Atenção senhores leitores, autoridades públicas, formadores de opinião, enfim, todos que conhecem da missa que vai se seguir muito mais que um terço: já que alguns de vocês, só alguns de vocês, desinformados de pai e mãe, acomodados por natureza e safadeza, acham que minha cruzada contra falsários estatísticos e interpretativos da situação do Grande ABC é questão pessoal contra um economista que não entende patavina de Grande ABC, que leiam os jornais de sábado sobre a Pesquisa Industrial Anual do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Os resultados, já antecipados há tempos, são um potentíssimo cruzado de realidade na mandíbula de ilusionismo, fantasias, mandraquismos e outros truques estatísticos de lesa-região do senhor João Batista Pamplona, autor da absurda tese de que o Grande ABC não sofreu empobrecimento industrial. Não só isso: ele simplesmente não admite provas em contrário, considerando-as ofensivas, desqualificadas, impróprias. Imperial, acha que o que fala em nome da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC é verdade e está acabado.
Repito a chamada: todos aqueles que acham que o caso é pessoal, porque essa é a fórmula mais covarde de evitar o debate franco e fundamentado, leiam o Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo de sábado, que deram manchete de páginas de Economia, ou mesmo o Diário do Grande ABC, que andou comprando as teses de Pamplona e, constrangido, trata o assunto com menos ênfase ao reproduzir material enviado pela Agência Estado.
A manchete da página B14 da Folha de São Paulo de sábado diz o seguinte: “IBGE constata interiorização da indústria”. O Estadão dá a seguinte manchete na página B4: “Indústrias deixam Sudeste para reduzir custos”. Não vou usar aqui a expressão de desabafo que de vez em quando uso quando meu time faz um gol sofrido e que vale título porque tenho respeito pelos leitores, mas que dá vontade de dizer, dá! E sabem por quê? Por que o Complexo de Gata Borralheira do Grande ABC é tão acintoso e insidioso que muitas vezes não adianta sair à frente (e sempre saímos à frente quando se trata de economia regional) com análises profundas sobre a economia do Grande ABC e da Grande São Paulo como um todo, que sempre haverá um infeliz a rosnar descaso, a contrapor mentiras estatísticas e a encontrar guarida na chamada grande mídia.
No final do ano passado, para combater a realidade dos fatos que divulgo sem rabo preso com quem quer que seja, o economista João Batista Pamplona, na condição de coordenador de pesquisas da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, vendeu para vários jornais diários a aberração de que a indústria da região manteve a riqueza nos anos 90. Utilizou para tanto dados de 1996 de uma pesquisa realizada pela Fundação Seade. Distorceu os números e enfeitou o pavão para ludibriar os incautos. E conseguiu, porque os jornais, todos, publicaram as bobagens sem qualquer preocupação de checar as informações. Como checamos e discordamos, com provas, o pesquisador se enfureceu.
O fato é que, pelo balanço divulgado sábado tanto pelo Estado quanto pela Folha, nem mesmo a traquinagem do economista de utilizar dados de 1996 e anunciá-los como atuais em pleno 2001 consegue se sustentar — como, aliás, antecipamos. Os artigos que Pamplona escreveu recheados de idiossincrasias contra este jornalista e os veículos de comunicação que represento devem ser atirados na lata do lixo mediante uma simples informação: a microrregião da Grande São Paulo que engloba Grande ABC, São Paulo e outros municípios, menos Osasco e Guarulhos, contabilizava 19,5% de participação no valor de riqueza industrial nacional gerado em 1996, que caiu para 13,9% no ano 2000 e, bem antes disso, em 1985, registrava 26,8%.
Perceberam que a derrapada foi de quase metade? Enquanto a Grande São Paulo despencava na indústria, tanto em valor de produção quanto em emprego (e Pamplona chegou ao acinte de afirmar que o desemprego no Grande ABC não caracterizava perdas industriais, vejam só caros leitores que trombam com a exclusão social em cada esquina!!!), o Estado de São Paulo como um todo mantinha-se quase estável. Caiu de 48% em 1985 para 45,5% em 2000. Graças ao Interior, como também estamos cansados de escrever.
Nos próximos dias vamos tentar retirar o Grande ABC da geografia da chamada microrregião da Grande São Paulo estudada pelo IBGE para mostrar o quanto tem de participação negativa na riqueza industrial no período de 1985 a 2000. Posso antecipar sem o menor medo de estar equivocado, diante dos dados estatísticos de que disponho, que a maior parcela de responsabilidade do mergulho de perdas da microrregião da Grande São Paulo é do Grande ABC. Por quê? Porque entre 1994 e 2000 (portanto, um pouco mais amplo do que o período pesquisado pelo IBGE) perdemos 16% de valor de riqueza industrial no Estado de São Paulo, enquanto a Capital, que representa 50% do valor de riqueza industrial da Grande São Paulo, cresceu 26%.
Certo mesmo, independentemente desse rastreamento que faremos, é que a viola de credibilidade estatística e interpretativa de João Batista Pamplona, que já estava em cacos, agora simplesmente virou pó. E com ele também todos aqueles que lhe deram guarida à frente da Agência de Desenvolvimento Econômico. O desmascaramento do pesquisador coloca-o a nocaute em qualquer tentativa de nos fazer calar, utilizando-se para tanto de subterfúgios linguísticos. Disso já tínhamos plena consciência, mas era preciso, infelizmente, que o gataborralheirismo fosse explicitado por uma instituição respeitada como o IBGE, na qual, aliás, nos miramos para consolidar nossas interpretações.
Como temos afirmado com frequência que os últimos seis anos foram os mais doloridos na história do Grande ABC, as informações do IBGE divulgadas pelos jornais nos conferem diploma de absoluto juízo. Senão vejamos um dado complementar: em 1996 a participação da microrregião da Grande São Paulo na produção industrial do Estado era de 39,5%, contra 30,8% em 2000. Um tombo de 28,2%, ou seja, quase um terço. Estamos sendo derrotados internamente no Estado de São Paulo e, como a Grande São Paulo está perdendo participação para o restante do Brasil, nossa queda se eleva no confronto nacional, que é o que vale de fato.
Sorte do pesquisador da Agência que suas bobagens numéricas e interpretativas não tiveram, pelo menos mensuradamente, efeitos semelhantes aos de engenheiros que assinam obras que se utilizam de métodos heterodoxos, como areia de praia como argamassa e que, por isso mesmo, não resistem ao tempo. Já imaginaram se os empresários recorrerem à Justiça contra as fanfarronices estatísticas e interpretativas de Pamplona? Certamente o economista teria sua carteira cassada. Também estaria em maus lençóis a Agência de Desenvolvimento Econômico se todos os empreendedores do Grande ABC que fracassaram em suas atividades ingressarem na Justiça sob alegação de que foram enganados pelo coordenador de pesquisas da instituição, com o beneplácito intencional ou não de veículos de comunicação que ainda não aprenderam a desconfiar de agentes públicos decididos a dourar a pílula.
Os números do IBGE, sobre os quais vamos nos lançar mais detalhadamente depois de novas informações que se fazem necessárias, exigem tomada de posição do comando da Agência, como se já não bastasse todo o histórico de irresponsabilidade estatística do coordenador de pesquisas da instituição, denunciado por este jornalista. A mais recente de suas peripécias foi, como se sabe, a chamada Passe/ABC, que trata do setor de serviços empresariais na região. Aquele amontoado de bobagens, simplesmente surrado por este jornalista, é uma agressão a quem empreende e vive no Grande ABC.
Não é difícil compreender os motivos que levaram João Batista Pamplona a perpetrar documentos que pintam o Grande ABC com as cores do arco-íris, quando se sabe que o mar não está para peixe. Especulações sobre a origem de suas fantasias não faltam. O que não se compreende — desclassificada a tese imbecil de motivações pessoais deste jornalista — é sua manutenção à frente daquilo que é uma verdadeira vitrine da instituição, ou seja, a atividade de analisar a realidade econômica do Grande ABC.
Já que o Complexo de Gata Borralheira não permitiu que se enxergasse a verdade, ou que se desse à realidade um tratamento mais digno, que o IBGE sirva de lição para todos aqueles que de uma forma ou de outra ajudaram a alimentar esse monstro de alquimias. Ou, então, que o pesquisador tente calar, também, o órgão do governo federal.
O senhor João Avamileno, prefeito de Santo André e diretor-geral da Agência, não tem mais por que deixar a instituição sob os cuidados do pesquisador. O IBGE acabou de vez com a desculpa esfarrapada de manter indefinidamente um profissional que estaria sendo vítima de perseguição. A integridade moral e profissional à frente dos veículos que dirijo não me permitiria protagonizar picuinhas particulares. O que está em jogo é a credibilidade da Agência, organismo importantíssimo para a recuperação econômica do Grande ABC.
Não se deixe acomodar, caro João Avamileno. Nossas condolências, caro João Batista Pamplona. Como se vê, assim como não é preciso ser ou ter sido jogador de futebol para entender o que se passa nas quatro linhas, também não é necessário ser economista para entender de economia. Aliás, às vezes ser economista atrapalha, porque se preferem gabinetes climatizados ao chão batido da realidade.
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12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES