Esta é a oitava matéria de uma série que tem o objetivo específico de contrapor 11 dos textos que escrevi e editei entre janeiro e agosto de 2013 sobre o mercado imobiliário da Província do Grande ABC a artigos de profissionais de comunicação da Capital do Estado, principalmente. Trata-se de paralelismo elucidativo em defesa da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão. O alvo é um opressor provinciano que se considera intocável, embora carregue o peso de vários escândalos no currículo.
Numa ação criminal movida por Milton Bigucci (esse é o personagem pretensamente intocável), então presidente do Clube dos Construtores do Grande ABC (que durante larga parte em que ele foi presidente se transformou em Clube dos Especuladores Imobiliários), o que se pretende claramente é calar um jornalista independente.
Milton Bigucci nutre horror ao contraditório. Tanto horror que ao longo de seis anos, dos últimos seis anos, fugiu de seis entrevistas diferentes para esta revista digital. Ele só responde a quem se subjuga a seus interesses e não ouse questionamento que o coloque em desconforto. Os mandachuvas desta Província são assim mesmo.
Milton Bigucci comanda um conglomerado de empresas considerado pelo Ministério Público do Consumidor de São Bernardo campeão regional de abusos contra a clientela. Ele insistiu, com aquela iniciativa no Judiciário, em tentar abortar a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa. Anteriormente perpetrara duas ações em nome pessoal contra este jornalista. Bem assessorado por batalhão de advogados, faz de verdades mentiras ou meias-verdades. Manipula os textos jornalísticos ao sabor de subjetividades malandras.
Artigos emblemáticos
Não fosse pelo fato de o Judiciário de Santo André ter dado guarida à demanda assombrosamente ditatorial do empresário metido também no escândalo da Máfia do ISS de São Paulo, este jornalista não estaria a ocupar este espaço para retomar os artigos e tampouco compará-los aos de terceiros. Mas é o que faço na tentativa de didatizar conceitos democráticos.
O capítulo de hoje justifica o título desta matéria porque envolve dois profissionais de reconhecida competência, os jornalistas José Nêumanne Pinto e Fernão Lara Mesquita, editorialistas do jornal O Estado de S. Paulo. O que sugiro aos leitores é que façam mesmo um confronto sério, cuidadoso, isento, entre os três textos.
Imaginem – e esse é o convite expresso do título – Milton Bigucci como alvo dos textos dos dois profissionais da Capital. O primeiro artigo, de Fernão Lara Mesquita, trata das eleições de outubro. Se Milton Bigucci fosse presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), provavelmente Fernão Lara Mesquita seria levado ao Judiciário. Ou se, no artigo de Nêumanne, fosse Bigucci um dos alvos, não o ministro-chefe da Casa Civil do governo federal, o empresário e político Eliseu Padilha, o destino seria semelhante.
Nunca é demais lembrar a persistência seletiva do empresário Milton Bigucci, também patrocinador do escândalo do Marco Zero, de arremate irregular de uma área pública, conforme denúncia fartamente documentada que apresentei ao Ministério Público Estadual. Persistência seletiva significa, no caso da queixa-crime que reúne 11 artigos deste jornalista, o descarte por parte do queixoso de outras matérias que analisavam igualmente com acuidade a atuação dele como então dirigente do Clube dos Construtores e à frente da Construtora MBigucci.
Possivelmente Nêumanne Pinto e Fernão Lara Mesquita não têm ideia do que é enfrentar um milionário que se acha no direito de tentar tapar a boca de quem ousa apresentar à sociedade informações que outros veículos de comunicação da Província do Grande ABC simplesmente descartam.
Vamos, então, aos três artigos. Constatem o grau de periculosidade deste jornalista quando se refere ao Clube dos Construtores, do qual, finalmente em dezembro do ano passado, Milton Bigucci foi apeado da presidência, após um quarto de século de inutilidades sobrepostas a inutilidades. Convém lembrar que o artigo de Nêumanne foi publicado na edição do Estadão de 2 de novembro sob o título "As ilusões das eleições", enquanto o de Fernão Lara Mesquita foi editado dois dias depois sob o título "Nove ""verdades"" que esta eleição desmente".
Primeiros trechos do artigo deste jornalista -- Dono do Diário do Grande ABC, Ronan Maria Pinto desapareceu ou quase desapareceu desta revista digital por uma razão muito simples, não por qualquer ilação que os estúpidos costumam engendrar para dar vazão a idiossincrasias de sempre, da sem-vergonhice de sempre: Ronan Maria Pinto está praticamente fora de CapitalSocial nesta temporada (foram até agora apenas sete artigos) pela simples razão de que deixou o comando do Saged, empresa que durante cinco desastradas temporadas bateu recordes de rebaixamento e de ineficiência administrativa à frente do futebol da cidade. Somente por isso. Ronan Maria Pinto é a prova provada de que este jornalista não tem por costume nem por paranoia perseguir ninguém. Ronan Maria Pinto só está nos acervos desta revista digital em exatos 206 textos, como protagonista ou subsidiariamente, porque não é um cidadão qualquer. Ele é comandante do maior (embora não seja o melhor) veículo de comunicação da região, dirigiu o futebol de uma equipe tradicional por cinco jornadas, esteve envolvido indevidamente no noticiário criminal do caso Celso Daniel, de vez em quando aparece no noticiário político porque é um dos articuladores dos cordéis na região, e também frequenta a sociedade; enfim, é alguém sobre o qual a Província do Grande ABC gira e alguém que também gira em torno da Província do Grande ABC, nessa roda gigante maluca em que todos nos metemos.
Primeiros trechos do artigo de Fernão Lara Mesquita no Estadão -- 1 – “Identificação biométrica e rapidez de apuração são provas do avanço da democracia brasileira”. É exatamente o contrário. Aqui o eleitor só entra em campo depois do jogo jogado para dizer sim ou não aos escolhidos dos “caciques” dos partidos. Em democracias de verdade, como a americana, a suíça e outras, aproveita-se toda e qualquer eleição para que o eleitor decida literalmente tudo. Junto com presidentes, legisladores ou prefeitos ele elege diretamente os funcionários públicos sem função exclusivamente política tais como xerifes, policiais, promotores, diretores de escolas públicas, etc.; vota leis de iniciativa popular; referenda ou derruba leis do Legislativo; autoriza ou não impostos novos ou aumentados; aprova ou não a contratação de dívida; confirma ou não o mandato do juiz da sua comarca; vota o “recall” ou não de funcionários eleitos na eleição anterior. Para a eleição da semana que vem 162 temas adicionais, 71 propostos por abaixo-assinados de cidadãos comuns, foram certificados em 35 estados para constar das cédulas pedindo decisão dos eleitores de Trump ou Hillary. Por isso 30 milhões deles já receberam suas cédulas com um mês de antecedência e as vão enviando preenchidas pelo correio. Por isso demora para apurar eleições em democracias de verdade. 2 – “A política não se renova porque brasileiro não sabe votar”. Essa afirmação toma o efeito por causa. O povo elege o de sempre porque só consegue autorização para se apresentar como candidato quem se compõe com os donos dos partidos. Por isso reforma política pra valer inclui necessariamente um ponto chave da que os americanos fizeram lá atrás. Tornar as eleições municipais apartidárias para quebrar as pernas dos “caciques” (cujo poder passaria do controle dos 5.570 potenciais “currais” municipais de hoje para apenas 27 estruturas estaduais) e abrir as portas da política à entrada de sangue novo. Qualquer um pode se candidatar a prefeito ou vereador sem pedir licença a ninguém.
Primeiros trechos do artigo de José Nêumanne no Estadão -- O principal derrotado nas eleições municipais de outubro de 2016 foi o Partido dos Trabalhadores (PT). E com ele afundaram nas urnas seus sucedâneos e tradicionais aliados de esquerda: de Rede, PSOL e PCdoB a nanicos revolucionários – os de centro-esquerda e os mais extremados. Isso quer dizer que a centro-direita venceu a disputa, levando em conta estatísticas avassaladoras do gênero: 80% das prefeituras do País foram conquistadas por legendas, das gigantes às mínimas, todas componentes da base de apoio do governo-tampão de Michel Temer? Ou, ainda, o maior partido da oposição nos desgovernos petistas de Lula e Dilma, o PSDB, ganhou 863, ou seja, 25% dos pleitos, um recorde histórico? Nada disso! Acreditar em tal lorota – ou na análise oportunista e apressada do advogado, empresário e político Eliseu Padilha, ministro-chefe da Casa Civil do governo federal, de que os eleitores derrotaram nas urnas a hipótese estapafúrdia do “impeachment sem crime é golpe” – é dar alguma razão a quem ainda insiste nessa total tolice. Quem rotula PSDB e PMDB de centro-direita acredita em contos de fadas e bruxas nos quais Lula, insubstituível líder do PT, é esquerdista. Os tucanos, atarantados sócios da maior legenda que se opôs aos 13 anos, 4 meses e 12 dias sob o ex-sindicalista e a ex-guerrilheira, são farinha do mesmo saco de que se nutriu o partido que foi comandado por Ulysses Guimarães. Foram produzidos na luta gloriosa contra a ditadura militar e civil, esta, sim, de direita, que promoveu o milagre econômico e a repressão brutal dos anos 60 a 80. Mas foram separados na feira em que se puseram à venda nas vicissitudes da democracia que sucedeu ao arbítrio.
Mais trechos do artigo deste jornalista -- Como nos últimos anos a exposição majoritária dos atos de Ronan Maria Pinto se deu na área esporte, é compulsório que apareça nas estatísticas desta revista digital prevalecentemente como dirigente do Saged. Do total de 206 matérias do acervo de CapitalSocial, 109 se referem à participação dele nos destinos do Saged, que, após sua saída, voltou às origens e à concepção de “Ramalhão” deste jornalista. A importância desta publicação à captura da história do Ramalhão é tão incisiva quanto inquestionável: não fossem as dezenas de matérias que produzimos, o período do Saged provavelmente jamais poderia ser resgatado no futuro por leitores curiosos ou pesquisadores ávidos por entender o que se passou no futebol da cidade. A maioria senão a totalidade da mídia regional simplesmente se calou ante tantos despautérios. Ronan Maria Pinto foi o condutor de um fracasso, mas a bem da verdade teve o suporte da omissão ou do acovardamento da maioria dos integrantes do quadro de acionistas do Saged, bem como da diretoria do Esporte Clube Santo André, agremiação à qual o futebol da cidade retornou nesta temporada. Sem dúvida o que Ronan Maria Pinto fez de melhor para o Ramalhão, sempre Saged sob seu controle, foi ter levado a agremiação empresarial a duas situações inéditas: à final do Campeonato Paulista de 2010 com o Santos, resultado da formação de uma das melhores equipes em quase 50 anos de atividades do Ramalhão, e a disputa inédita da Série A do Campeonato Brasileiro no formato de turno e returno, no mesmo ano, quando acabou rebaixada. Pena que o preço disso tudo foi salgadíssimo, já que o Saged deu passos maiores que as pernas e se afundou em dívidas e, principalmente, ao retornar ao berço antigo do Ramalhão, integrava a Quarta Divisão do Campeonato Brasileiro.
Mais trechos do artigo de Fernão Lara Mesquita no jornal Estadão -- 3 – “Ha partidos vitoriosos nesta eleição”. Esta foi a eleição do “não”. “Eu não voto mais”, “Eu não voto no PT”, “Eu não voto em ladrão”, “Eu não voto em político”, etc… O mais foi consequência do controle da portaria do “Sistema”. Votou-se no que sobrou dos “não”, já era conhecido ou pôde botar a cara na TV pra mostrar que existia, o que vale dizer estar num partido grande e velho. Ponho a mão no fogo como 99% dos eleitores não sabe em que partido votou ou, se lembra, não sabe nem a tradução da sigla daquele em que acabou votando, mesmo dos tradicionais. 4 – “A ideologia move a polarização esquerda x direita”. Nem os presidentes dos partidos conseguem definir esquerda e direita. Mas um grande divisor de águas aparece nítido no Brasil como no resto do mundo, especialmente o latino: ser contra ou a favor da austeridade fiscal. Só que não é uma fronteira ideológica, é fisiológica: de um lado pena a massa que paga a conta, trabalhando dobrado e ganhando a metade; do outro entrincheira-se a “casta” que é paga pela conta trabalhando a metade e ganhando dobrado. É essa que, sentindo-se agora ameaçada, quebra-quebra e queima pneus por aí porque as TVs lhes deram a dica de que esse é o jeito do seu “Dane-se a miséria nacional, ninguém toca no meu!” alcançar mais que as esquinas que já não conseguem encher de gente e soar como o contrário do que é. 5 – “É impopular encarar de frente os problemas mais velhos e óbvios do Brasil”. Se há algo que ficou bem definido nesta eleição é que quanto mais assertivo foi o candidato em relação a eles – necessidade de ajuste, privatização, desmonte da corrupção de sindicatos e partidos com dinheiro de imposto, fim da chantagem trabalhista e dos “marajalatos” – mais fulminante foi sua eleição e a distância aberta em relação ao oponente, não importando as “tradições” das praças envolvidas. João Dória e Nelson Marchezan são os exemplos mais visíveis mas não os únicos.
Mais trechos do artigo de José Nêmanne no Estadão -- Ao contrário do que reza a doutrina esquizofrênica da esquerda, dominante nas escolas e nos palanques, o autoritarismo não ruiu aos pés dos “heróis” da guerra suja, mas da prática democrática da sociedade e dos parlamentos liderados pela oposição civil, mesmo sob dura ameaça permanente. O longo processo que depôs a quarta gestão federal petista nunca foi contaminado em um segundo que fosse pelo vício da ilegitimidade. A teoria do “gópi” – apud senadora Fátima Bezerra (PT-RN) – nunca sequer foi levada em conta pelo cidadão comum na hora de votar em seu prefeito. O engano de Padilha nem precisa ser negado por pesquisas de opinião que constatam índices massacrantes de impopularidade de seu chefe no Palácio de Planalto. Pois esta é percebida, por qualquer brasileiro de posse das faculdades mentais, em casa, no trabalho e nas ruas. Mas, como ficou rouca de insistir Dilma, impopularidade não tira legitimidade de presidente nenhum. E a maioria que a sufragou nele votou, ora bolas!
Trechos do artigo deste jornalista -- Mais que isso: são amplas as possibilidades de, neste ano, por força do regulamento, o Ramalhão cair para a Sexta Divisão. Basta que não obtenha improvável acesso à Série C, já que disputa a Série D. Como o Ramalhão foi rebaixado à Série B do Campeonato Paulista, a disputa da Série D do Campeonato Brasileiro poderá reverter em inscrição automática na Sexta Divisão do Campeonato Brasileiro. É claro que Sexta Divisão é uma hierarquia virtual, já que não há competição nacional além da Quarta Divisão. Já há algum tempo estou morrendo de vontade de escrever algo sobre Ronan Maria Pinto fora do âmbito esportivo, porque nessa instância editorial ele só será mencionado como estrela ou coadjuvante quando houver necessidade de retroceder no tempo, como agora. Penso em escrever sobre Ronan Maria Pinto no campo jornalístico. Já escrevi tanto no passado, principalmente depois de ter deixado a direção editorial do Diário do Grande ABC nove meses após ter sido contratado por ele para tirar o jornal do atoleiro de ineficiências, mas acho que não esgotei o estoque.
Mais trechos do artigo de Fernão Lara Mesquita no Estadão -- 6 – “Existe um preconceito de gênero”. O número de prefeitas e vereadoras eleitas caiu apesar da “cota” de 30% de candidatas imposta por aquele mesmo pessoal que, conforme a hora, nos diz que “não existe gênero” senão o que cada um escolhe para si. Quem escolheu não eleger seu prefeito ou vereador só por esse atributo foi a metade feminina do eleitorado brasileiro ou, se quiserem, os 100% “sem gênero definido pela natureza” que acabam de aprender, com Lula e Dilma, que pôr alguém para cuidar da coisa pública só por ser mulher é um tipo de oportunismo para enganar trouxa que em geral acaba em desastre.7 – “Lula ainda é uma força para 2018”. Nesta campanha “ter apoio de Lula” passou a ser a “denúncia” atirada por candidatos “de esquerda” contra candidatos “de esquerda”. Em quem colou não sobrou nada… 8 – “Basta melhorar a gestão pro Brasil ir pra frente”. Foi-se o tempo! Agora o setor público está que não tem nem pra lavar o chão do IML, como no Rio, e a economia privada, em choque hemorrágico, não tem mais com que se reerguer, mas a reforma da Previdência de que se fala não toca nos “marajás“, só põe dinheiro no caixa no futuro distante e a PEC 241 nem menciona o rombo de estados e municípios. A briga em torno de quem vai pagar essa conta (na qual as denuncias da Lava-Jato serão as armas nos bastidores) nem começou ainda.
Mais trechos do artigo de José Nêumanne no Estadão -- Das profundezas de sua tumba o Conselheiro Acácio, criado por Eça de Queiroz, mandou avisar que os vencedores das eleições municipais, a salvo de todas as ilusões, foram os candidatos que tiveram mais votos. Em São Paulo, João Doria precisou muito de Geraldo Alckmin para afastar Andrea Matarazzo da legenda tucana, exilando com ele os figurões Fernando Henrique, José Serra e Alberto Goldman. Mas o governador paulista não contribuiu com os votos necessários para a vitória nas urnas. A eleição folgada em segundo turno do ex-bispo (isso existe?) da Igreja Universal Marcelo Crivella, no Rio, não representa uma adesão em massa da maioria católica dos cariocas às barbas do pretenso profeta Edir Macedo. Os mapas eleitorais da cidade que já foi maravilhosa desvendam um triunfo obtido na periferia miserável sobre os bairros dos abonados que, isolados, elegeriam Marcelo Freixo. Na verdade, este foi derrotado porque sua tolerância com traficantes e vândalos mascarados fere mais a suscetibilidade do pobre, que não pode sair da favela onde nasceu, do que a segurança do rico, apto a comprar a própria paz com uma parte ínfima da mais-valia a que tem acesso.
Trechos finais do artigo deste jornalista -- Sei lá porque, mas ainda acho que valeria a pena escrever o que estou imaginando e que não vou revelar agora para não estragar a surpresa. Sei lá também se é surpresa. De vez em quando, quando leio uma ou outra notícia do Diário do Grande ABC que foge àquilo que me leva a formar uma opinião que parece consolidada sobre determinados conceitos cristalizados, imagino que seria possível acreditar em algo diferente do que leio mas que não vou explicitar agora. Ainda acho, no fundo da alma, que Ronan Maria Pinto poderia se redimir fortemente dos fracassos esportivos exatamente num campo de atividade econômica que conhece tão pouco e, mais que isso, chega a sugerir que despreza. É claro que estou me referindo ao jornalismo praticado pelo Diário do Grande ABC. Confesso também que esse pensamento é dúbio, porque, paradoxalmente, acho pouco provável que, não fosse Ronan Maria Pinto tornar-se dono, a publicação teria resistido no formato diário em que se mantém nestes tempos de tanta mudanças no mundo da plataforma de papel e particularmente de uma região enormemente empobrecida. Mas, voltando aos números da presença física e estatística de Ronan Maria Pinto nesta revista digital, o que quero dizer mesmo é que o empresário Milton Bigucci deveria aprender com o dono do Diário do Grande ABC uma lição que insiste em subverter com manipulações semânticas e avançadíssimo grau de autovitimização tola: para que a frequência de seu nome seja reduzida substancialmente nestas páginas, basta que, primeiro, renuncie de vez à presidência do Clube dos Construtores, entidade que pensa dirigir há mais de duas décadas e a qual transforma em plataforma de omissões, abusos e tantas outras irregularidades; segundo, que cuide melhor dos aspectos éticos e morais do conglomerado empresarial que comanda. Talvez Milton Bigucci devesse aprender com Ronan Maria Pinto algo que provavelmente jamais entenderá, tal o vezo ditatorial que o caracteriza: acabe com essa besteira de pretender calar à força ou com manobras mentirosas a manifestação livre do pensamento e a liberdade de expressão quando o que está em jogo é o interesse público. Ronan Maria Pinto pode até não entender de jornalismo, como tenho cansado de dizer, mas jamais foi acometido publicamente pelo vezo de dono da verdade apropriado por Milton Bigucci. Nada neste mundo me fará abandonar a prática de jornalismo crítico, até porque outro tipo de jornalismo nem pode ser chamado de jornalismo, mas de colunismo social disfarçado ou não.
Trechos finais do artigo de Fernão Lara Mesquita no Estadão – 9 – “O Brasil é uma democracia”. Da democracia não temos nem o elemento definidor que é o império da lei igual para todos. Na raiz do presente desastre estão os privilégios legalizados e direitos “adquiridos” que “foros especiais” podem tornar até hereditários, como na Idade Média. Sem um direito só pra todo mundo não tem saída. E pra chegar lá tem de por o povo no poder, o que se faz submetendo os eleitos aos eleitores antes e depois da eleição, com prévias transparentes para escolha dos candidatos e “recall” para a troca dos que, eleitos, “apresentarem defeito”. Sem isso “O Sistema” continuará para sempre indomesticável, cavalgando impunemente o lombo do povo.
Trechos finais do artigo de José Nêumanne no Estadão -- Segurança é uma senha evidente para definir o voto majoritário de outubro, mas não é a única. Nem a principal. O sinal disso foi dado pela transformação do agressivo cinturão vermelho que cingia a Grande São Paulo por um diáfano diadema azul. Nunca antes na História deste país, no ABC, berço do sindicalismo autêntico, do PT e do carisma de Lula, bandeiras rubras foram enroladas nas festas de vitórias municipais. A região teve a terrível oportunidade de testemunhar que o poder nas mãos dos sindicalistas e os cofres públicos escancarados pela renúncia fiscal às montadoras não poderiam resultar em nada diferente do desemprego em massa, que esvaziou as despensas dos lares operários. A fuga das estrelas encarnadas das ruas do ABC paulista é o melhor símbolo da consciência do eleitorado de ter sido vitimado pela corrupção, pela inépcia e pelo aparelhamento petista da máquina pública, que resultaram na crise econômica, na quebradeira das empresas e na tragédia do desemprego galopante. Foi necessário o holerite desaparecer em todos os municípios para os brasileiros notarem quanto os empobrece o enriquecimento dos políticos, cujo furto fica mais cruel quando se acompanha do desencanto com o lorotário ideológico. Por incrível que pareça, a pré-racionalidade do eleitorado (apud Mauro Guimarães) também cobrou duramente do maior adversário de Lula e principalmente Dilma, o tucano mineiro Aécio Neves, que perdeu a eleição em Belo Horizonte para um cartola de futebol que disse que “roba” (sic), mas não pega propina. Neto de Tancredo Neves, que avisava sabiamente que ninguém se elege presidente se não for capaz de unir o próprio berço, Aécio trouxe agora à tona a mentira de que em 2014 teria sido derrotado no Nordeste, mas foi vencido mesmo em Minas Gerais. Agora disputará a indicação do partido com Geraldo Alckmin, que elegeu um prefeito em cada quatro cidades paulistas, sendo uma delas a maior de todas. Nesta era cibernética até o castigo “avoa” nos ares.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)