vem, segundo contas preparadas por especialistas em finanças públicas e em macroeconomia.
Chega de abusos
Com tudo isso, seria irresponsabilidade demais os novos prefeitos que assumirão os cargos em primeiro de janeiro abusarem do distinto público. Basta o que os atuais comandantes dos paços municipais da região perpetraram nos quatro últimos anos, alguns mais que outros, casos específicos dos petistas Carlos Grana e de Luiz Marinho.
Aliás, sobre isso, tem muita sorte o petista Luiz Marinho, cuja administração de oito anos se divide em duas partes antagônicas. No primeiro quadriênio contou com farta distribuição de recursos federais e pode exercitar para valer o que mais – inclusive os amigos próximos -- lhe atribuem: o perfil essencialmente obreiro, de pouca inteligência e muita transpiração. No segundo quadriênio, com escassez de dinheiro federal, restou a transpiração raivosa, preconceituosa e arbitrária.
O candidato indicado por Marinho, Tarcísio Secoli, chegou a 22% de votos válidos (e a apenas 13% dos eleitores habilitados em São Bernardo), mas poderia ter sofrido revés muito mais contundente caso a Província do Grande ABC contasse com mídia de massa como a Capital. A mesma Capital onde Fernando Haddad foi um prefeito muito mais moderno e prospectivo, e mesmo assim, bombardeado de todos os lados, não registrou mais que 16% dos votos válidos.
Na próxima semana vamos anunciar oficialmente os primeiros registros do Observatório de Promessas e Lorotas.
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