Vou explicar nos próximos dias as razões que me levaram a organizar série de indicadores indispensáveis à mensuração técnica da regionalidade. Para que serviriam esses pontos nucleares? Simples. Vou confrontá-los com as atividades do Clube dos Prefeitos, uma instituição que já completou um quarto de século. Vou estabelecer juízo de valor também em forma de nota de zero a 10. A medida é tão esclarecedora que não tenho dúvida de que a atual safra de titulares dos Paços Municipais não merece mais que a nota máxima da mínima, ou seja, um grandiosíssimo zero. Zero mesmo.
Antes que alguém solte os cachorros de impropérios ou eventualmente saia em defesa deste ou daquele administrador que está de plantão (só restaram dois às próximas temporadas) devo lembrar que a avaliação é do conjunto; ou seja, não há individualização do que fizeram ou deixaram de fazer em seus respectivos territórios. Essa é outra conversa.
Aproveitei o feriado de ontem para elaborar um conjunto consistente de vetores que alimentam a estrutura conceitual e técnica definidora da nota zero para os atuais prefeitos quando vistos em conjunto. E vou mais longe: a plataforma de embarque a essa rigorosa análise não é ocasional. Abarca quem atuou no Clube dos Prefeitos após a safra liderada por Celso Daniel entre 1997 e 2000. Todas as demais safras não merecem outra sorte senão outros grandíssimos zeros. Os propagadores de informações contestatórias estão convidados a exercerem o direito de se expressarem da forma que bem entenderem. Inclusive com artigos específicos.
Chumbo grosso
Ainda àqueles que por ventura insistirem em acreditar que esteja este jornalista a disparar petardos que supostamente seriam rescaldos de mau humor ou algo parecido (os opositores mais deletérios sempre arrumam motivo à desclassificação de realidades que não lhes agradam) sugiro que guardem as armas porque o chumbo é grosso, consistente, maduro, forte, irretocável, por assim dizer.
Em matéria de regionalidade todos sabem que são poucos os especialistas na praça e, mais ainda, que mesmo assim, raros entre os poucos têm liberdade de expressão como algo irretocável para se comunicar com a sociedade. A quase totalidade dos poucos que entendem do assunto estão presos a tentáculos de diversos calibres ideológicos, econômicos e políticos.
Dar nota zero ao Clube dos Prefeitos não é pouca coisa, mas é uma coisa merecidíssima. Não se trata de uma nota vazia, como pastel de vento. Há na definição dessa valoração conjunta dos atuais titulares dos paços municipais um mundo de experiência sistematizada que, no fundo, no fundo, é a gênese da regionalidade que este jornalista vem amadurecendo ao longo dos anos.
Regionalidade, regionalidade
Quando criei a revista LivreMercado em 1990, a concepção da publicação, pobre na plástica e na estrutura funcional mas rica na definição de um novo rumo editorial no jornalismo provinciano da região, se consumou emblematicamente na primeira edição. Abordamos o peso preocupante da indústria automotiva ao equilíbrio social e econômica da região. Tratava-se de assunto tabu. Maldito até, porque o que imperava (e ainda impera, por incrível que pareça) é babação de ovo interesseira.
Criei a revista LivreMercado antes mesmo de a revista LivreMercado existir de fato. A predecessora da publicação lançada pouco antes do Plano Collor foi a Revista Acisa, da Associação Comercial e Industrial de Santo André. Fora convidado pelo então presidente Tite Girelli para dirigir a revista da casa. O municipalismo expresso não me seduziu. Trabalhara anos suficientes para enxergar o então Grande ABC como algo interdependente. Atuei na Agência Estado, em Santo André, duramente vários anos. Nos últimos, então, depois de sair do Diário do Grande ABC no começo dos anos 1980, mergulhei na área econômica.
Não tinha sentido produzir uma revista que enxergasse apenas um dos sete pedaços territoriais da região. Depois veio Celso Daniel com uma filosofia de regionalismo revolucionária num autarquismo municipalismo estúpido. Após o assassinato do então prefeito de Santo André, o provincianismo voltou a dominar o cenário politico e institucional da região. Uma pobreza sem tamanho.
O que será dos próximos?
Para não esticar mais o assunto, porque este texto trata apenas de chamamento à leitura da análise que vem por esses dias, ficamos assim: o Clube dos Prefeitos e a sociedade desorganizada que o mantém praticamente inútil saberão em detalhes e com fundamentação histórica por que lhe damos nota zero vezes zero. E mais que isso: duvido que os novos prefeitos eleitos serão capazes, para valer, de alterar o rumo dos acontecimentos regionais.
A explicação é simples: eles nem disfarçam mais que não estão nem aí com o bicho de sete cabeças. Mal sabem que, sem adestrar a fera, também não terão futuro. Pelo menos como referências às gerações futuras. Façam o que façam como administradores municipais.
A reportagem do Diário do Grande ABC de hoje sobre o Clube dos Prefeitos só acentua minha desconfiança de que aquela instituição continuará a patinar, para ser generoso. Alguns dos prefeitos ouvidos, casos de Paulinho Serra e Orlando Morando, eleitos prefeitos domingo, precisam ser alertados sobre o histórico de improdutividades para que não repitam bobagens dos antecessores.
A grade de sustentação da análise que respalda a certificação independente de que o Clube dos Prefeitos não merece mais que um espetacular zero nos últimos quatro anos, repetindo safras anteriores de gestores municipais, conta com 10 quesitos que se cruzam e se retroalimentam. Ou seja: não se trata de subjetividades ao sabor de interesses difusos ou não.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)