Os leitores desta revista digital não sabem ou não imaginam o prazer que tenho de, todos os dias, em horários incertos, geralmente no período da manhã, tratar de tarefa tão prazerosa quanto, às vezes, masoquista. É uma atividade compensadora trazer para estas páginas virtuais o melhor dos melhores textos da revista impressa LivreMercado que comandei na área de Redação durante quase duas décadas cheias. Que os prefeitos eleitos tratem de ler mais estas páginas, portanto. Errarão menos. Prometerão menos. Serão menos loroteiros.
A mistura de prazer em larga escala com masoquismo em menor proporção pode ser explicada de forma sucinta: LivreMercado tinha faro finíssimo no monitoramento de questões mais importantes do mundo regional e, por isso mesmo, sempre correu o risco de quebrar a cara diante de surto de confiança em terceiros. Quebrar a cara significa que projeções, projetos, perspectivas enunciados por entrevistados, principalmente do setor público, poucas vezes tiveram pontaria certeira. Pior que isso: a pontaria em vários casos lembrava, com o decorrer do tempo, senhor da razão, que os atiradores eram patetas.
A identificação dos textos publicados na revista LivreMercado é menos complexa do que parece. Tudo que consta do acervo de CapitalSocial janeiro de 2009 como ponto de partida foi produzido e editado exclusivamente para CapitalSocial. Daí para trás, em larga escala, são insumos que ocuparam originalmente as páginas impressas de LivreMercado. Há exceções de matérias dos meus tempos de Diário do Grande ABC e da Agência Estado, braço de produção e distribuição jornalística do jornal O Estado de S. Paulo, no qual atuei durante mais de uma década como freelance e depois como efetivo. Também constam muitos textos dos tempos em que CapitalSocial era newsletter.
Aprender ou perecer
A história que fizemos de LivreMercado com uma equipe de primeira linha não tem preço. Os leitores que amam a Província do Grande ABC não podem, por isso mesmo e por muito mais, perder a oportunidade de vasculhar as entranhas dessas páginas. A economia e o social da região estão nesta publicação, continuidade de LivreMercado no sentido de filosofia de trabalho, embora com outras ferramentas. LivreMercado, como CapitalSocial, jamais se dobrou aos oportunistas de sempre.
CapitalSocial, por força da independência diretiva deste jornalista, é ainda mais enfaticamente desbravadora de critérios de responsabilidade social sem dar bola aos mandachuvas e mandachuvinhas que há muito tempo tentam controlar todos os cordéis regionais. Sei muito bem o que fiz durante os quase 20 anos de LivreMercado para sustentar a idealização e a prática de um jornalismo sem amarras. Mas isso não é para ser explicado agora e aqui.
Diferentemente do que imaginam alguns e têm certezas outros que conhecem apenas o estereótipo deste jornalista, nada me moveu mais durante todo o período de LivreMercado do que o sentimento de agregação de valor ao conteúdo daquela publicação.
Identidade editorial
Tinha esse pressuposto uma equipe de jornalistas em permanente busca de similaridade de estilo e de abordagens. A premissa de que a edição seguinte estava umbilicalmente relacionada à edição anterior, de modo que não parecesse um Frankstein editorial como tantas outras publicações, era um dos mantras.
LivreMercado era uma publicação à altura das maiores revistas do País, que são poucas por sinal. Havia sincronia da primeira à última página em forma de sugerir aos leitores que aqueles nomes que assinavam os textos não passavam de despistes, tal a intimidade que os caracterizava como estilo, conteúdo e mesmo certo inconformismo em matérias mais dignas de invasões a guetos de comodismo da região. Não faltaram situações nas quais meus companheiros de trabalho se mostravam mais incisivos do que eu.
A história editorial de LivreMercado é marcante como a reunião de uma equipe de jornalistas de primeira linha que, como eu, precursor, aprendeu a escrever para publicações não-diárias (um ensinamento que infelizmente não se expandiu, tendo em vista o que temos na praça). Por isso e por tantas coisas mais não é possível permitir que o esquecimento prevaleça. Por isso mesmo rebocamos continuamente os textos a esta revista digital.
Mais que isso: dentro do projeto de discreta reformulação visual e de conteúdo desta publicação, encaminhado a uma empresa especializada para entrar no ar em janeiro próximo, ofereceremos na primeira página espaço a chamadas de matérias que contribuíram para consagrar LivreMercado.
Nada de saudosismo
Quem imagina que se trata de saudosismo é idiota juramentado. O propósito não é outro senão oferecer aos leitores, agora com mais visibilidade, lições em vários campos da atividade econômica e social da Província do Grande ABC.
A riqueza editorial de LivreMercado não pode ficar confinada aos exemplares impressos que eventualmente constem das prateleiras de colecionadores (eu os tenho todos graças à organização da então editora-chefe, Malu Marcoccia) e mesmo às páginas digitais de CapitalSocial.
Dar destaque diário a matérias de um produto que minimizava a carga de provincianismo da mídia regional é estratégia que tem pelo menos duas finalidades convergentes: mostrar para os jornalistas que atuam nestes tempos que não há exagero algum em dizer que LivreMercado era um ponto fora da curva no jornalismo regional do País e, também, provar o quanto cantamos a bola de que a Província caminhava para um desfiladeiro sem fim.
Também é importante ressaltar – e o faço antes que algum bandido digital pretenda estabelecer covardemente uma versão completamente desvirtuada deste texto – que a migração de LivreMercado para CapitalSocial é ação tão legítima quanto imprescindível, além de pedagógica e igualmente oportuna -- não um ato de saudosismo de quem chora o leite derramado. Explicamos todos esses pontos para quem não fique a menor dúvida.
Revista preservada aqui
No campo da legitimidade, sou usufrutuário de todo o acervo editorial de LivreMercado. A marca LivreMercado foi trocada por dívidas contraídas pela Livre Mercado durante a fase em que o sócio majoritário era o Diário do Grande ABC, a partir de março de 1997. Portanto, não existe ninguém mais apropriado do que este jornalista, que concebeu editorialmente aquela publicação e a dirigiu no setor durante todo o tempo de circulação séria, como agente curador daqueles textos.
Quanto à imprescindibilidade da transposição de LivreMercado a esta revista digital, a melhor resposta pode ser dada pelos próprios leitores. Basta escarafunchar o acervo e comparar com o que temos na praça.
Já a qualificação pedagógica, tanto do acervo de LivreMercado como desta CapitalSocial, deveria servir de consulta obrigatória. Os assessores dos novos prefeitos da região deveriam encaminhar diariamente o seguinte lembrete a partir de cada jornada de trabalho: “veja nessas sugestões de leitura o que seus antecessores já fizeram ou deixaram de fazer na nossa cidade e não caiam na besteira de repetir os erros do passado”.
Para completar, a “oportunidade” dessa ação editorial, ou seja, trazer mais passado ao presente, é algo que se confunde com o vetor pedagógico já mencionado, com a diferença de que esse novo processo envolve mais que os agentes públicos da região, mas também a sociedade como um todo que, ao voltar ao passado que já conhece, mas esqueceu, ou que não o vivenciou porque é de uma nova geração, não poderá argumentar ausência de referenciais pelo cometimento de erros que não passariam de repeteco do passado, com o agravante de que, por serem repetecos, ganham ares de idiotice.
Marca mais apropriada
Por fim, tenho tanto prazer de escrever sobre a LivreMercado que criei e que dirigi quanto ojeriza a qualquer proposta que, como já fizeram, retomar aquele projeto. CapitalSocial seria o nome perfeito para a LivreMercado do passado. Ou seja: LivreMercado só não foi melhor ainda porque não se chamava CapitalSocial. Palavra de quem criou tanto uma quanto outra marca basicamente com o mesmo significado, embora o primeiro carregue para socialistas de araque uma carga ideológica sem base de sustentação, embora manipuladora.
Para completar, sugiro nos links abaixo a leitura de textos pinçados aleatoriamente do acervo de CapitalSocial. Uma degustação que dá bem a ideia do significado de LivreMercado na história do jornalismo e da sociedade desta Província a todos que não tiveram a oportunidade de conhecer aquela publicação. E aos que a conheceram, uma janela de ouro para matarem a saudade. Custa nada.
Leiam, portanto:
Guerra fiscal pode complicar ainda mais a metropolização
Tudo pronto: Petroquímica União vai se libertar do controle estatal
Vereadores querem voz e vez no Consórcio de Prefeitos
Entre biribas e supersanduíches
Total de 1884 matérias | Página 1
13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)