Estou começando a acreditar que estou fora de forma. Não, não estou fora de forma física. Ainda dou um bom caldo se o assunto for condicionamento cardiovascular e força muscular, porque faço exercícios todos os dias. Estou defasado é na octanagem verbal que adoto nesta revista digital. Sou bonzinho demais com os bandidos sociais. Chamá-los de bandidos sociais é a prova disso. Deveria fustigá-los com mais impetuosidade. Há jornalistas e radialistas da Capital, somente da Capital, que não medem palavras nestes tempos em que não se deve medir mesmo. Aqui nesta Província a maioria da classe é frouxa.
É verdade que há distinção a me separar do pessoal mais inconformado da Capital. Provavelmente por isso, por reconhecer que piso num terreno muito mais movediço, tenho de me conter um bocado. O pessoal da Capital, tanto de rádio quanto da mídia digital, desce o porrete sem dó principalmente na classe política. Mas também não escapam autoridades do Judiciário e do Ministério Público.
Com tanta massa sistêmica em defesa da liberdade de opinião esse grupo de profissionais mais agudamente rigorosos precisa engrossar as fileiras só desbravadas por mim ao começar a distribuir cacetadas nos mercadores imobiliários.
Bonzinhos demais
Às vezes não entendo como a Imprensa da Capital é tão condescendente com os bandidos do mercado imobiliário que contribuíram para tornar um inferno a qualidade de vida na metrópole. Os escândalos são uma constante envolvendo diretamente os filiados do Secovi, o Sindicato da Habitação. Subverter o uso e a ocupação do solo é prática comum. A Máfia do ISS vem de longe, em conluio com autoridades públicas. Na Província não é diferente. A diferença é que aqui prevalecem os panos quentes.
O que temos agora, como cardápio que todos certamente vamos engolir, é o mesmo Secovi dando as cartas em habitação e urbanismo da Administração de João Doria, que começa em janeiro. E imaginar que Fernando Haddad e sua herança de combatividade na área mais suscetível a bandalheiras serão dinamitados. Estou de olhos abertos.
Há bandidos sociais que dizem entre amigos igualmente bandidos sociais que sou um jornalista com fixação no mercado imobiliário. É claro que eles têm que buscar alguma explicação mesmo que supostamente desclassificatória para me atingir, quando não lançar mão de jornalista vagabundo para produzir documentos apócrifos contra quem não lhes dá sossego.
Não existe surpresa alguma no fato de os mercadores imobiliários propagarem que tenho vocação crítica a uma atividade em que deitam e rolam. O mundo deles, dos mercadores imobiliários, é feito apenas de argamassa, de tijolo, de cimento, e de muito dinheiro, preferencialmente obtido com ações delinquenciais. Por isso mesmo são mercadores imobiliários, não empresários do setor imobiliário.
Patrulhamento total
Mas, voltando ao que interessa, vou tentar entender um pouco mais a dinâmica de pancadarias verbais dos jornalistas e radialistas mais corajosos da Capital porque só assim poderei avançar um pouco mais nesta Província.
Aqui há patrulhamento comandado por mandachuvas e mandachuvinhas que pretendem me calar, mesmo não sendo detentor de um léxico mais cortante para definir os contraventores. Bandidos sociais, mandachuvas e mandachuvinhas são refresco perto de verbetes e expressões utilizados na Capital.
Talvez o que explique definitivamente os motivos que me levam a não adotar linha tão agudamente rigorosa seja o que defini já faz tempo (e até um livro sobre o tema lancei, com tiragem esgotadíssima e ainda uma demanda reprimida que não sei como atender) como Complexo de Gata Borralheira.
Talvez, numa ironia do destino, eu mesmo, autor da expressão que virou livro, exercite o Complexo de Gata Borralheira ao refrear demais a linguagem com a qual deveria atingir mais e mais os bandidos sociais da região.
Será que removo o farol da cautela? Acho que não. Somos uma Província sem argamassa crítica. Aqui não se respeita jornalismo jornalista sério. Liberdade de opinião é miragem para alguns com poder de decisão judicial.
Falta mobilização para tudo na Província do Grande ABC. Não seria em defesa de um jornalista que não tem acerto com ninguém – e quem não sabe disso é vagabundo juramentado ou ignorante incurável – que haveria alguma mobilização em defesa da liberdade de opinião. Até porque as instituições locais, de OAB a Associações Comerciais, entre tantas outras, mal fazem para o próprio gasto corporativo. Na maioria dos casos são extensões dos donos do poder. Cidadania no sentido mais amplo do verbete é falácia entre os mandachuvas e os mandachuvinhas.
Vulnerabilidade demais
Chegamos a um ponto de vulnerabilidade institucional tão grave na região que até presidente da OAB, no caso Fábio Picarelli, numa ação conjugada com um contrato de representação de defesa da organização empresarial de Milton Bigucci, se prestou a atuar como testemunha de defesa do empresário notavelmente contraventor.
Sim, Fábio Picarelli atuou paralelamente com seu escritório em um caso de denúncia de irregularidade numa área adquirida pela construtora e a queixa-crime contra este jornalista. Uma queixa-crime movida porque exerci o direito de opinião. A argumentação que apresentei para dizer que Milton Bigucci não era um caso exemplar de presidente de uma entidade de classe foi confirmada pelo tempo.
Pois aqueles leitores que também consideram que perdi ou jamais obtive a forma ideal para combater o bom combate contra os bandidos sociais que infestam a região, esses leitores têm de entender que também concordo com a avaliação. O problema que precisa ser resolvido antes de dar uma guinada radical que me ombrearia a profissionais da Capital em contundência e indignação, é que a sociedade não pode continuar tão desorganizada e omissa.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)